Depois de eu passar meu tempo — pelo menos uma parte muito boa dele — ao lado de Daniel e o meu horário ter chegado próximo ao fim, a Srta. Porter me chamou num cantinho, longe de todos. Para minha sorte Daniel havia saído uns cinco minutos atrás.
Assenti em sua direção e limpei minha mão num pano, saindo da cozinha. Em sua mão estendida na minha direção havia cinquenta dólares.
Um tanto hesitante, peguei o dinheiro, olhando para seu rosto de tédio — não sei antes franzir meu cenho.
— Desculpe, eu pensei... que o combinado era cem dólares, Sra. Porter.
— Eu também pensei que agiria com mais profissionalismo, Justin, mas parece que nós dois nos decepcionamos. Acha que eu não sei o que fez?
Arregalei os olhos.
— Perdão? — grasnei.
— Vi Daniel ajudando você na cozinha. Eu e a esposa dele, para ser franca. — Ela ampliou seu desgosto. — O combinado era que você trabalhasse com a ajuda de outros funcionários, e não com um homem de extrema importância.
Isso me abalou. Eu não sabia que ele era casado... Não vi nenhuma aliança. Agora eu não sabia se estava corando intensamente por causa do grande muro que se ergueu entre mim e meu sonho ilógico — como eu poderia achar que sua gentileza significaria outra coisa? — ou porque a Srta. Porter me fitava com um olhar perfurador.
— Desculpe. Mas eu preciso mesmo do dinheiro... — implorei. — Por favor. Não é nem por mim...
— Sim, é pelo seu irmão, já me disse isso. Porém, Justin, desconfio de que esteja mentindo. — Ela suspirou, transmitindo um fim na conversa com sua expressão impaciente, e depois me lançou um sorriso nada gratificante. — Bem, você já conhece a saída. Sinta-se à vontade para deixar minha casa.
E ela foi embora, deixando-me sozinho, em pé, olhando pasmo para o nada com uma nota de cinquenta dólares nas mãos. Senti um aperto no coração, e não era porque eu não contei a verdade — que Daniel se dispôs a me ajudar. E tampouco estava arrependido. Foi culpa minha também. E devia ter sido mais insistente em não deixá-lo me ajudar. Mas como eu faria isso diante de tanta bondade de sua parte?
Falando nele, vasculhei por um par de olhos verdes ao redor da sala imensa da casa da Srta. Porter por alguns segundos, concentrando meu campo de visão para cada grupo de pessoas que eu observava.
Mas ele não estava em nenhum deles. Provavelmente deve estar com a esposa...
Como, então, não havia mais nenhuma razão para que me prendesse à mansão, dei meia volta, o rosto entristecido por saber que minha noite trabalhada não tiraria por completo minha fome, e saí, partindo para o portão enorme sem esperar por mais nada. A festa se encontrava tão agitava quanto ao momento em que entrei, o que era surpreendente. E ainda fazia frio.
— Justin?
Senti um espírito energético me dominando por mais uma vez ouvir a voz dele. Quando me virei, na metade do caminho pedregoso para ir ao portão, Daniel apareceu; estava sozinho. Ele veio até mim com a face curiosa, quase dando a entender que eu estava fugindo dali. Ou talvez eu estivesse mesmo. Agora eu sutilmente direcionei meus olhos para sua mão esquerda à busca do detalhe que eu não havia notado antes. Não havia nenhuma aliança nela.
— Meu turno já acabou — expliquei, guardando desconfortavelmente meu dinheiro no bolso.
Ele viu esse gesto um tanto estranho.
— Quanto você recebeu?
Fiquei sem responder por um tempo — e ainda cheguei a vasculhar por uma mentira convincente. O problema era que não me veio nenhuma, e permanecer calado por mais tempo me denunciaria.
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INESQUECÍVEL
RomanceQuantas vezes você seria capaz de amar alguém? Justin Connor tinha tudo para ser um jovem comum. Com uma pureza encantadora, beleza admirável - por fora e por dentro - e características chamativas, ele teria mil e uma razões para curtir sua vida o q...