52 | Insegurança.

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Já dizia Shakespeare "Há mais perigo em teus olhos do que em vinte espadas!"

Algumas vezes... só algumas vezes, você carrega seu mundo nas mãos. Segura tudo aquilo que te faz feliz com os dedos e nem ao menos toma cuidado para não deixar cair.

Connor era esse embrulho delicado e frágil que eu precisava segurar com cuidado porque, se deixasse cair, estragaria o pacote. Eu tinha que ter cautela quando se tratava de demonstrar meus sentimentos, aquela desconfiança de que ele escondia algo me deixava sempre com um pé atrás. Nunca conseguia ficar totalmente relaxada ao seu lado.

Com o passar dos dias Connor e eu nos tornamos aquele segredo esperando a hora de ser revelado. Ninguém sabia sobre nós. Ninguém fazia ideia dos nossos encontros às escondidas atrás da escola, no horário de aula, nos corredores vazios. Havia se passado uma semana desde o episódio no jogo e na frente de todos agíamos como dois desconhecidos. Era uma luta árdua passar por ele todo dia no corredor e não poder nem ao menos olhá-lo diretamente nos olhos. Mais difícil ainda era ter que ouvir os comentários das outras garotas sobre ele.

Mas o amor é como um precipício. A gente se joga nele... e reza pro chão nunca chegar.

— Ame, será que pode terminar de organizar o estoque hoje? Estou com uma dor forte nas costas. — Sr. Finn disse ao se aproximar.

Eu estava escorada atrás do balcão limpando a bancada enquanto Molly atendia uma mesa e Rebecca preparava café.

— Já pensou em ir ao hospital? — perguntei, preocupada. Há alguns dias ele vinha reclamando dessas dores. Sr. Finn balançou a cabeça em negação.

— Isso é sintoma de velhice, criança. Hospital algum irá resolver. — brincou.

Coloquei as mãos na cintura, deixando nítida uma desaprovação quanto a isso.

— Ainda assim deveria ir. Pode ser sintoma de velhice, ou pode ser consequência das vezes que forçou demais sua coluna ao passar muito tempo carregando caixas pesadas.

Sr. Finn revirou os olhos em teimosia.

— Por que minhas funcionárias não podem simplesmente fazer o que peço sem argumentar? — questionou, rindo.

Coloquei a mão em seu ombro.

— Porque nos importamos com você. — falei, séria. — Agora vá! Deixe que eu termino de arrumar o estoque.

Esperei Sr. Finn sair do meu campo de visão para ir até seu escritório, e então segui rumo ao depósito. O lugar estava uma bagunça, caixas abertas espalhadas pelo chão, latas de óleos jogadas em um canto, de leites e de manteigas em outro. Suspirei ao me dar conta do trabalho que teria. Comecei a organização pelas caixas de leites, arrumei tudo em uma das prateleiras, então passei para as de óleos e em seguidas para as de manteigas. Ajeitei as caixas em um canto para levar pro lixo no fim do meu turno. Ao terminar retornei ao balcão.

Meu coração falhou uma batida ao colocar os olhos numa cabeleira escura.

Connor.

Sentado em uma das mesas ao lado das janelas. Não estava sozinho. Em sua frente, Hayla.

Quando, afinal, ele colocaria um fim na relação deles?

— Quer que eu os atenda? — a voz da Molly fez com que eu desviasse o olhar. Juntei as sobrancelhas, confusa. — Connor e a namorada dele. Quer que eu os atenda?

Molly havia prometido que iria atender Connor nas próximas vezes que ele viesse, como uma forma de se desculpar pelas "atrocidades" que me fez passar. Se fosse em qualquer outro momento eu nem cogitaria a ideia de ir até lá. Mas eu precisava. Precisava olhar nos olhos dele e entender o que ele pretendia com aquilo.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora