18 | Eu não sei mais quem você é

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Eu não entendi a princípio o que a sua pergunta queria dizer. Suspeitei que o desespero estava me cegando tanto que minha capacidade de compreender o que aconteceu, que era tão visível, simplesmente evaporou tão rápido quanto dizer "eu te amo".

— Sou eu... — sussurrei, o rosto ainda franzido em cuidado. — Justin...

Foi como se eu não tivesse acrescentando informação alguma.

— Seu namorado — terminei.

Foi aí que Daniel ergueu, embora bem lentamente, suas sobrancelhas.

— Meu... namorado? — repetiu, avaliando a palavra como se ela fosse nova em seu vocabulário.

O pânico começou a fazer mais efeito no meu corpo. Primeiro, senti as batidas do meu coração ganhar velocidade, perdendo ainda mais o ritmo que eu lutava para manter normal. Depois, minha visão trouxe um cansaço que a deixou turva. Por último, caiu a ficha do que eu precisava entender, mas mesmo assim perguntei.

— Você... — Não consegui nem me ouvir, então limpei a garganta. — Você não se lembra mais de mim?

Esperei pela resposta com os olhos atentos. Ela não veio em forma de palavras, e sim num gesto. Um gesto negativo com a cabeça.

Engoli em seco e soltei o ar, como se ele tivesse me dado um soco no estômago.

— O quê? — sussurrei, mas foi mais para mim mesmo.

Ouvi a porta sendo aberta. Não me mexi: fixei meu olhar em Daniel, minha expressão tão confusa quanto... quanto... não sei. Era demais para eu colocar a situação em palavras, mesmo que eu tivesse entendido o que aconteceu. Ele simplesmente perdeu a memória? Se for esse o caso, então tudo o que vivemos... deixou de ter um significado para ele?

— Justin? — Veronica me chamou, porém quase não a ouvi.

Mesmo quando ela tocou meu ombro, continuei com minha visão na direção de Daniel, que me observava sem emoção alguma. Não estava nem feliz e nem triste. Eu parecia um estranho aos seus olhos. Demorei mais um pouco para assimilar o fato de que o impacto em sua cabeça o fez me excluir de sua memória.

Apoiei minhas mãos na lateral de sua cama para não cair e franzi ainda mais minha testa, porque minhas atitudes eram as únicas que conseguiam expressar alguma coisa por mim. Minha voz me abandonou.

— Justin? — Agora o pai de Daniel falou comigo. Eu via, pelo canto do olho, que sua esposa estava ao seu lado, formado o trio da família de Daniel.

Daniel vagava as íris para todos que estavam ao seu redor, enquanto eu perdia a consciência, deixando a dor fazer parte dos meus sentidos. Ah, não... Não, não, não... Isso não... Senti-me sozinho de novo. Mesmo com todos aqui, senti-me isolado. Senti que estava sentado no centro numa sala escura e, à minha frente, eu encarava um painel com uma foto de Daniel eu abraçados, olhando de forma bastante sorridente para a câmera do meu iPhone durante uma selfie. E, aos poucos, eu me via sendo desgastado na foto, o tipo de coisa que acontece quando o tempo passa por anos e o papel começa a ser manchado.

Mas a mancha cobria somente a mim, deixando Daniel intacto, até que somente ele ficasse evidente na imagem e eu simplesmente sumisse.

A comparação me machucou.

— Acho que ele precisa de um pouco de ar — comentou a mãe ao pai, caminhando até mim. Sua voz se formava no fundo da minha mente, como se tivesse distante. — Justin? Querido?

Com muito, mas muito esforço, desgrudei meus olhos de Daniel e a fitei, as lágrimas inundando a parte inferior dos meus cílios. Nesse momento eu desabei. Quando ficamos do lado de fora da sala, abracei a mãe de Daniel e chorei. Ao menos isso eu podia fazer.

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