003) Homens de branco

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   O silêncio durante o percurso na estrada, era contínuo... quase interminável, papai estava sério, ele sabia de algo? Minha intuição era gritante, ele sabia. Engoli em seco e permaneci quieta, perdida em meus pensamentos, quando chegamos em casa fui direto para o sofá da sala ainda processando o que acabara de acontecer. Meu pai sentou-se do meu lado e estendeu os braços para um abraço aconchegante.

— Como foi na escola? Vi que fez alguns amigos... — Ele perguntou e me abraçou firme.

— Descobri muitas coisas. Foi um dia confuso e estressante. — Tentei tocar no assunto indiretamente.

— "Coisas"?

— Eu não sou normal papai. — Me desvinculei do abraço, e o encarei nos olhos. — Mas o senhor já sabia disso, não é?

— O que? — Disse se fazendo de bobo, meio sem jeito.

— Fui eu, aquele apagão, eu fiz aquilo! — Apontei para mim, envergonhada, sentia o arder em meus olhos.

— Me desculpe docinho... eu errei, tentei esconder de você para te manter segura. — Ele me respondeu, decepcionado consigo mesmo.

— Por que não consigo me lembrar? O que aconteceu comigo lá?! 

— Fizeram um tipo de lavagem com você, e-eu não sei o que aconteceu. — Levantou do sofá assustado só de lembrar.

 Era como se uma parte de mim estivesse faltando, me sentia perdida, precisava de ajuda... precisava lembrar. Meu pai me acalmou naquela noite, me levou até o quarto e me reconfortou em minha cama até que eu pudesse dormir profundamente. 

 Quando acordei, um homem de jaleco branco estava me amarrando a uma cadeira, ele me colocou em frente a uma mesa com alguns objetos. Um pequeno rato branco com olhos vermelhos, uma lâmpada, um quebra-cabeça, um rádio e uma lata de refrigerante. Não conseguia prestar muita atenção aos detalhes em volta, haviam mais homens de jaleco, meu corpo todo doía, a sensação era de medo... meu rosto estava úmido, lágrimas.

— Fique quietinha querida. — Um dos homens disse, ele colocou um tipo de capacete em minha cabeça, atencioso em cada detalhe.

 Assenti, parecia certo concordar com ele naquele momento. Me mantive em silêncio até que um dos homens veio até mim, segurando uma prancheta, o mesmo me mostrou os objetos na mesa.

— Vá em frente. — Ele disse, como se eu soubesse o que deveria ser feito.

 Demorei para entender, apenas encarei os objetos e o pequeno ratinho, estava assustada, consegui ouvir a máquina que media meus batimentos aumentar os sons.

— Concentre-se número Seis! — Ele gritou de forma agressiva, estremeci.

 Me esforcei para que algo acontecesse, qualquer coisa, o homem perdeu a paciência e fez sinal para outro homem. Senti uma dor de cabeça insuportável e apaguei. Acordei suada e ofegante, tudo não se passava de um sonho cruel, levantei-me e fui até a cozinha molhar minha garganta seca. A luz do corredor piscava assim que eu caminhava, não parei para notar, apenas continuei até a cozinha, quando desci as escadas a porta dos fundos se abriu.

— Pai? — Chamei, ninguém respondeu.

 Engoli em seco e caminhei até a porta, estava mais frio que o normal, haviam várias caixas e coisas empoeiradas. Meu corpo todo se arrepiou assim que avistei algo coberto por um lençol, poderia ser qualquer coisa, uma estátua, uma cômoda, mas exalava medo. Algo me dizia para não tocar naquilo, deixei a curiosidade de lado e fechei a porta do porão, voltei para o meu quarto e tranquei a porta para assegurar de que nada nem ninguém pudesse entrar.

Garota Estranha, Stranger ThingsOnde histórias criam vida. Descubra agora