Após muito tempo, acordei e não me olhei no espelho, não precisei confirmar se eu estava viva. Acordei com a certeza que sim. Às vezes é preciso esquecer o passado para que se tenha um futuro, e foi justamente por isso que quando sai da cama, meu primeiro ato de coragem foi entrar no meu closet e finalmente escolher a melhor tela pintada por mim.
Em algumas horas estaria embarcando em um avião com destino à Moscou, e tudo que precisava era de uma mala de mão e uma tela. Nada mais.
Uma gélida chuva caía ao lado de fora, gotas se arrastavam pela janela, trilhando seus caminhos até desaparecerem. As cortinas arrastadas para o lado me deram a perfeita visão do vidro embaçado. Sentei-me ao lado da janela para desfrutar um pouco da música que a chuva cantava.
Despertei daquele maravilhoso silêncio quando uma batida na porta me interrompeu. Não me surpreendi por ser Daniel. Enfiou apenas a cabeça entre a brecha, olhando-me com seus lindos olhos castanhos que brilhavam de maneira discreta. Ele sorriu abertamente. O sorriso que eu já tinha visto antes.
— Bom dia! — cantarolou, estranhamente eufórico. — Como foi ontem? Chegou e eu já estava dormindo, então não pude perguntar.
Dei de ombros, nada entusiasmada.
— Foi bom.
— Só bom? — indagou, abrindo mais a porta para poder entrar. Veio até mim, sentando cama. — Não se divertiu?
— Na verdade, me diverti bastante. — respondi, sorrindo. — E você? Como foi sua noite com a Katie?
Devo ter esquecido de mencionar que na noite passada, quando Katie terminou de me ajudar, Daniel a convidou para um jantar. Nada romântico. Apenas um jantar amigável para que pudessem se desculpar pelas burradas feitas. Ela aceitou de imediato já que também possuía culpa no cartório.
Pelo sorriso largo pude constatar que havia sido uma boa ideia.
— A gente discutiu um pouco mas acabamos nos entendendo. Falando nisso... — olhou a porta entreaberta, meio inquieto. — Se incomodaria se ela viesse tomar café aqui?
Neguei.
— Não. Por mim tudo bem. — assentiu, contente. Mas algo em sua expressão causou um embrulho no meu estômago. — Desembuche, Daniel. O que mais?
— Connor. Ela pode trazê-lo? — indagou, apreensivo.
Suspirei, meus planos de me manter longe vinham falhando tragicamente.
— Sua última tentativa de "paz" não deu muito certo. — lembrei. — O que te faz pensar que será diferente agora?
— Talvez se me prometer não socá-lo ou fazer algo próximo a isso, dará. — brincou. — Será que consegue ficar no mesmo cômodo que ele?
Essa era uma boa pergunta.
Eu conseguia?
O problema não era me segurar para não socá-lo. O problema era me segurar para não despejar o que vinha sentindo, o que vinha me atormentando nesses últimos dois dias.
— Ele concordou com isso?
Daniel sorriu.
— Ele prometeu não fazer nada estúpido.
Hesitei.
— Então também não farei nada estúpido.
Como assim eu não faria nada estúpido?
Aceitar aquilo já era uma total estupidez!
Daniel assentiu enquanto sorria. Levantou da cama e rumou à porta, mas parou antes de sair. O conhecia bem para saber que sua inquietude significava algo.
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Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)
RomansaRomance/Drama. Ame Brooks é uma garota de 17 anos que passou boa parte da sua vida sofrendo nas mãos de Connor Rivers, um garoto da sua escola que sempre fez questão de humilhá-la em público. Mas tudo passa a mudar quando Ame conhece Scott, um recé...