INESQUECÍVEL

12 | Passado versus futuro

[JUSTIN]

— Você não precisa me ignorar.

Na minha primeira pausa da dança decidi sair um pouco da sala e ficar no corredor só para não ter que ficar no mesmo lugar que Peter. Não era por infantilidade nem rejeição proposital — eu precisava apenas de um momento sozinho para pensar. Meu ex está na Academia do meu atual namorado... Isso é muito embaraçoso.

Franzi a testa e olhei para ele como se fosse um estranho, que se aproximava lentamente. Apenas nós dois estávamos no corredor.

— Eu não... estou te ignorando — afirmei naturalmente. — Eu só estou surpreso por você está aqui.

Peter era um garoto muito bom. Nos conhecemos na faculdade — estudávamos no mesmo curso —, e foi lá mesmo que iniciamos nosso romance — num dia em que eu havia esquecido meu cartão de crédito em casa e não tive dinheiro para comprar meu almoço, algo que Peter se dispôs a fazer. Ele foi incrível comigo. Digamos que ele era uma versão mais nova de Daniel.

E agora frequentaria a Academia comigo.

— Você não mudou nada — constatou ele suavemente, apoiando-se na grade onde eu estava. Seu olhar percorreu os detalhes do meu roso pacientemente. — Não é como se um ano fosse fazer alguma mudança, claro, mas... Você continua lindo.

Eu não soube o que dizer, ao passo de que meu rosto ficava cada vez mais vermelho. Obviamente eu devolveria o elogio — sim, ele ainda era o garoto charmoso que me deixou boquiaberto no nosso primeiro diálogo, mas agora eu tinha Daniel.

— E ainda cora — sorriu.

Fiquei ainda mais sem graça.

— Como você está? — perguntou-me.

— Bem. — Tentei soar o mais curto possível, fazendo um esforço para também não soar arrogante.

— É, isso é bem notável. — Peter vagou sutilmente seus olhos para meu corpo, sem malícia, a visão azulada voltando ao meu rosto com bondade depois. — Senti sua falta, Justin.

Engoli em seco.

— Peter, eu não posso...

— Eu sei, eu sei. — Peter ajeitou seu cabelo liso para trás num movimento. — Deixou isso claro na última vez em que nos vimos. — Ele respirou devagar. — Sei que não quer relacionamento sério porque precisa de dedicar a seu irmão.

Brinquei com minhas mãos e resolvi logo falar a verdade sem deixar que ele descobrisse isso de outra forma — o que era horrível. Se Peter tinha que saber, saberia de mim, mesmo que isso o deixasse para baixo.

— A questão é que eu tenho namorado agora — falei baixinho, quase como se tivesse pedindo desculpas. — O nome dele é Daniel.

Ele franziu a testa aos poucos e soltou o ar. Eu esperava que sua reação fosse beirar exatamente a que fez, mas, ainda assim, o desconforto em mim me pegou. Eu odiava vê-lo assim.

— Eu não estou entendendo — murmurou balançando o rosto.

— É recente, não faz nem dois meses direito...

— Não, eu não estou entendendo o porquê de você ter terminado comigo se acabou colocando outro em meu lugar. — Peter estreitou os olhos, havendo um quê de mágoa na voz. — Você realmente... não me queria? — sussurrou.

— Eu queria, Peter, muito.

— E por que terminou?

Respirei fundo para me concentrar nas falas e não gaguejar ao pronunciá-las.