Quando entrei em casa, meu pai estava no sofá, dormindo feito bebê em frente a televisão. Subi para tomar banho, liguei a torneira e esperei a banheira encher enquanto me despia.
Me olhei no espelho e notei algumas parte do corpo roxas, como hematomas, não podia sonhar em tocar, estava tudo dolorido, parte ruim de ir e vir de outras dimensões. Dei uma volta em frente ao espelho procurando por mais, as veias escuras estavam se espalhando pelo meu corpo, estava começando a pensar que era um tipo de infecção ou bactéria.
A banheira estava cheia, mas a sensação de entrar na água, por algum motivo me dava calafrios, quando tentei tocar na banheira senti minha mão arder, pulei para trás segurando-a. Não me lembro de ter colocado a água tão quente, deixei de lado a parte do banho e fui direto para o quarto.
— Não foi nada, eu sou normal, está tudo bem. — Dizia para mim, enquanto me preparava para dormir.
Fechei os olhos e apenas dormi, naquela manhã a luz do Sol teve um efeito diferente, estava quente demais como se queimasse a pele. As coisas aconteceram de forma rápida, de repente estava vestida, não me lembro de ter chego até a mesa e nem mesmo de ter tomado café-da-manhã, meu pai conversava comigo normalmente, mas não me lembro de tê-lo respondido.
— Querida, está bem?
— Pai, e-eu. — Encarei o carro, estava pulando partes do dia?
— Podemos ir para casa. Está se sentindo bem?
— Estou sim, obrigada pelo café-da-manhã. — Sorri e dei um beijo em seu rosto, não era eu.
Não sentia meu corpo, muito menos meus nervos, mas saí do carro e fui até a escola, como se fosse eu. Não era. Avistei meus amigos, fui até o pequeno grupo, Will me viu e foi à frente, ele ia me cumprimentar mas passei direto.
— Oi pessoal. — Cumprimentei todos, alguns responderam, Mike e Lucas pareciam ocupados com algo.
— Ei Emm, o que aconteceu ontem? Por que não ligou o rádio? — Will sussurrou, dei de ombros.
— Não estava afim. — Disse desinteressada, não era eu.
— Oi Emm, está tudo bem? — On perguntou.
— Por que todos tem que perguntar isso? Eu estou bem. Não morri, estou aqui e viva. Parem de agir como se eu estivesse quebrada. — Fui direta, estava cansada das perguntas repetitivas. Eu estou bem aqui On.
— Ei, calma aí, não fala assim com ela. — Chamei a atenção de Mike, que não hesitou em defender a namorada.
— É, pega leve Emm. — Max respondeu.
— Tanto faz. — Dei de ombros, não queria agir assim.
Eu estava na minha mente, meus poderes, tinha que tentar voltar ao controle. Tentei usá-los para me libertar, o sangue escorreu pelo meu nariz, ela limpou.
— Vou ao banheiro. — Foi direta, não era possível que meus amigos não notassem a diferença.
Fui até o banheiro e me olhei no espelho, eu estava lá, mas a pessoa no meu corpo controlando meus nervos. Não era eu.
— Sai do meu corpo! — Gritei, havia e tornado seu reflexo, como se fosse colocada no banco reserva do time de futebol.
— Estamos te observando Emma. — Ela disse, com a minha voz, e o meu corpo.
— Eles vão perceber, são meus amigos. Me conhecem muito bem!
— "São meus amigos" vamos ver se é verdade, sabe, eu até gosto desse corpo. — Ela passou as mãos pelo rosto e cabelos.
— Eu vou te matar! — Gritei.
— Não garota, eu vou te matar. Na verdade, já estou te matando. — Sorriu, neguei cada palavra, alguém precisava descobrir logo, ou eu ia realmente morrer.
— Seu corpo não é como o do Will, fraco e mal desenvolvido, o seu corpo é diferente. Nos dá forças que ele não poderia. — Ela disse.
— Will?
— Ah o pobrezinho Will Byers, vamos brincar com ele.
Algumas garotas entraram no banheiro, coloquei uma mecha do cabelo atrás da orelha, e saí como se nada tivesse acontecido. Me juntei aos meus amigos na sala de aula, e estudamos juntos para o exame na sexta.
— Ei Emm, você tem razão, não podemos te tratar diferente depois de tudo que passou. É mais forte que todos nós juntos. — Dustin dizia tentando me animar, concordei.
Depois da aula, fui para casa, meu pai estava atolado em suas papeladas outra vez, quando me viu chegar tentou disfarçar o conteúdo.
— Oi! O que quer jantar? — Perguntou.
— Pizza. — Fui rápida na resposta, enquanto tirava meus sapatos.
— Tem certeza? Nunca comemos pizza no meio da semana.
— Por que não? — Nos encaramos por um tempo, depois de anos viajando concordamos em comer pratos normais no meio da semana, para manter uma alimentação normal, mas ela não lembrava disso.
— Tudo bem então. — Meu pai concordou, foi até fácil, a forma como se convenceu.
Subi as escadas correndo para trocar de roupa, se meu pai notasse alguns pequenos detalhes, talvez ele pudesse me salvar. Vesti meu pijama direto, nada de banho, desci as escadas e sentei-me perto da mesa.
Meu pai parecia ter notado algo, talvez ela fosse burra o suficiente para não perceber, estava contando com isso.
— Querida, lembra da língua que você inventou quando quando tinha oito anos? — Perguntou enquanto cortava a pizza.
É claro, meu pai e eu inventamos nossa própria forma de comunicação, eu era uma garota criativa e para a época nos serviu bem.
— Que tinham aqueles códigos. Qual era aquele para emergências?
— Claro pai, era o código Alcaçuz. Mas por que se lembrou disso? — Enquanto ele estava de costas, alcancei a faca na mesa.
— E por que você escolheu esse doce? — Insistiu na pergunta.
— É porque alcaçuz é vermelho, e vermelho é perigo.
Consegui. Não era pela cor, era pelo gosto, o pior doce americano já inventado, com gosto de plástico e doce no meio, por isso perigo, era algo ruim.
*
— Por que doces? — Meu pai perguntou, enquanto eu terminava de comer as batatinhas.
— Por que não? Ninguém desconfia de doces.
— Ei, muito ketchup. — Repreendeu, soltei o potinho com molho.
— Então perigo, quero que escolha um para nos alertar de perigo.
— Essa é fácil, Alcaçuz.
— Por quê?
— Porque é nojento, eu os detesto, e como perigo é algo ruim, acho que se encaixa bem.
Ambos rimos, meu pai levantou e me deu um beijo na testa, foi um momento importante, utilizamos o código por mais três anos até eu sentir que já estava grandinha demais para continuar. Nunca devíamos ter parado... como ela não encontrou a resposta certa em minha memória, era fácil, ela não tinha. Não conseguia controlar minhas memórias, não enquanto eu ainda vivesse no meu corpo.
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Garota Estranha, Stranger Things
Fanfiction༄ Stranger Things ❝ Tudo muda quando uma garota estranha muda-se com sua família para uma cidadezinha em Indiana. Emma terá que lidar com sua nova vida enquanto explora os mistérios de Hawkins, mas felizmente terá seus amigos ao seu lado, a quem...