36 ¶ Hospital.

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Connor Rivers •

Todos nós temos um demônio interior. Alguns dias, você o controla. E em outros dias, ele controla você. Há vezes que você não sabe se cede ou luta.

Um dia tudo começou a dar errado pra ela. Ame se afastou dos amigos e do irmão. Adquiriu novos caminhos para passar pela solidão. A vida não fazia mais sentido. Ninguém entendia, ninguém enxergava que dentro dela, um mundo vazio e sombrio explodia. Que aquilo a matava; não o corpo, mas a alma. E se a pessoa perde a alma, então ela perde tudo.

Se me perguntarem o que foi que aconteceu, não saberei bem ao certo o que responder. Não saberei explicar como tudo ocorreu tão depressa, como fui pego de supetão por um sentimento estranho que me fez fazer coisas que jamais cogitei fazer. Coisas como: Ajudar Ame Brooks.

Era um dia triste pra mim, embora fosse meu aniversário. Era uma data que me lembrava o por quê de ter que comemorar sozinho. E justamente nesse dia aconteceu o improvável.

Ame estava sentada ao meu lado, no banco do passageiro, e apesar de não estar me olhando diretamente, eu sentia sua atenção sobre mim. Eu mal sabia como agir perto dela, ou o que fazer para por um fim naquele silêncio constrangedor que eu vinha odiando.

Eu amava o silêncio. No silêncio, é difícil evitar certas coisas. Fica tudo evidente. E você não consegue se livrar.

O que diabos estava acontecendo comigo?

Reconstruir os cacos depois de uma queda tão bruta não é tarefa fácil. É como quebrar um copo no chão e ver milhares de pedacinhos minúsculos voando para todos os cantos. Como consertar? Como juntar cada pedaço em seu perfeito lugar? Como um simples copo a gente vai lá e joga fora. A gente compra outro. A gente substitui. A gente troca. Mas e quando o que se quebra não é um objeto, mas sim uma pessoa?

Ame Brooks estava quebrada. E eu era a última pessoa nesse mundo que podia consertá-la.

— Já estamos chegando? — sua voz baixa interrompeu o silêncio.

Ame abria e fechava os olhos com dificuldade, como se lutasse para não cair no sono profundo.

— Em cinco minutos. Fique acordada.

Respirou profundamente.

— E como faço isso? Quase não consigo respirar! — grunhiu entre uma tosse.

Ergui as sobrancelhas e a olhei.

— Como não consegue respirar? — questionei, sem demonstrar preocupação. Ame também me olhou. Apesar de estar com a aparência abatida, eu percebi o sorriso no canto da boca.

— É apenas um modo de falar.

Ela rolou os olhos. Ela estava mesmo rolando os olhos?

Argh!

— Tudo bem... Que tal parar com esse modo de falar por hoje? Já tivemos muitas surpresas desagradáveis.

Sim, eu estava bem irritado por ela ter feito isso, ainda mais no meu banheiro, onde qualquer um poderia ter entrado e a encontrado. Honestamente, me sentia mais decepcionado que chateado. Ela poderia ter ferrado com a minha vida se outra pessoa, e não Sofia, tivesse à visto. Suspirei, pressionando meus dedos em volta do volante com toda a força que possuía. Não era hora e nem momento para despejar minha raiva sobre ela. Continuei com a atenção focada no trajeto que fazíamos, no intuito de acalmar os nervos.

Céus, estou muito ferrada.

Naquele momento, me arrependi amargamente por não ter trazido Sofia e Kent junto, assim eu não precisaria ter que conversar com ela, ou olhá-la. Só precisaria dirigir.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora