8 ¶ Jantar

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Já sentiu como se vivesse uma vida que não te pertence? 

Ou que não merece viver essa vida?

Durantes várias semanas, depois do drástico acidente que levou o Dexter, todas as noites fui assombrada por pesadelos. Houve vezes que soava tão realista que quando eu acordava, precisava me beliscar para ter certeza de que não era real. Por noites vi seu rosto, o olhar sem brilho, o medo da morte, a determinação em ficar ao meu lado... Tantas emoções em um bolo só.

Aquilo me esmagava.

Pegava-me pensando em cada possibilidade que eu tinha para salvá-lo. No que eu poderia ter feito. Talvez se eu tivesse me esforçado mais, batido as pernas, as mãos. No final, a única coisa que resta é aceitar que já aconteceu e que não tem volta.

Estávamos a caminho do restaurante. Daniel insistiu em escolher o lugar, Katie e eu não contestamos, não era como se soubéssemos o que era bom e o que não era. Eu nunca saía de casa e Katie não parecia conhecer nada na cidade. Ainda era super estranho ver os dois se olhando, ouvir suas conversas extasiantes. Sentia-me aquele amigo que só segura a vela.

— Não vai nos dizer para onde está nos levando, Sr. Brooks? — Katie perguntou pela vigésima vez. E pela vigésima vez, respondeu: Vai ver quando chegarmos lá.

Revirei os olhos. Nossa, como era tedioso ficar entre os dois.

— E você, Ame? Foi no fliperama novamente?

— Não.

— Não sabia que ainda frequentava o fliperama... — Daniel comentou ao me olhar pelo retrovisor.

— Não sabe de muitas coisas sobre mim.

Eu me sentia péssima por ser péssima com ele. Eu percebia que ele vinha tentando fazer as pazes comigo. De verdade. Mas não é tão simples quanto parece. Daniel foi embora após o acidente dos nossos pais, se mudou para Nova York para trabalhar como advogado. Sim, ele até quis me levar junto. Mas não fui capaz de ir. Deixar minha vida para trás, minhas lembranças, deixar Dexter. Na época, nada disso estava nos meus planos.

— Hm... Por que não marcamos de sair novamente qualquer dia desses? Mas dessa vez eu escolho o lugar.

— Claro. — respondi com os olhos focados no trajeto.

Era uma bela noite. O céu azul, sem nenhuma estrela, mas uma lua cheia excepcional. A cidade completamente tomada por luzes reluzentes que iluminavam a noite. As pessoas passeando pelas calçadas de mãos dadas, carros trafegando para todos os lados. Sirenes, latidos de cachorros, sons de apitos. Tantos movimentos que poderiam me enlouquecer se eu não focasse em algo.

— Então é aqui? — Katie perguntou com o nariz colado na janela do carro. Parecia uma criança de cinco anos.

— Irão amar a comida! A massa que eles fazem é simplesmente incrível. Ainda não encontrei nenhum restaurante que supere esse lugar. — disse enquanto abria a porta para Katie, em seguida para mim. Um perfeito cavaleiro.

Fingido.

Por que os homens se tornam alguém totalmente diferente quando estão afim de uma mulher de verdade?

Tenho para mim que a insegurança que eles tem sobre seu verdadeiro eu é tão grande que os fazem fazer esse teatro. Porque é um teatro. Um teatro desnecessário se passar por alguém que não é.

Então, ai vai um conselho, sempre seja você mesmo. Independente da sua personalidade.

Ao nos aproximarmos da entrada, um homem alto e moreno, nos recebeu com um sorriso adorável nos lábios.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora