Capítulo 23

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 (Diana)


Às vezes me pergunto o porquê de o Jeff escolher um lugar tão esquisitopara se morar. Até entendo que, sendo um justiceiro, ele não pode ficar dandosopa por aí, tenho certeza de que tem muita gente má que gostaria de fazer mala ele, mas isso já é um absurdo. Precisamos de pelo menos meia hora de carro parachegar a algum lugar com o mínimo de civilização. Isso me faz pensar nosentregadores de pizza, duvido que alguém queira vir tão longe.

Me sinto extremamente cansada, não tem mais nada que eu possa fazer por aqui, passei todas as horas desde que ele saiu limpando e arrumando essa casa, inclusive lavei e passei toda a roupa dele também. Quando ele chegar, perguntarei a ele qual a probabilidade de morarmos em um lugar menos distante, afinal, eu planejo voltar a estudar e quem sabe fazer uma faculdade. Ele também deveria fazer alguma coisa, estive pensando bastante sobre isso, ele vive escondido demais, seria ótimo fazer amizades novas, conhecer outras pessoas, quem sabe não arrumava uma namorada, alguém que o fizesse feliz. Por mais que ele se faça de difícil, sei que ele é alguém bem triste no fundo. Consigo ver em seus olhos. Eu faria qualquer coisa para vê-lo feliz.

Deixo meu corpo tombar desanimado no sofá. Jeff é um cara estranho, não o vejo trazer amigos, não sei se ele já teve alguma namorada. Isso me faz pensar se ele, por acaso, não é gay... Balanço a cabeça, isso não me diz respeito. Mas, como uma irmã menor, gostaria que ele conversasse mais comigo, que pudéssemos trocar confidências como irmãos fazem e quem sabe descobrir como ele conseguiu aquela cicatriz que o aborrece tanto. Gostaria que ele me contasse toda sua vida, que eu pudesse ser sua confidente e sua conselheira. Sou ótima para saber quando as pessoas prestam ou quando não prestam!

Mas o que eu gostaria realmente de saber é por que diabos ele não faz uma cirurgia para remover essa coisa, já que o incomoda tanto. Não me incomodaria de fazer maquiagem para sempre nele, mas acredito que uma cirurgia resolveria de uma vez por todas o problema.

Deixo meu pensamento vagando enquanto mordo um lápis, depois faço desenhos aleatórios em um pedaço de papel. Talvez essa cicatriz, embora odiada, represente algo importante para ele, algo que ele é hoje ou algo que ele não gostaria de esquecer. Quanta bobagem! Ele poderia ter uma vida normal, já posso imaginar a gente passeando por praças ensolaradas, brincando com crianças em um parque, indo junto para a faculdade, indo ao cinema com nossos namorados e tendo uma vida de verdade.

Eu mal posso acreditar na vida cretina que eu tinha e tudo que tenho hoje. Na verdade, não tenho nada, mas sinto como se tivesse tudo. Se não foi o destino que fez nossos caminhos se cruzarem, eu não sei o que pode ter sido. Não acredito em coincidência!

Sinto meu corpo todo enrijecer e me sento ereta no sofá ao ouvir um ruído vindo da janela. Ou estou ficando doida, ou vi alguém passar. Embora meu primeiro pensamento tenha sido que era o Jeff voltando e minha vontade fosse sair correndo para encontrá-lo, sinto um arrepio estranho e um frio no estômago. Aqueles sinais de alerta que recebemos sabe Deus o porquê.

   Apurei meus ouvidos tentando ouvir mais alguma coisa, no entanto, não resta nada, além dos ruídos costumeiros de algum pássaro que corta o céu. Me levanto com cuidado e caminho lentamente até a janela. Desde que cheguei aqui, essa é a primeira vez que tenho medo de ter deixado a porta aberta.

Logo o sangue começa a circular novamente e a adrenalina baixa, mas algo dentro de mim parece errado, sinto como se estivesse sendo observada, e isso é ainda mais assustador do que se eu encontrasse algum garoto tentando assaltar a casa.

Seguro o taco de beisebol e saio em direção à porta, a abri com cuidado, pronta para acertar a cabeça de qualquer invasor, mas não consigo ver absolutamente nada. O quintal permanece vazio e vejo as folhas caídas dançando à medida que o vento as carrega. Círculo a casa toda ainda com a estranha sensação, e quando volto para o ponto de partida, estou convencida de que foi apenas minha imaginação e começo a pensar que realmente precisamos de outro lugar para morar.

Volto para casa e me atiro no sofá com um prato cheio de bolo de chocolate. Sorriu ao pensar que, se Jeff demorar muito, terei que fazer outro bolo para ele.

Esse era para ele, mas... Fecho os olhos e começo a sonhar acordada com uma casinha em um lugar qualquer, perto de uma confeitaria principalmente.

Se Diana tivesse olhado para as árvores, ao invés das folhas espalhadas pelo chão, teria visto em cima da laranjeira um par de olhos frios.


Com amor, Jeff the KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora