Capítulo 35: Lar

2.8K 488 556
                                    

Lucas

Acordei sentindo minha cabeça latejar e uma dor enorme em minhas costas denunciava a noite mal dormida. Acabara por dormir encostado na árvore, "livre" para receber qualquer picada de mosquitos. Soltei um longo suspiro e fiz um esforço enorme para levantar. Peguei a garrafa de água e bebi o pouco que ainda restara. Ao acabar, chorei mentalmente por perceber que não havia nada que saciasse minha fome.

Comecei a andar pela floresta, sem rumo. Meu corpo estava cansado, dolorido e parecia que eu mesmo não estava me aguentando, mas eu precisava encontrar ajuda, por mais que demorasse, literalmente, o dia inteiro.

Pareceu ter passado horas até que eu desistisse e parasse para descansar. Talvez ficasse andando fosse inútil e piorasse minha situação.

Pensei em como estaria os meus pais. Será que minha mãe já sabe a verdade sobre Anthony? Será que eles continuam indiferentes um ao outro? E os meus amigos?

Fechei os olhos e me concentrei no som ao meu redor. Eu estava sozinho, isso era fato, mas mesmo assim eu sentia que aquele gesto pudesse ajudar-me. De repente, ouvi algo. Foi quase imperceptível, mas mesmo assim, era algo. Ouvi um som parecido novamente. Pareciam carros...

Abri os olhos, imediatamente, e comecei a andar novamente, com o pouco de forças que me restava. Cambaleei e quase caí diversas vezes, mas segui a direção do som e sentia que a cada passo estava mais perto do meu lar. Em um certo momento, avistei um tipo de pista há alguma distância. Metros, apenas metros, vamos lá!

Encorajei-me e, por mais ofegante e necessitado de água eu estivesse, caminhei até lá e, quando finalmente cheguei, não aguentei mais o peso do meu corpo e acabei por cair. Vinha um carro em minha direção, mas a única coisa que eu ouvi antes de ver total escuridão, foi som de freios.

✝ = ❤

Acordei com uma luz forte em meus olhos. Esforcei-me para acostumar com a luz, enquanto tentava lembrar do que tinha acontecido. Depois de ter desmaiado, era como se, ao mesmo tempo que estivesse desacordado, podia ouvir vozes distantes. Ouvi alguém falar comigo, tentar me acordar e até mesmo um choro. Alguns pareciam ser conhecidos, mas minha mente estava tão cansada que não me esforcei para reconhece-los, então acabei me entregando totalmente ao cansaço.

Ao meu lado, o monitor cardíaco marcava as batidas de meu coração, a pintura branca das paredes também me ajudaram a deduzir que eu estava em um hospital.

Ouvi a porta ser aberta, porém minha cabeça doía tanto que não olhei quem era.

- Meu filho, graças a Deus! - a voz da minha mãe tomou todo o quarto e ela correu para me abraçar. Senti um pouco de dor, mas não reclamei. - Ah, perdão! - sua voz estava embargada e seus olhos vermelhos, denunciando o choro e o cansaço dos últimos dias. - Você sente alguma dor? Quer que eu chame o médico?

- Estou... - minha voz falhou e eu pigarreei para retomar a fala. - Minha cabeça e meu corpo dói.

- Você estava machucado e com alguns hematomas. - contou. - O médico disse que você estava prestes a ter anemia ou hipoglicemia, precisa se alimentar bem esses dias e tomar alguns remédios para se recuperar.

Soltei um suspiro.

- Há quantos dias você não se alimenta? - perguntou, receosa.

- Só comi uma vez desde o sequestro. - respondi e a mesma permitiu que as lágrimas caíssem por seu rosto.

- Meu filho, me desculpe... - disse com a voz embargada. - Eu não acreditei em você, tudo isso é minha culpa, você não deveria ter passado por isso, faria de tudo para que fosse eu em seu lugar e...

Confiaremos | Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora