20 | Estarei aqui quando você cair

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Eu demorei mais que o necessário para conseguir falar alguma coisa.

— Aids — sussurrei a palavra em avaliação, meu rosto atento ao de Esther. — Meu Deus do céu... Esther...

— Eu iria preferir estar grávida. — Ela me deu um sorriso fragilizado que não tocou os olhos, as lágrimas crescendo.

A emoção lentamente começou a fazer parte de mim também. Caramba... Isso era um caminho sem volta... Um caminho que obviamente Esther não optou.

— Eu sinto muito...

Eu sabia que nada do que dissesse poderia reverter a situação.

— Você... já contou aos seus pais? — perguntei.

Ela fez que não, umedecendo os lábios.

— Ainda não tive coragem. Não contei para eles, nem para nenhum amigo... — foi falando devagar, o cuidado com quem estivesse olhando na voz. — Não esperava que fosse contar, na verdade. Você foi o primeiro a saber.

A emoção quase não me deixava pensar direito.

— Entendi...

Me interrompi só pelo tempo em que a atendente veio deixar nossos lanches; quando ela saiu, nem Esther nem eu começamos a comer.

— Quando eu descobri... — Ela balançou a cabeça com um sorriso derrotado. — Quando eu recebi a notícia de que havia pegado Aids, eu vi minha vida inteira indo para o lixo, entende?

Engoli com dificuldade.

— Agora eu vejo meu mundo de outra forma — continuou, o modo soturno na voz. — Vejo um grande mar de rosas vermelhas murchando à minha frente.

— Hey, eu sempre estarei aqui. — Toquei sua mão acima da mesa e apertei levemente, meu olhar atento ao seu. — Sempre. Lembra quando nos conhecemos? Lembra... quando eu entrei na faculdade perdido demais e precisava de ajuda para encontrar o bloco de Artes? Eu não precisei pedir ajuda. Você simplesmente largou seu grupo de amigas e falou comigo no corredor da nossa sala.

Esther, entre lágrimas, sorriu.

— Elas eram insuportáveis — comentou, quase aliviada. — Ver seu rosto aturdido foi uma corda à qual eu me agarrei para sair do papo de manicure que eu pertencia.

— Pois é... — Sorri com ela, meus olhos afáveis. — E eu havia achado seu jeito e sua maquiagem escura incríveis. Talvez eu não tenha te dito isso, mas ter você como amiga foi a melhor coisa que eu conquistei aqui dentro. — Rodeei o local com o indicador.

Ela formou uma linha fina nos lábios e limpou um dos lados do rosto com as costas da mão.

— Aquela Esther que eu conheci no há um ano, aquela garota linda que passava sombra preta no rosto, é a mesma Esther que estou vendo agora... mesmo com um quilo de maquiagem negra a menos...

Ela riu.

— Eu preciso de dinheiro para comprar mais — comentou divertidamente.

— Com ou sem ela, continua sendo a mesma pessoa para mim. — Apertei sua mão uma última vez. — Não vou deixar você sozinha.

Ela assentiu.

— Tá bom...

— Se quiser que eu vá contigo quando for contar aos seus pais, se você cotar, pode me chamar.

Esther apertou minha mão de volta.

— Pode deixar. — E baixou seu olhar para seu lanche, a felicidade ganhando mais espaço em seu rosto. — Okay, vamos comer. Aquela versão da garota esfomeada que você conheceu ainda continua aqui comigo.

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