61 | A carta que você deixou.

3.2K 359 250
                                    

Vou logo avisando, essa não foi uma história de amor, essa foi a minha história. Desculpa se te decepcionei ao fazer você deslumbrar um final feliz, mas essa é a realidade, certo? Finais felizes nem sempre acontecem. O final só é feliz quando ele não existe.

Basta tentar tirar sua vida uma única vez para que isso forme a opinião das pessoas sobre você. Elas nem sempre vão compreender ou te ajudar, muitas irão julgar e até te atacar com palavras ofensivas. Dar uma de moralista pra cima de você. Mas quer saber de algo? Elas, em algum momento, já sentiram o mesmo vazio que você, a mesma dor, só não tiveram coragem, ou forças para fazer o que você fez. E se disserem que nunca sentiram, então sorte, bom pra elas, parece que alguém no mundo tem a vida perfeita, afinal. "Vida perfeita'', não, não é o perfeito que está imaginando agora, até porque ele não existe. É um perfeito fora de compreensão. Um perfeito que só elas sabem definir. Eu não sei, talvez nunca saberei já que marquei meu passado sendo uma suicida.

Veja, não morri de verdade, e percebi isso ao acordar no dia seguinte. Mas ao encarar todos aqueles pares de olhos e receber a notícia que tinham para me dar, eu morri por dentro.

Dizem que ninguém morre por amor. Será mesmo? Penso que existe muitas formas de morrer. Eu não morri no sentido literal, mas morri no emocional. Qualquer coisa é possível até seu coração parar de bater.

Eu não estava pronta para perdê-lo. Mas o perdi mesmo assim. A probabilidade nunca nos ajudou muito, já que nosso encontro provavelmente geraria uma overdose. Atingimos o limite. Isso ficou tão claro das últimas vezes. Nos amávamos intensamente entre quatro paredes, só que fora delas o final sempre era o mesmo: nós dois indo em direções opostas.

O beijo, o olhar e o toque foi um misto de dependência, com desejo e medo. No fim, resultou num experimento químico que não deu certo. Nós dois nos entorpecíamos da mesma forma que nos intoxicávamos.

Deixei de ser fã de coisas alto destrutivas.

Ao receber a notícia da partida do Connor, cai numa gargalhada alta antes de me aprofundar no choro. Ele não foi a primeira pessoa a ir embora sem um por quê. De qualquer maneira, eu já devia ter aprendido que quase ninguém fica.

Uma semana se passou desde a noite da formatura, e eu ainda verificava meu celular a cada dois segundos na esperança de encontrar alguma ligação, ou uma mensagem que me dissesse exatamente o que eu queria saber: Por onde ele andava? O que fazia? Com quem estava?

Essas perguntas me enlouqueciam toda vez que ficava a sós com minha mente conturbada. Saber que ele partiu doeu. Doeu pra cacete. Doeu tanto que as pessoas ao meu redor sofreram junto a mim. Eu poderia arremessar meu coração inúmeras vezes de um penhasco (talvez o que ele me levou), e ainda assim, a dor, o estrago que fosse causado, não chegaria nem perto do que senti com sua partida.

Quando meu coração pensava em dar uma batidinha mais acelerada, ele já lembrava dele e desanimava. Era foda, entende?

Duas semanas depois, no meu aniversário de 18 anos, fui ao lugar onde fomos felizes pela última vez. Consegui sair do campo de visão de Sofia. Ela vivia me ligando, mandando mensagem e me visitando. O receio de que eu pudesse me machucar era notável. Mas eu não me machucaria de novo. Não. Não faria isso.

Fui a casa do lago, a neve cobria o lugar, completamente silencioso e frio. A paisagem que obtive não passou de uma pista de gelo e um céu nebuloso e chuva de flocos gélidos. Aquilo era eu por dentro.

Fui a essa casa por duas semanas seguidas. Apesar de quase congelar, eu ficava lá, estagnada no lugar, encarando o nada com o colar que ele havia me dado. Aquele pingente de floco de neve soava até uma piada em minhas mãos. Eu sentia raiva dele, sentia saudades... Arremessava o colar para longe, mas logo me arrependia e saia a sua procura.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora