Narração – Florence Bassan
Eu não conseguia dormir. Meus pesadelos sempre voltavam assim como a insônia, onde sempre voltava no tempo e encontrava Brian morto, caído em um canto e Wapasha em outro, sua armadura destruída, mas ainda vivo; não importa o quanto eu reprisava essa lembrança, eu nunca iria chegar a tempo de os salvar, de impedir a guerra civil entre o Capitão América e o Homem de Ferro. Cai aos pés do homem a qual sempre fui apaixonada, as lágrimas já rompiam dos meus olhos, sendo observada por pessoas que ao pouco se aproximavam; ele havia recebido um tiro da armadura, supostamente Wapasha quem disparou, um pequeno círculo estava no corpo do amigo, dando a vista de ossos chamuscados, assim como órgãos e a pele.
Lembro-me de não conseguir sair dali, o cabelo negro dele balançava ao vento, sua vida havia sido tirada e sentia que aos poucos a minha estava se esvaindo. Eu nunca voltava a dormir depois disso, coloquei minhas pernas para fora da cama e me espreguicei, vestia um pijama muito confortável, uma calça de algodão molinha e uma blusa de alcinha.
Decidi explorar o local, meu rosto ainda estava úmido devido a lembrança, não fazia mais questão de o secar; do meu quarto, há um corredor imenso com várias portas e a primeira que decido vasculhar era a da frente para o meu quarto. Lentamente empurro a porta, devia ser de madrugada e mesmo assim eu não queria acordar ninguém; encontro Steve dormindo, estava sem blusa e descoberto, não haviam janelas no quarto, mas mesmo assim o cobri. Seu cabelo loiro bagunçado, a boca entre aberta, era semelhante a um anjo descansando; ele era tão diferente e ao mesmo tão parecido com Brian.
Afaguei seu cabelo e em seguida sua bochecha, me retirando em seguida dali. As portas que se seguiram eram quartos e entre eles estavam Tony, Bruce, Thor (que por um grandioso milagre decidiu permanecer por algum tempo conosco) e Nick; sabia que a qualquer movimento meu poderia os despertar, mas fui treinada anos para ser cuidadosa e silenciosa. O último que adentrei foi o de Clint, não conversamos muito e mesmo assim lembranças de Jared invadiram meus pensamentos e como ele havia sido o único que ficou comigo depois dos vingadores se separarem; me sentei no chão e tateei a pulseira em meu braço, um presente do mesmo e me perco em pensamentos, onde derepente ouço um zumbido rápido e o corpo de Clint não estava mais na cama, me assustando.
Cai de lado, desviando de sua faca, que partia em minha direção. Segurei seu pulso, enquanto levava um soco no estômago e me desequilibrava; suspirei irritada e me sinto prensada contra a parede, a faca contra o meu pescoço. Ele não esperava que eu fosse mais rápida, jogando sua faca longe a atingir sua mão com meu punho fechado. Me esquivei de seus braços, o colocando preso entre os meus. Sorri, vitoriosa por perceber que havia o surpreendido.
- Como conseguiu adentrar aqui? Quem lhe deu essas informações? – Sua respiração estava descompassada, eu apenas sorri, debochada.
- Sou eu Clint, Florence – Entre as sombras, percebi seu rosto formar uma careta confusa – A garota que veio de outra dimensão – Expliquei, paciente.
- Florence? Que diabos está fazendo aqui? – Ele me solta e vai até o interruptor, acendendo a luz – Se perdeu ano caminho do banheiro?
- Desculpa te assustar – Me sento na cama e cruzo as pernas – Só quis explorar um pouco e, acabei me perdendo em pensamentos enquanto te observava – Ele abriu um sorriso torto e se sentou ao meu lado.
- Sentada no chão? – Ele deu uma risadinha, como se eu tivesse enlouquecido.
- Sua versão na minha outra dimensão é mais compreensiva – Retruquei e ele continuou a rir, zombando da minha cara.
- Ah é? Aposto que sou melhor no arco e flecha – Fiz uma careta engraçada e ele passou a mão pelos cabelos – Não conseguiu dormir?
- As lembranças sempre voltam para me assombrar – Ele me observa atentamente – Depois de tudo o que passei, Jared foi à única pessoa que permaneceu comigo, então te observando dormir, senti como se eu estivesse com ele.
- Tecnicamente está – Ele me deu um sorriso confortável – Já que somos formados com o mesmo gene – Concordei e me levantei.
- Bom, me desculpe por te acordar... Não queria incomodar – Segurei a maçaneta e a girei, o ouvindo chamar meu nome.
- Florence – Olhei por cima do ombro – Que tal me ajudar a preparar um chá e conversarmos?
Eram três horas da manhã, eu fervia a água e Clint estava sentado na bancada que havia no meio da cozinha, com cadeiras em volta. Eu o ouvia mastigar alguns biscoitos e em seguida, ele se levanta e pega duas xícaras no armário.
- Como foi sair com o Stark? Se sentiu como se fosse alguma celebridade? – Eu sorri para ele e me virei, já com o chá de canela pronto; depositei um pouco em sua xícara e repeti a ação, me sentando ao seu lado.
- Nunca imaginei em entrar em uma loja qualquer e comprar quase tudo o que havia por lá – Dei uma leve gargalhada com minhas próprias palavras – Eu me acostumaria fácil com isso.
- Seus pais, eles trabalhavam com o quê? – Ele parecia estar com receio de minha ação, com medo de entrar em um campo minado – Desculpe, não queria ser indelicado.
- Está tudo bem – Tentei ser reconfortante – Se me recordo bem, meu pai era engenheiro e minha mãe era bioquímica – Me recordo de alguns detalhes que sempre bloqueio quando penso neles – Recordo vagamente que meus pais estavam esperando por mais uma criança... – Inclino um pouco a cabeça – Eu sempre via na televisão modelos de família e agora percebo que minha família era uma, mas quando a agência me ligou... Eles estavam voltando para casa após uma conferência. Minha guarda oi designada para uma tia materna e tempos depois, coisa de um ano, ela veio a falecer – Ele me analisa bem, não me olhando com dó, como todos costumavam.
Aprendi a inventar novas formas de contar para as poucas pessoas que confiava isto, mas aos poucos, escolhi desviar do assunto. Porém, Clint era diferente e eu decidi dar um voto de confiança – Só Jared sabia da minha história, o resto que soube acabou morto. Sinto que posso confiar em você.
- E pode – Concordou – É bom ter amigos, só não os acorde de madrugada, ainda mais um psicopata que dorme com uma faca embaixo do travesseiro – Eu assinto e rimos, pegando um biscoito do prato cada.
As luzes do corredor se acendem, revelando um Tony com o rosto amaçado. Ele havia sido tão gentil, o que me lembrava Wapasha, tirando todo o sarcasmo e ironia que eu presenciei Stark ter; nunca me esqueceria do que ele havia feito por minha pessoa. Ele nos encara confuso e dou um aceno.
- Mas que diabos... ? – Ele cossa os olhos e se espreguiça – Passarinhos acordavam cedo, mas esse realmente nem dormiu – Clint e eu nos entreolhamos e eu mordi os lábios, tentando não rir
– O quê? – Tony fingiu espanto – Não vai dizer que já dormiram juntos!- Não, é claro que não – Senti minhas bochechas corarem e Clint cair na gargalhada, dei um tapa por impulso em seu ombro e me senti nostálgica: como isso fazia salta, ter todos juntos, sem brigas e em harmonia. Faria de tudo para continuar assim.
- Horas, é a única explicação óbvia – Ele se juntou a nós e pegou minha xícara, dando um gole - Canela? Já bebi melhores.
- É o meu sabor de chá favorito – O encarei e ele deu de ombros, atacando os biscoitos.
- Então temos uma cozinheira de mãos cheias nessa pocilga? Pelo menos não vamos morrer de fome – Concordou Clint. Eu havia feito os biscoitos após o jantar, sempre me dava fome e Jared fazia questão de assaltar comigo a geladeira, no fundo me sentia deprimida mas não precisava demonstrar e estragar o momento.
- Já vou me deitar, pessoal – Me levantei, os fitando – Quem sabe vocês não comam mais destes pela manhã, certo? – Eu dou uma leve risada da cara que Stark fez e me encaminho para o quarto, onde adentro e me jogo na cama.
Eu havia me sentido enturmada com Clint e Tony, mesmo os conhecendo a nem um dia, se bem que eu fiquei em cama por um bom tempo; havia estudado essa dimensão o bastante para saber o que aconteceu em Nova Iorque ou sobre o paradeiro dos vingadores daqui, Anthony fez questão de fofocar o dia todo no shopping comigo, me informando de mínimos detalhes. Achei Pepper agradável e era de cara que ela era uma mulher forte; o humor do Homem de Ferro me agradava, não como parecia muitas vezes incomodar Steve no jantar ou Fury, enquanto ele estava no escritório aquela noite.
Ele me lembrava o meu pai, mesmo nosso último contato tendo sido a muito tempo, eu queria preservar a única lembrança que tinha dele: era brincalhão e contagiante, assim como Stark. Mas muito em breve, perceberia o quão equivocado esse pensamento fora.
Continua...
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Capitão América: O Multiverso
FanfictionNosso querido e amado planeta Terra não estaria preparado para mais um evento marcante que mudaria a sua história. Além de alienígenas, deuses enlouquecidos, um super soldado de outra época, assassinos altamente treinados, uma fera verde que poderia...