Cap. 4 - ※ Reconhecimento do cadáver ※

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  A sala gelada que abrigava os cadáveres estava agora ecoando o som da respiração dos pais de Àlissa, da detetive Green e da médica legista. Katlen Chase se aproximou do corpo, seus olhos estavam cheios de água, ela acariciou os cabelos castanhos da vítima, não conteve seu sorriso ao ouvir as palavras de seu marido e observar que realmente a jovem estava um pouco diferente de sua filha.

O silêncio predominava ali, o único som que se ouvia era os passos corridos fora daquela sala, até que Green toma a dianteira.

— Senhor Chase, tem plena certeza de que esta garota pode não ser Àlissa? — Green deu um passo a frente.

— Eu não posso dar certeza, mas detetive, pode ser que seja... — A voz de Weli falhou. — Que seja Àlissa...

— Cale a boca!!! — Gritou Katlen. — Esta garota não é Àlissa! Minha filha era muito mais bonita. — A mulher soltou o rosto do cadáver e se afastou, ela sentou no chão, tapou os ouvidos e se colocou novamente a chorar.

Ninguém se atreveu a dizer qualquer coisa contraditória. Green estava com seus olhos marejados, se controlava para não chorar ao ver o quão desesperada Katlen Chase estava. Érika já havia presenciado diversas cenas como aquela, nos seus quatro anos de legista da polícia, já Weli Chase passou a mão direita em seu rosto, apoiando a esquerda em sua cintura.

— Vocês não entendem... — Katlen olhou para a detetive. — Não entendem o que é ir trabalhar e quando chegar em casa ver sua filha chorando, e quando você pergunta o motivo... — Katlen limpou as lágrimas que insistiam em cair. — Este é o motivo. — A mulher apontou para a jovem sobre a mesa.

— Eu sinto muito... — Green abaixou sua cabeça.

— Ah, é claro que sente. — Disse a mulher em um tom debochado. — Vocês são tão automáticos, não é? Quantas vezes vocês duas já viram esta cena hoje? Vocês nem se comovem! Olhem quantas famílias foram destruídas aqui nesta sala. — Ela apontou para os corpos cobertos por lençóis.

— Chega, Katlen!!! — Weli Chase se abaixou e segura os ombros de Katlen que se assustou. — Ninguém aqui tem culpa de nada, nós temos que cogitar a hipótese dessa garota ser nossa filha. — De repente os olhos de Weli começaram a se encher de lágrimas.

— Eu... eu não serei a mãe de uma garota morta... — O tom da voz de Katlen era tão baixo e soturno que mal pode ser ouvido.

— Você acha que eu quero ser pai de uma garota morta? Isso não está certo, pais devem morrer antes de seus filhos... — A primeira lágrima caiu dos olhos de Weli.

— Vamos embora... Preciso de um calmante. — O olhar de Katlen estava vago, ela estava pálida.

— Espere! Detetive, o que vamos fazer agora? — O homem virou-se para Green. Ele engoliu seco e franziu o cenho

— Podemos fazer um exame de DNA... Tentaremos fazer o mais rápido possível. — Sugeriu Érika.

— Certo, façam isso... — Weli secou suas lágrimas. — Querida, vamos embora.

— Preciso que me dê um fio de seu cabelo. — pegou uma pinça e um pequeno potinho de plástico.

   O homem se curvou, enquanto a morena lhe retirava um pequeno fio de cabelo. Gemeu de relance, assim que o fio foi arrancado. No final, se despediu de todos.

O casal seguiu rumo a porta e sairam, já Green, que estava parada ao lado de Érika, saiu em rumo a sua sala. Assim que chegou ela se sentou em um sofá e soltou algumas lágrimas que estava segurando. Ela passou a mão em seus longos cabelos ruivos na tentativa de tirar alguns fiapos do rosto. A porta se abriu e Byron a viu, ele se aproximou.

— Hannah, está tudo bem? — a fitou assustado em vê-la chorando.

— Luian... Não te vi chegar. — Ela sorriu forçadamente com seus olhos cheios de água.

— Por que está chorando? Aconteceu alguma coisa? — Ele franziu o cenho.

— Eu... eu só estou cansada. — Respondeu enxugando seu rosto que agora estava todo molhado.

— Tem certeza? — Ele se aproximou.

— Uhum. — Respondeu sem muito entusiasmo.

— Bem, então o que é isso em cima da mesa? — Ele apontou para um envelope grande ao lado do computador.

— Hãn... Isto é o resultado da autópsia. — Green se levantou e foi até a mesa, pegando o envelope.

— É mesmo? E o que diz nele? — aguardou ansioso pela resposta.

— Eu ainda não abri... Byron, onde estava? — Green arqueou sua sobrancelha.

— Fui atrás do Lewis, para saber mais sobre o celular de Àlissa. — Ele olhou para o chão.

— Entendi, enfim, vamos ver o que está escrito. — Green mudou sua expressão de triste para curiosa.

Ela rasgou delicadamente o envelope marrom, e retirou os papéis ali de dentro. Assim que começou a ler, ela ficou boquiaberta e em transe.

— Hannah? — Byron estalou seus dedos na frente de Green.

— Luian, olha isso! — Ela voltou do nada dando um passo a frente.

Byron observou com cuidado cada palavra, e simplesmente não acreditou no que leu.

— Uau, isto é estranho... muito estranho. — Ele se sentou no sofá.

— Drogada, estuprada, agredida... aparentemente por algumas semanas, mas como a família não notou?

— E se nossa vítima não for a Àlissa? — Byron ainda olhava para o papel.

— Há esta possibilidade. — Green se aproximou.

— Há? — Byron olha por cima para Green.

— Os pais de Àlissa vieram aqui hoje reconhecer o corpo hoje e... bem, disseram que aquela garota parecia muito a Àlissa, mas havia chances de não ser, pelo grau dos ferimentos no rosto, a altura é parecida, Àlissa era alta também, fizeram um exame e deverá ficar pronto dentro de alguns dias.

— Mesmo? — Byron retornou seus olhos para os papéis.

— É... — Green olhou para a parede, cruzando seus braços. — ficamos de certa forma, felizes em saber que ela pode ainda estar viva. Nos deu uma esperança. — o detetive franziu o cenho e olhou para sua parceira. Assim que ela parou de falar, ele disse:

— Mas se esta garota não for ela, onde está Àlissa?!

3:00 A.M. - Quando o mar ficou vermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora