4 | Reencontro

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E ele não estava sozinho: uma mulher loira o fazia companhia. Era linda — tanto quanto Daniel, que nesse momento me olhava com certa admiração. Ambos estavam vestidos formalmente, ele com seu terno e ela com seu vestido social. Meu Deus, o que ele veio fazer aqui? Ou melhor, como ele conseguiu me encontrar?

— Pode ir sem mim, tudo bem? — murmurou ele para a moça, dando-lhe um beijo casto na bochecha.

Presumi que fosse sua esposa, e isso não me deixou nas melhores situações. Quando ela se foi, ele ajoelhou-se perto de mim — seu cheiro me paralisou imediatamente — e tocou meus braços, os lábios abertos num quase sorriso. Eu não conseguia entender muito bem o que estava se passando em sua cabeça para que sua reação fosse incrédula, mas eu suspeitei já saber.

— O que é isso? — perguntou baixinho, dividindo seus olhos no balde de água ao meu lado e na escova na minha mão.

Meu rosto esquentou na hora. Ele está lindo como sempre...

— Consegui um emprego aqui — expliquei, a voz suave e lenta.

Ele intensificou a ampliação de suas sobrancelhas.

— Por favor, levante-se — pediu.

E eu meio que só fiz isso porque ele fez.

— Eu não posso parar — falei com receio.

— Não vai perder o emprego por isso. — Ele balançou o rosto, as íris vívidas e cheio de brilho na minha direção.

Depois ele andou para um lado, pegou um pano seco em cima de uma das cadeiras próximas e me deu.

— Não tenho tanta certeza — murmurei, enxugando meus braços e vagando meu olhar pelos lados em total nervosismo.

— Eu tenho. — Seu sorriso lindo e branco me desnorteou. — Porque sou o dono.

Minha testa foi franzida e meu queixo quase caiu.

— Venha comigo — disse ele carinhosamente.

Assenti, embora não soubesse para que lugar ele me levaria, e o segui. Não estava conseguindo mal assimilar o fato de que eu o vi novamente, quanto mais compreender que ele era o dono. Começamos a andar onde estavam os armários.

— Qual é o seu? — perguntou.

Entreguei a minha chave para ele como resposta, meus olhos em seu rosto o tempo inteiro, encantado com o charmoso homem que eu sonhei por algumas noites. Daniel abriu meu armário, pegou minha mochila e a colocou em suas costas.

— Fome? — Seu sorriso lateral que derrubou. — Porque eu estou.

Corei, mas consegui reprimir a vontade de encarar meus dedos. Ele devolveu-me a chave.

— Um pouco — admiti.

— Que bom. — Ele parou de andar. — Então posso levá-lo para comer.

— O quê? — sussurrei.

— Há uma lanchonete boa bem ali na esquina.

— Mas eu estou... hum...

— Em trabalho? — Ele levantou uma sobrancelha divertidamente. — Seu turno acaba em dez minutos.

Hesitei um instante. Puxa, ele é mesmo meu chefe.

— Vou lavar minhas mãos, então — falei corando.

— Estarei aqui.

Com a permissão dele, fui ao banheiro. Não esperei que ele fosse atrás de mim, até porque minha agilidade em apressar a lavagem me surpreendeu. Eu sabia, sem pensar, que isso se chamava felicidade — e era por essa razão que minhas atitudes saiam mais eufóricas do que eu podia controlar. Parecia que outra pessoa havia tomado posse do meu corpo — uma pessoa feliz, sorridente e despreocupado, divergindo-se daquela que eu era todos os dias. Eu estava extremamente alegre.

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