3 | Você só existe nos meus sonhos

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Três semanas se passaram e eu não o vi.

Foi difícil manter minha mente ocupada durante meu período em casa, mas, conforme os dias iam passando, eu me convencia mais um pouquinho que não era para ser. Era massacrante pensar que eu só o vi uma única vez para nunca mais voltar a vê-lo. E não importava o quanto eu queria isso, eu não tinha uma forma de me conectar a Daniel.

Abaixei meu rosto para meu corpo na cama, fechei meus olhos e respirei fundo. Eu precisava deixar isso para lá. Quando a noite chegou, tomei meu banho para verificar o horário disponível na Academia central, porque ao menos isso era real. Minha esperança de rever um homem casado talvez não fosse. Eu deveria me apresentar à Acadeia no dia seguinte, mas queria ter certeza absoluta que eu não erraria a data — e também porque não consegui prender a agonia de querer ver o lugar antes da hora. Ah, se eu pudesse pagar uma bolsa de dança...

— Hey... — murmurei no ouvido de Theo, fazendo-o acordar. — Eu vou sair rapidinho, tá bom? Vou visitar a Academia. É só por uns minutos.

Ele assentiu devagar e sorriu.

— Boa saída.

— Obrigado.

Afaguei seu cabelo castanho e levantei-me.

— Tranque a porta, tá? — avisei.

— Tá.

Acenei para ele e saí.

A Academia ficava a uns quatro quarteirões de distância — se isso era longe, eu não sabia, mas minha vontade de ir lá tornava o trajeto pequeno conforme eu caminhava pela rua. Estava bem movimentada, por sinal. Curioso, minha visão circulava cada canto das calçadas com o intuito de milagrosamente encontrar Daniel.

Era meio irônico. Eu queria esquecê-lo não o esquecendo.

As pessoas que eu averiguava estavam tão felizes. Eu podia sentir a energia de seus sorrisos quando passava por elas, assim como o carinho que elas transmitiam ao se abraçarem. Embora fosse um gesto normal, a surpresa me pegou do mesmo jeito — não era muito difícil saber o porquê. Fazia tempo que eu não sabia o que eram esse afeto.

Sorri também, assim como elas, coloquei minhas mãos nos bolsos e continuei andando. Não demorou muito para que eu chegasse à Academia, e minha emoção ao ver o grande prédio antigo me deixou fragilizado. As luzes internas, amareladas levemente, ainda mostravam que o lugar estava aberto. Mas talvez não por muito tempo, pois três jovens saíram de lá com suas roupas de dança nos braços e com seus corpos suados, o que denunciava que estavam dançando recentemente. Eles conversam entre si de forma animada.

Meus olhos pareciam ter encontrado o paraíso.

Eles passaram perto de mim e, mesmo que não tivessem me notado — por que notariam, afinal? —, eu me senti parte do grupo deles. O motivo era tão óbvio: eles eram jovens como eu. Eu sentia falta disso. Os três atravessaram a esquina em seguida; eu voltei minha atenção para o prédio à minha frente. E, incapaz de trancafiar meus sentimentos, atravessei a rua e parei bem em frente. Havia um lance curto de escadas bem largas para a porta, mas não as subi.

Em letras douradas e bem grandes, lia-se "ACADEMIA NACIONAL DE DANÇA".

Um senhor de idade saiu de lá logo em seguida com algumas chaves na mão. Aproximei-me dele, subindo as escadas, e confirmei num papel pregado à parede do monumento a vaga de zelador. Eu precisava estar aqui às 14h.

— Oh, me desculpe — disse o senhor gentilmente ao se virar para mim, logo após ter fechado a Academia, a voz desgastada com o tempo. — Já estamos fechando.

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