Capítulo 19

3.5K 368 53
                                    



Obrigada pelas mensagens carinhosas que recebi esse mês. Em um país o qual a leitura é tão desvalorizada, vocês leitores são nossa motivação!

Ficar com o rosto à mostra é tão novo para mim que cheguei a me sentir insultado pelas pessoas que passavam beirando meu carro e não pararam para olhar para trás

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ficar com o rosto à mostra é tão novo para mim que cheguei a me sentir insultado pelas pessoas que passavam beirando meu carro e não pararam para olhar para trás. Um garoto que passava sendo arrastado pela mãe até chegou a acenar para mim. Sabe aquela cena quando você acha que tem alguém atrás de você e chega a olhar para trás para ver se era com alguém com quem ele tentava se comunicar? Pois é, cheguei a fazer isso, mas absurdo ainda foi dar de cara com a rua vazia, me voltar para ele e acenar de volta, constatando ser realmente comigo.

Provavelmente eu estava passando por uma intensa pressão psicológica. Nossa! Eu estou ficando fresco e filosófico, mas a verdade é que todas essas mudanças estavam de certa forma me afetando sem que meu consciente pudesse perceber e então meu corpo reagia, como acenar para um pivete idiota qualquer e dormir observando meu alvo.

É eu adormeci, já tinha dormido mais que suficiente, mas desabei de novo. Acordei com um torcicolo dos infernos após passar horas com a cabeça pendurada no banco de couro do carro. Felizmente ninguém me parou para saber que diabos eu estava fazendo ali.

Desço do carro para esticar as pernas e observar o ambiente à minha volta. Várias casinhas ordinárias aglomeradas, um cortiço pareceria mais habitável que aquilo, esgoto ao ar livre, várias crianças que brincavam agora na rua com uma corda surrada, um grupo de adolescentes mais adiante que passavam entre si um cigarrinho do demônio. Mais uma vez um aceno em minha direção. Dessa vez, apenas o cumprimentei com a cabeça, mesmo sem entender o porquê de eu fazer aquilo. Então me dei conta de que deveria haver algo de muito errado. Obviamente, aquele era um bairro paupérrimo, para mim, estar ali há tanto tempo sem ter sido assaltado foi no mínimo intrigante, obviamente nenhum carro parecido com o meu jamais circulou por ali.

Me olhei no reflexo do vidro do carro, sim, eu sempre tive bom gosto: calça social preta, camisa de seda branca e, embora os cabelos estivessem um pouco crescidos, divididos ao meio, cobrindo parte do meu rosto, ainda assim eu parecia alguém que não deveria estar ali. Pela primeira vez, me achei um homem de presença. Eu só posso estar ficando doido! Enfio as mãos no bolso e me encosto no carro, pensando no que devo fazer.

Começo a notar então que várias pessoas passam por mim e me cumprimentam, tomam cuidado para não cochicharem entre si, como se eu fosse alguém já esperado e, ao mesmo tempo, importante, mas podia ver em seus olhos que de certa forma me admiravam ou invejavam.

Como se eu pudesse ler o pensamento daquele bando de idiotas, tive certeza de que acreditavam que eu era um traficante. Por isso, os olhares que me invejavam e me viam como um modelo a ser seguido, e automaticamente o medo de que, caso fizesse algo que me desagradasse, algo pudesse lhes acontecer, essa parte é bem verdade, mas não por eu ser um traficante...

Um gemido faz meus olhos girarem para a casa que foi de Diana. Um cara sem camisa, barba por fazer, um short vermelho de náilon e descalço chutava um cachorro, o animal saiu correndo em minha direção e parou aos meus pés. É cada coisa que me acontece!

O cara parecia não ter me notado, visivelmente embriagado, fez menção de continuar perseguindo o cão, mas seus olhos encontraram com o grupo de adolescentes e, com uma conversa silenciosa, ele pareceu entender que não deveria se aproximar. Comecei a achar aquilo bem engraçado. Por mais álcool que aquele pobre diabo tivesse em seu corpo, com certeza, seu medo de ser seja lá quem eles pensavam que eu fosse era muito maior.

Encostei na porta do carro e cruzei os braços em frente ao peito, como estava de óculos escuros. Tenho certeza de que ele não poderia ter certeza de que eu estava fixando meus olhos em sua direção. De qualquer forma, ele não voltou a me olhar, abriu o portão de maneira já bem gasta e, com a cabeça baixa, foi em direção ao grupo de jovens. Não trocaram palavras, apenas deram alguns tragos no cigarro que lhe ofereceram e tomaram um trago de uma das latinhas que passava de mão em mão.

Uma porta se abriu novamente e vi uma vagabunda parada à porta, com a cabeça para fora, gritava vários nomes imagináveis para o cara que acabara de sair.

— Foda-se! — Ele gritou do outro lado da rua, lhe mostrando o dedo do meio.

Pela pele clara e cabelos negros, tive certeza de que era a mãe de Diana, mãe coisa nenhuma, apenas a que a colocou nesse mundo. Eu mal podia esperar para colocar minhas mãos nela. Mas não seria hoje, eu já havia me exposto demais, voltaria pela madrugada.

Entrei em meu carro e dei partida. Pelo retrovisor, pude ver várias pessoas que ergueram a cabeça para me observar partir. Passava do meio-dia e infelizmente eu não voltaria para casa tão cedo, provavelmente somente amanhã de manhã, mas eu faria valer cada momento que fiquei longe de Diana. Olhei as seringas cuidadosamente colocadas no estojo no banco ao meu lado e sorri. Eu faria essa noite durar uma eternidade.


Com amor, Jeff the KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora