24 ¶ Entre família

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Pessoas mentem. Sorrisos enganam. Olhares iludem.

Passaram-se minutos sem que ela dissesse algo; uma desculpa, ou um sinto muito, talvez uma explicação sensata para toda aquela loucura incabível. Após minutos olhando-a diretamente nos olhos, não fui capaz de acreditar no parentesco com a família Rivers. A pior apunhalada não é a que vem de pessoas más, mas de pessoas que sempre julgamos boas.

Como ela, não soube como reagir, minha garganta parecia ter reprimido qualquer palavra. Minha mente se formou num turbilhão de sentimentos e não consegui formular nada.

Scott colocou um fim no silêncio ensurdecedor.

— Mora aqui também? Nunca vi você com o Connor... Digo, sempre vou com o time na casa dele e nunca tem ninguém, ou sinal de que mora mais alguém. — comentou, curioso. — Não que isso seja da minha conta.

Bingo! Era uma pergunta que eu queria saber a resposta.

Katie se remexeu na cadeira, soava desconfortável com o breve interrogatório. Ela se negava a me olhar diretamente nos olhos. Eu mostrei o abismo dentro de mim pra ela. Katie viu tudo sobre mim; minhas fotos com o Dexter, o quadro que pintei dele, a saudade que me esmagava... E simplesmente não disse a verdade. Isso foi o que mais me magoou. Eu precisava respirar. Precisa tirar aquele sentimento sufocante do peito. O peso morto.

— Cheguei há pouco tempo na cidade, Connor e eu não nos damos muito bem... Não achei que seria uma boa ideia morarmos juntos no momento. Aluguei um apartamento no centro.

Scott riu, me olhando sorrateiramente.

— Não me surpreende vocês não se darem bem... — retrucou, sarcástico. — Sem querer ofender, mas ele é um tremendo filho da p#.

— Scott! — o repreendi, inesperadamente.

Só me dei conta do que havia feito quando dois pares de olhos caíram sobre mim. Scott franziu o cenho enquanto Katie arqueava as sobrancelhas.

E o clima não podia ficar mais estranho.

Só que poderia sim.

— Gente, me desculpem! Tive um imprevisto no meio do caminho, um doido varrido passou na minha frente e acabou atropelando um ciclista, o que causou uma confusão.

Todos nós olhávamos para o Daniel com uma expressão de alívio por ele ter chego despejando algo que mudaria o rumo da conversa. Katie sorriu, o recebendo com um beijo.

Percebi que ela era boa em disfarçar. Em atuar.

— Ninguém mais se machucou? — perguntou, preocupada. Daniel deu de ombros, tirou o terno e o pendurou no braço da cadeira.

— Não que eu saiba. Se tivesse ficado para ajudar talvez nem chegasse a tempo, e provavelmente vocês comeriam meu fígado. — brincou. Daniel olhou para o Scott, notando sua presença. — Você deve ser o namorado da minha irmã.

Juro que me engasguei. Não tinha líquido algum descendo pela minha garganta, então foi com minha própria saliva. Quando terminei de "engasgar", o enviei um sorriso fatal. Eu o mataria depois.

— Não, Daniel! Scott não é meu namorado. Somos só amigos!

Daniel pareceu confuso, mas não argumentou.

— Mas vocês formariam um belo casal. — Katie acrescentou. Desnecessário.

Scott tocou meus cabelos, presos numa trança. Aquilo era novo.

— Bom, estamos trabalhando nisso.

Foquei nele, e esqueci do restante. Eu não sabia bem o que sentia por ele, nunca o vi de outra maneira se não minha chave para o paraíso. Mas ao ouvir aquelas palavras, senti algo incomum acontecer dentro de mim. Um embrulho no estômago, um embrulho diferente, uma sensação estranhamente boa, sabe?

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora