40 ¶ A casa na floresta.

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Me senti renovada ao levantar no dia seguinte. Meus braços já não estavam enfaixados, muito menos minhas mãos. Mas haviam pequenos e discretos curativos nos dois. Dr.ª Juliana veio me ver pela manhã para confirmar minha ida ao seu consultório nas próximas semanas. Me entregou seu cartão para que eu ligasse sempre que precisasse, sempre que quisesse conversar. Me aconselhou também a dar uma oportunidade para o mundo. Outra oportunidade.

Daniel viria me buscar, mas por conta de alguns imprevistos no trabalho teve que pedir para Sofia. E a mesma chegou cedo com um sorriso de orelha a orelha. Nem ao menos foi pra aula com a desculpa de que estava com um resfriado daqueles que te deixam de cama por três dias.

— Quando sairmos daqui vamos ao shopping? — perguntou, empolgada. — Podemos passar o dia andando por lá. Fazer algo divertido, pra variar.

A olhei de soslaio enquanto recolhia os ursos e flores que haviam me dado. Até o Sr. Finn se deu ao trabalho de enviar uma caixa de bombom. Caixa essa que foi devorada por Sofia.

— Sabe que não gosto de shopping, Sofia.

— A antiga Ame não gostava... Mas a nova já ama! — exclamou, divertida. A olhei, curiosa. Seus olhos brilhavam, sem vestígio de tristeza.

— Ainda continuo a mesma.

Balançou a cabeça em negação.

— Escuta, hoje é sábado e o dia do baile, você prometeu que iria, lembra?

Franzi o cenho.

Já era sábado?

Deus, já era sábado!

— Sofia...

Emburrada, cruzou os braços, desviando o olhar para a parede.

— Não! Não me venha com desculpas esfarrapadas!

— Como quer que eu apareça desse jeito? — indaguei, mostrando meus pulsos.

Sem os curativos tudo o que se veria eram cortes saturados.

Sofia encarou meus braços, engolindo em seco.

— Então não vai?

Dei de ombros, baixei a cabeça, fitando meus pés. Usava meu adidas surrado que Daniel havia trago junto com um par de roupas e minha jaqueta bege. Sofia tinha feito uma trança nos meus cabelos, e também uma maquiagem bem básica para disfarçar as olheiras e vermelhidão.

— Olha... sabe que se pudesse eu iria, não sabe?

O riso abafado de Sofia ecoou pelo quarto.

— Iria mesmo, Ame? Porque tudo o que venho fazendo é tentado te fazer se sentir melhor. Acha que é fácil pra mim te assistir desmoronar sem poder fazer nada? Fui escolhida pra ser presidente do comitê de organização do baile! — revelou. — Isso poderia ter me ajudado muito a entrar na faculdade no próximo ano. Mas não, eu recusei, e dei o cargo de mãos beijadas para Minnie. Sabe por que fiz isso? — neguei. Sofia riu, decepcionada. — Porque no dia que me escolheram, foi o dia que descobri que minha melhor amiga andava se machucando.

— E-eu... não sabia...

— É claro que não! — rebateu. — Será que pelo menos compreende quantas coisas todos nós abrimos mãos? Scott perdeu o título de capitão no dia em que saiu no meio do jogo e foi atrás de você. Connor... — riu ainda mais. — Merda, até o Connor se saiu mal nessa, Ame. Todos temos problemas, mas nem por isso tentamos chamar atenção!

Meu coração se quebrou um pouco... Meus cacos começavam a se espalhar ao redor.

— Acha que estou tentando chamar atenção? — perguntei, desacreditada.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora