9 | Carro de fuga

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Deixei as chaves do meu carro na mesinha de vidro à minha frente e sentei-me no sofá ao chegar em casa, o corpo extremamente exausto. Passei a manhã e a tarde inteira na casa da minha irmã e só retornei à noite para meu lar - que agora provavelmente não seria meu. Não depois da mensagem que eu mandei para Katherine.

Pelo menos uma parte boa veio do meu dia: pude mandar um presente para Justin no caminho.

Katherine apareceu na escada instantes depois. Quando me viu, seu olhar passou da surpresa para uma pitada leve de estranheza.

- Pensei que fosse passar a semana inteira fora - ironizou ela, tentando sorrir.

- Fui ver Justin ontem à noite e Veronica hoje.

Ela parou de andar bem perto de mim, notando que meu tom não era dos melhores.

- Justin? - Sua voz era cautelosa. - Por quê?

Umedeci a boca e curvei meu corpo para frente.

- Fui fazer o que me pediu, Katy. Fui dar um fim nisso.

- O que você disse a ele? - Ela sentou-se ao meu lado.

Eu não consegui falar por um tempo. Cheguei a pensar que haveria uma maneira menos dolorosa de começar, mas eu percebi que não era verdade. Independentemente do que eu fosse falar ou de como Katherine fosse reagir, eu não poderia mentir nem para mim nem para ela, não importava o quão grande fossem minhas consequências a partir disso. E eu sabia que elas seriam graves.

- Eu não posso me casar com você, Katy - soltei, sem precisar me esforçar para soar compungido. - Nem agora, nem daqui a vinte anos... Nunca. Eu não posso.

Ela franziu a testa e tentou me entender.

- Pensei que havia dito que foi conversar com Justin e resolver nossa situação - comentou com cuidado, balançando o rosto. - Não estou entendendo.

Respirei arrastado e apertei as pálpebras com força.

- Não sei como eu posso dizer isso sem machucar a nós dois, mas... - E tornei a abri-las. Por um momento, só por um breve e genuíno momento, cogitei voltar com o que falei. - Eu quero terminar nosso namoro.

Ela não teve reação. Era como se eu tivesse dito algo comum demais para levar a sério.

- Como?

- Você tem razão - continuei com calma. - Eu gosto dele, realmente gosto dele. O bastante para saber o que estou fazendo agora.

- Você mal o conhece. - Sua não aceitação estava visível, e isso eu entendia perfeitamente. - Como tem coragem de dizer uma coisa dessas, Daniel?

- Katy, não é assim...

- Tem noção do que está me dizendo? - Ela apontou para si mesma, o estresse vindo. - Está simplesmente jogando nossos dois anos de namoro no lixo porque conheceu um garoto qualquer?

- Ele não é um garoto qualquer.

- Que se dane!

Me assustei com sua exclamação.

- Já passou pela sua cabeça o quanto está me magoando agora? - prosseguiu, quase sem voz. - Por acaso sabe como é a sensação de estar sendo trocado por outra pessoa?

Abri a boca para dizer alguma coisa - qualquer que fosse para não tornar a situação pior -, mas não houve sucesso. Passei a mão na barba em vez disso.

- Não, é claro que não sabe. - As lágrimas brotaram em seus olhos.

- Estou dizendo a verdade porque seria um dano pior se eu escondesse isso por mais tempo, Katy, por favor...

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