7 | Dispersão

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Katherine estava mexendo em meu aparelho celular na manhã seguinte. Poderia ser um gesto comum se não fosse por dois detalhes: primeiro que ela nunca mexia nele. E, em segundo, seu olhar desconfiado enquanto averiguava as mensagens das minhas redes sociais denunciava o que era óbvio para qualquer pessoa. Como ela não havia me notado acordar, pude observá-la por um tempo. Depois de segundos sem sucesso, Katherine deixou meu celular de lado e levantou-se, saindo do quarto.

Foi aí que eu me levantei.

Apertei o único botão da frente do meu aparelho para ver as horas — 08h02 —, escolhi uma roupa leve no closet e fui direto ao banheiro tomar meu banho. Pensei em Justin, e o sorriso de contemplação acordou meu rosto antes mesmo da água fria causar efeito sobre minha pele. Eu o vi ontem e já estava com saudade. Como pode isso? Eu não acredito que já estou apaixonado... Ah, Deus, me ajude a dar um jeito na minha vida antes que eu faça dela um estrago...

Momentos depois tomar meu banho e escovar os dentes, sentei-me na cama do quarto e fitei uma região qualquer por um período não muito longo. Hoje eu não precisaria estar na clínica, então eu tinha tempo para perder tempo e não fazer nada o dia inteiro. E hoje seria o jantar na casa dos meus pais também. Ergui uma sobrancelha ao me recordar disso e mandei uma mensagem para minha mãe, avisando que Katherine e eu estaríamos lá. Ainda não sabia o que pretendia conversar com minha mãe pessoalmente — quando recebi sua última ligação, prometi que conversaríamos melhor. Só não sabia exatamente sobre qual assunto.

Acho que nesse caso, minha irmã me entenderia melhor — sempre fomos unidos. Nós compartilhávamos segredos um do outro e os escondíamos dos nossos pais, então que mal haveria em continuar com essa tradição? Talvez ela já saiba, no fundo. Quantas vezes eu saí com Justin e ela soube? Isso não podia denunciar muita coisa para uma pessoa qualquer, mas, para a inteligência de Veronica, isso era muito.

Levantei-me da cama e fui à cozinha. Katherine estava de costas para mim, preparando o café da manhã. Não quis dizer alguma coisa logo quando a encontrei — preferi examinar seus gestos —, por isso me acomodei numa das cadeiras, sem fazer barulho, e fiquei em silêncio. Vi que fazia sol hoje, mas com uma pitada leve de frio. Pensei o que Justin faria agora e como ele passaria a noite enquanto eu estivesse jantando — eu sabia que à tarde ele iria à Academia. Talvez não fosse má ideia visitá-lo lá — e também não chamaria atenção, pois o lugar era meu.

De qualquer maneira, acho que eu precisaria ser mais cuidado com minhas saídas a partir de agora.

Katherine virou-se com uma frigideira com ovos e bacon e sorriu fracamente ao me ver. Continuei com meus olhos apreensíveis em seu rosto enquanto ela nos servia em pratos.

— Como estava Veronica ontem? — perguntou-me, nada de "Bom dia" ou "Oi".

— Bem. — Respirei fundo. — A convidei para jantar conosco hoje.

Ao terminar de colocar o café da manhã na mesa, Katherine sentou-se à minha frente. Sua expressão ainda não denunciava nada.

— Por que mesmo você não quer viajar, amor? — Ela me analisou enquanto cortava um pedaço de pão.

Estreitei meu olhar. Eu reconhecia esse tom. Era típico de momentos em que ela usava perguntas em forma de pistas para descobrir alguma coisa que a estava incomodando.

— Por que você quer? — inverti o jogo.

Ela teve que pensar a respeito antes de responder.

— Eu só achei que seria melhor passarmos a lua de mel em outro lugar — explicou. — Não precisaria ser em outro país.

Fiquei em silêncio, o olhar atento.

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