4 ¶ Cliente novo

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Acordei com o sol adentrando pelas janelas. O vento uivante fazia com que as cortinas brancas rodopiassem pelo quarto, o ar fresco e o intenso calor vinham juntos. Estiquei-me sobre a cama, me espreguiçando. Olhei o relógio sobre o criado-mudo ao lado da cama. Era um relógio em formado de flor, amarelo. Marcava 07h30 da manhã, a hora exata para levantar.

Quando desci para a cozinha meu irmão já estava acordado e preparava o café, para minha imensa surpresa. Ele não era muito matinal, nem mesmo gostava de cozinhar. Mas parece que algum tempo fora de casa o fez mudar certos hábitos. Estava diferente, um pouco mais radiante do que o habitual. Nunca fomos muito unidos, mas nos dávamos bem; na maioria das vezes.

— Acordou cedo. — observou ao me ver parada na soleira da porta.

Arqueei um lado das sobrancelhas.

— Esse é o único horário que acordo.

Daniel me encarou como se tivesse acabado de levar um tapa. Não foi minha intenção ser fria ou rude, é só que... eu não sabia mais como lidar com sua presença constante.

— Acho que não conheço mais sua rotina. — comentou, sem graça. — Por que não aproveita e me conta sobre ela?

— Definitivamente... não.

Daniel deixou a frigideira de lado e foi a geladeira em busca do leite.

— Apenas seja gentil e tome café comigo. — me olhou por cima do ombro. — Ou é um sacrifício que não está disposta a fazer?

Suspirei, adentrando mais na cozinha. Ele fritava ovos e havia feito panquecas. Belisquei uma delas, saboreando-a.

— Isso está bom... Quando aprendeu a cozinhar? — perguntei, erguendo o olhar para ele. Daniel ainda me analisava, parado em frente ao fogão. — Esses ovos vão queimar se não apagar o fogo. A não ser que ovo queimado esteja no cardápio.

Daniel e eu éramos muito parecidos. É claro que havia uma diferença de idade, ele tinha 27 e eu 17 anos, mas exceto isso, poderíamos ter sido gêmeos. Ele possuía os cabelos loiros e ondulados como os meus, os olhos castanhos e o corpo meio magro. Poderia ser considerado bonito, diferente de mim que mais se parecia com uma osga.

— No início o Youtube foi meu professor. Após algumas semanas conheci uma garota que tinha mãos de fada e que fez a enorme gentileza de me ensinar. — contou enquanto despejava ovos no prato. — Não é grande coisa mas já é um bom começo.

O cheiro rapidamente se instalou na cozinha de forma prazerosa.

— O que mais aprendeu por lá, além de ovos mexidos e panquecas? — perguntei enquanto lançava uma grande quantidade de panqueca na boca.

Estava realmente delicioso.

Deu de ombros. Sentou na banqueta a minha frente e saboreou seus ovos mexidos com leite. Uma mistura meio que estranha.

— Confesso que não aprendi muito. Logo ela me pegou com outra e me deu um pé na bunda de se dar os parabéns. — contou, como se fosse a coisa mais normal do mundo. No mundo dele, realmente era. — Foi uma pena... eu gostava do tempero dela, e das aulas, é claro.

Sim, meu irmão era um safado nato. Um tremendo babaca e imbecil. Lembro que quando nossos pais ainda eram vivos, constantemente reclamavam do fato dele sempre estar com uma garota diferente a cada semana. Até hoje algumas dessas garotas me odeiam por culpa dele. Pobres meninas.

— Isso é bem do seu feitio. — resmunguei. Daniel me encarou com uma das sobrancelhas arqueadas, mas não rebateu nada. Nos tornamos dois desconhecidos tentando se conhecer.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora