19 ¶ Pizzaria

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Novo.

Viver novas experiências pode ser inspirador e muito renovador. A gente nunca acredita em segundas chances, sei que por vezes deixamos de fazer algo porque aceitamos o que a vida nos tem dado. Talvez eu merecesse mais do que uma adolescência cruel, ou talvez eu não merecesse, não importava muito. O fato é: Precisamos acreditar que merecemos mais. E lutar por isso.

Então nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que tem.

Sofia havia me convidado para acompanhá-la numa exposição de artes que estava acontecendo no museu contemporâneo local. É claro que aceitei sem pestanejar, seria a primeira vez que sairíamos juntas e nada melhor do que uma exposição da qual eu queria ir muito. Ela se entreteve com alguns livros de literatura de grandes escritores da época medieval, enquanto eu passei a maior parte da noite na sessão de telas, onde grandes pinturas eram expostas ao público.

Assim que a exposição chegou ao fim, resolvemos ir à uma pizzaria. Sofia morava por perto então conhecia a área. Fomos caminhando, jogando conversa fora e tentando nos conhecer melhor.

— O que achou da sessão de telas? Parecia bem animada. — comentou ao nos aproximarmos da pizzaria. — Mas tive a impressão de que não gostou tanto das pinturas nelas.

Olhei para o grande letreiro na fachada luminosa antes de voltar minha atenção para ela. Ela vestia uma saia rodada até os joelhos com um cropped preto e os cabelos loiros amarrados num coque bem feito. Já eu, como sempre, coloquei uma calça jeans preta, uma camiseta branca e minha jaqueta bege por cima. Eu não era bem o sinônimo de estilo, mas também não era de breguice. Poderia dizer que me vestia bem quando queria, mesmo que nunca descartasse a calça e a jaqueta.

— Na verdade eu gostei, gostei muito. Eram boas e retratavam alguns temas bem fortes. — a olhei. — Só não levaria para casa.

Se um artista não expõe sua arte, então ele não é um artista de verdade.

Sofia sorriu enquanto empurrava a porta dupla da pizzaria para que entrássemos. O som das conversas altas preencheram nossos ouvidos de modo extasiante.

— O que gosta de retratar nas suas telas? Que tipo de obra penduraria na sua parede? — indagou, parecendo interessada no assunto.

Era legal conversar com ela sobre isso, sobre interesses que tínhamos em comum. Após tanto tempo de amizade estávamos chegando a um ponto do qual eu não revirava os olhos a cada frase que saía da sua boca.

— Meu foco são pessoas. — contei ao seguí-la dentro da pizzaria. — Gosto de pensar que retrato numa tela tudo o que elas não conseguem ver em si mesmas quando se olham no espelho.

O lugar estava repleto de pessoas, as conversas eram ouvidas a quase um metro de distância, os risos e gargalhadas altas, uma música latina da Becky G tocava no fundo. Sofia e eu passávamos por várias mesas vazias, mas nenhuma parecia chamar sua atenção. Eu nunca tinha saído com ela então não tinha ideia do que ela procurava.

— Se fosse me retratar, como seria? — perguntou ao avistar algo do seu interesse no fundo da pizzaria.

O delicioso cheiro de pizza me fez soltar suspiros.

Refleti sobre sua pergunta. Se eu fosse retratar a antiga Sofia, seria ela em pé sobre uma esteira tentando decidir entre uma bolsa da Michel Kors ou sua grande paixão, Chris Evans. Bom, posso apostar que ela escolheria a bolsa. Mas essa nova Sofia, essa que ouvia mais do que falava, essa que se importava com alguém além de si mesma, dessa eu ainda não tinha uma opinião formada.

Por fim dei de ombros.

— Não sei.

— Aqui! A mesa perfeita! — exclamou, puxando uma das cadeiras ao lado da janela para sentar.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora