Capítulo 42: Esperar e confiar

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Lucas

Tudo parecia estar cinza ao meu redor. Enquanto esperava na sala da recepção, flagrei-me pensando em tudo que já aconteceu em minha vida. Se me dissessem há uns dois anos atrás que eu estaria aqui, abatido e impaciente, após meu pai levar um tiro por mim, certamente eu iria rir e afirmar que a pessoa que dissera isso era completamente maluca. Eu não acreditava que meu pai tivesse amor por mim, tampouco acreditava que ele chegava a se importar comigo. Eu via o meu pai apenas de uma forma: um homem quebrado, que teve sua vida destruída por conta do álcool e que era incapaz de mudar. Só que eu não o via mais dessa forma há muito tempo. Ele mudou, recomeçou sua vida e prometeu ser um pai de verdade para mim. Mas, novamente, eu estou na situação de sentir que poderia perder o meu pai.

Já fazem cerca de duas horas que levaram o meu pai para a emergência e anunciaram uma cirurgia. Alguém ligou para a minha mãe e avisou o acontecido, ela chegou a mais de uma hora e meia. Eu mal sabia quem estava naquele hospital comigo, afinal, eu não conseguia raciocinar direito. Alguns paramédicos tiveram que me dar um calmante para que eu pudesse ficar menos agitado, porém o remédio só serviu para que eu chorasse em silêncio, sem gritar ou fazer algo do tipo. Quando cheguei no hospital, apenas sentei em uma das poltronas da sala de espera e chorei, olhando para um ponto especifico. Minha mãe e meus amigos tentaram conversar comigo, mas meu silêncio os fizeram desistir de um diálogo. Ou melhor, meu silêncio deixou claro que, de fato, não existiria um diálogo.

Talvez eu estivesse sendo injusto e chato em ignorar a ajuda e consolo das pessoas, mas é que eu simplesmente não conseguia falar alguma coisa, apenas sentia vontade de ficar sozinho com os meus pensamentos.

— Lucas. — ouvi a voz de minha mãe, porém não a olhei. Permaneci com o olhar fixo em uma cadeira qualquer da recepção. — Filho, fale alguma coisa. Já fazem quase duas horas que você está aí, quietinho, já estamos preocupados.

— Eu estou bem. — consegui dizer. Minha voz saiu embargada, porém eu não estava chorando, visto que já tinha chorado o bastante.

— Não, não está. — ela segurou em minha mão, tentando me passar segurança. — Onde está a sua fé, Lucas? Aquela linda fé que sempre está refletida em seus olhos?

— Eu... — balbuciei e balancei a cabeça. — Não sei onde ela está.

— Não a perca agora, Lucas! — afirmou e eu a olhei. Seus olhos estavam firmes. — Não a perca quando você mais precisa! Os paramédicos podem ter falado que seu pai estava morrendo, mas quem dá a última palavra é Deus, somente Ele determinará se seu pai viverá. Eles não tem direito de ditar quem vive e quem morre, apenas Ele!

Senti meus olhos marejarem e a olhei, sentindo-me mais certo.

— Eu sei disso. — respondi e ela abriu um sorriso fraco. — Só é difícil passar por tudo e ainda tentar ser forte.

— Você não precisa ser forte sozinho. — ela segurou em minha mão. — Nós estamos aqui para te ajudar!

— Obrigado, mãe. — ela me abraçou de lado. — O que... — hesitei um pouco, antes de terminar. — O que aconteceu com Anthony? Ele foi pego?

Minha mãe ficou um tempo em silêncio, antes de responder.

— Eu não te disse antes porque você estava muito abalado. — iniciou. — Mas ele não conseguiu escapar da polícia. Ele tentou fugir de carro, mas acabou sofrendo um acidente após colidir com um outro veículo. — eu a olhei, surpreso. — O carro dele capotou algumas vezes e a ambulância conseguiu resgata-lo, porém ele não sobreviveu.

— Deus não compactua com injustiças. — murmurei, ainda surpreso com tamanho fato. — Eu ainda tentei fazer o Anthony mudar de ideia, falei que Deus poderia dar uma nova chance para ele, mas o mesmo não me ouviu...

Confiaremos | Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora