Epílogo | Eu te conto tudo de novo

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— Eu não acredito que você fez isso...

Daniel deixou seu livro de psicologia de lado e abriu um sorriso grande, quase rindo, ao me ver chegar em sua clínica com um bolo floresta negra nas mãos. Era grande, eu admito, mas com a fome que eu estava, com certeza nós dois daríamos conta dele. Vim notar que só em seu aniversário que conheci sua clínica — isso porque ele se encontrava em um momento de folga, senão eu certamente não estaria aqui.

— Você devia gostar de aniversários — aconselhei, repousando um beijo em sua boca ao sentar perto dele. — Ainda mais quando se está tão novo.

— Estou fazendo vinte e oito anos, caso não se lembre. — Ele me pegou pela cintura e me fez sentar em seu colo, fazendo meu rosto enrubescer.

— Por isso. — E logo depois puxei o que vim escondendo da minha mão, mostrando a embalagem prateada para Daniel.

Ele relaxou o corpo e balançou a cabeça, o sorriso ainda presente.

— Justin...

— Eu sei, eu sei... Você não queria presentes. Mas eu me sentiria pior se não comprasse alguma coisa — expliquei. — Não custou nada, eu juro.

Ele ficou me olhando com aquela expressão estreita, mas não reclamou depois disso. O assisti tirar o laço azul e brilhante da caixa retangular de tamanho mediado e, de dentro dela, puxar o presente — um scrapbook. Daniel ergueu uma sobrancelha para mim.

— É um livro de psicologia?

Eu ri muito alto, algo que fez seus olhos verdes brilharem alegremente.

— Não... — garanti, corando mais. — Foi algo que eu mesmo fiz.

Ele fez beicinho em admiração e sorriu, repousando um beijo no meu pescoço para então abrir a capa bege do scrapbook. Na contracapa, com letras em negrito e fonte Special Elite, estava escrito no centro "EM UM CERTO DIA VOCÊ ME PERGUNTOU QUAL FOI O MELHOR MOMENTO QUE PASSAMOS JUNTOS. EU DECIDI, ENTÃO, ENUMERÁ-LOS".

Daniel olhou para mim.

— Você...

— Eu fiz isso em segredo — falei. — Feliz aniversário, meu amor.

Eu podia ver milhares de feições — todas boas — se passando pelo seu olhar, desde a bondade ao orgulho. Eu poderia jurar que Daniel não estivesse muito longe de chorar, mas certamente estava enganado.

Ele me deu um beijo forte e sorriu.

— Okay — falou, voltando sua atenção para o presente. — Vamos ver o que você escreveu.

Mesmo sabendo que obviamente ele leria o que escrevi, vê-lo falar isso me deixou nervoso. Acho que eu iria preferir que ele lesse sozinho, mas, agora que ele rodeava seu braço na minha cintura, me deixei render pelo conforto de estar em seu colo.

Com um folheio, ele leu o capítulo intitulado "UM — ANO NOVO". Ele deu um riso doce ao ver que tentei desenhar a situação em preto em branco, com exceção de uns detalhes leves: na imagem abaixo do pequeno texto, havia um garoto mal vestido — eu — com uma bandeja de bebidas nas mãos conversando com um homem de terno — Daniel —, cujo sorriso estava estampado na minha direção enquanto segurava uma taça de champanhe. O rosto do garoto estava vermelho — o único toque colorido.

— Puxa, vida... — admirou Daniel, as sobrancelhas erguidas. — Você quem fez?

— Eu tentei...

— Está lindo. — Ele tocava o desenho com o polegar enquanto falava. — De verdade.

Me senti extremamente importante.

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