Capitão América: O Multiverso

Florescer

Narração – Tony Stark

     "O nome Florence é a versão francesa e inglesa de Florença, variante feminina de Florêncio, nome originado no latim Florentius, a partir de florens, que quer dizer "florir", significa: a que floresce, próspera."

    Eu relia a carta que Rogers havia me mandado diversas vezes, com uma grande agonia. O que restavam dos Vingadores continuava intacta, com Visão e Rhodes (que estava reaprendendo a andar), os únicos que eu mantinha contato e que continuavam a formar a equipe; se Florence não tivesse se envolvido, sabia que ela poderia permanecer conosco, já que agora estávamos divididos.

     Era evidente que nada voltaria ao normal. Decidi trabalhar para o governo e continuar meu legado, mas permaneceria dado como morto por algum tempo, mas nada me impedia de continuar na esperança que ela iria acordar; três meses haviam se passado e entre esse meio tempo, consegui restaurar o colar-portal que encontraram com ela quando atingiu o chão e se estilhaçou. Encarava o escudo de vibranium que meu pai teve tanto trabalho para construir e agora eu sabia quem seria digna de o ter, alguém que assumiria o cargo do Capitão América, já que em sua carta, ele havia desistido da equipe e do seu título, mesmo deixando um telefone descartável, caso precisasse de sua ajuda.

     Depois de todo esse tempo em uma base secreta com os equipamentos T.A.H.I.T.I., Coulson resolveu destruir as últimas evidências dele, como precaução, assim como incendiaram o laboratório. Acompanhei a transferência do corpo de Bassan até a torre dos Vingadores e todo dia, como costume que eu havia adquirido naquela base secreta, por uma hora, eu fazia questão de colocar as sinfonias de Vivaldi de Florence que ela tanto amava ouvir; havia entrado em coma, depois de apagarem algumas memórias e repor outras falsas, haviam feito uma transferência de miocárdio e a pele queimada estava totalmente reconstruída, ela poderia acordar a qualquer minuto.

      Como ela havia assinado o Tratado de Sokóvia, me sentia mais calmo por estar ao meu lado. Novos planos estavam rodeando meus pensamentos: iria formar novos Vingadores que agiriam sobre os mandamentos da ONU. Nick Fury e Coulson haviam desaparecido depois do primeiro mês de conclusão do projeto que pode trazer Bassan de volta, o que resultava agora na S.H.I.E.L.D. sem um diretor, pelo o pouco que me falaram, já que não tinha contato com Friday; eu conversava com a garota em coma, desabafava e sempre tinha esperanças que ela abriria os olhos e seguraria a minha mão, dizendo que tudo ficaria bem e me aconselharia sobre o que fazer.

     A iniciativa Poderosos Vingadores estava em meus planos, já que a velha equipe estava desmembrada. Sabia que reconstruir a equipe afetaria a todos, mas tinha que ser mais esperto que Rogers, que já possuía parte da equipe original a seu favor; respirei fundo, passando as mãos pelo rosto, sabia que Florence, a antiga Florence, odiaria o fato de não conseguir termos ficados juntos, o que ela batalhou tanto para continuar unidos.

     Simmons e Fitz, antes de partirem para outras missões da S.H.I.E.L.D., deixaram evidente que se ela voltasse, muita coisa mudaria, principalmente com novas memórias sobre o amor de toda uma vida. Sabia que ela poderia ser tão alegre e doce pelo sentimento que tinha, mas eu temia o que seria dela agora sem ele; os aparelhos avançados que um cientista chamado Radcliffe inventou, dava uma visualização real das memórias, onde me mostraram todas as possíveis lembranças que ela tinha e eu havia congelado uma em questão: uma que ela e Bucky se beijaram. Naquele dia, destruí os equipamentos restantes, sendo inundado por raiva.

     Ela não merece alguém como Bucky ou Steve e tirar essas lembranças dela me davam uma tremenda tranquilidade. Seria mais fácil ela odiar Steve, onde a faria de imediato me escolher. O sol refletia através dos vidros do quarto, iluminando sua pele pálida e agora, lábios esbranquiçados, o cabelo sem brilho; eu havia feito questão de encher aquele ambiente de flores coloridas e perfumadas, até balões coloridos estavam lá.

 - Friday, me dê o relatório do estado de Florence - Pedi e a inteligência artificial apitou, fazendo as checagens necessárias. Havíamos chegado a torre dos Vingadores a algumas horas, o que deu tempo para nos instalarmos.

 - Senhor Stark, os batimentos estão favoráveis e a temperatura está a equivalente a trinta e quatro graus. Acredito que em algumas horas, a senhorita Bassan não precisará mais da ajuda de máquinas para respirar, assim como os tubos que a alimentam, aconselho a tirar. Todos os ossos estão livres de trincados e tudo o que falar, ela irá escutar, apenas não responder.

     Meus dedos percorreram seu rosto, a temperatura aquecia as pontas do indicador e médio, a face levemente corada; eu ainda tinha pesadelos dos gritos de todas as vezes que as máquinas mexiam em sua cabeça, um grito de desespero e medo. Eu sempre acordava na parte em que a trazia de volta, mas nos pesadelos isso não acontecia e sempre acabava encontrando metade das minhas cobertas no chão e todos os lençóis e fronhas molhados pelo suor.

      Sabe, eu convivo diariamente com essa sensação de que ela merece alguém melhor, capaz de protegê-la de verdade, dar-lhe um centro, uma vida, talvez uma família e por mais que passei todo esse tempo tentando fazer Steve perceber o quão maravilhosa ela era, não percebi o real por trás disso. Ela jamais ouvirá da minha boca, mas eu não me acho suficiente. É isso, meu medo é que ela descubra sozinha. Na verdade, ela merece um cara melhor do que eu. Alguém que possa correr ao encontro dela nos dias em que se sentir insuficiente. Um cara que demonstre de verdade o que sente e que prove que a ama. Ela merece um cara que faça cafuné pra ela dormir e cante, mesmo que seja desafinado.

     Eu havia deixado esse sentimento florescer, desde que Pepper me deixou. No começo achei que não passaria de um sentimento de família, mas ao perder ela, eu me sentia incompleto. Digo em mente que mesmo que desejo que ela vá em frente com sua vida e seja feliz, como tentei milhares de vezes, empurrando ela para quem quer que fosse, mas, como o filho da puta mesquinho que sou, na verdade não queria e tudo se resultava em a ver voltando novamente para minha pessoa. Quero que ela anseie em ficar comigo e não deixe outro homem tocá-la até que eu consiga descobrir como melhorar. Quero ser magicamente curado de toda a merda que tenho na cabeça todos os dias e ser o homem que ela merece.

     Mas Steve Rogers sempre seria esse cara, o cara que saberia cuidar do coração dela como ninguém. Cederia ao orgulho e teimosia dela e seria o primeiro a pedir desculpas em uma discussão, o primeiro que saberia quando parar de falar e a abraçar. Ele saberia como fazer ela ficar em silêncio por alguns momentos, um sujeito que a fazia se sentir em um romance épico, cheio de clichês e transbordado de confiança, mas eu, eu sabia que abalaria todas as suas crenças e a fazer viver um dia de cada vez, da melhor maneira possível.

     Troquei a música clássica por , passando rapidamente até encontrar a Let's Make It, onde a deixei. Segurei sua mão e deixei minha cabeça inclinada em direção aos dedos entrelaçados, tocando os meus lábios nos dedos esguios e macios, sua mão era de pianista nata; senti leves tremores em seus dedos, me assustando e a encarando. Os olhos verdes corriam em todo o quarto, se acostumando com a claridade, o que me fez chamar enfermeiros que passavam por ali.

     Por muita insistência, acabei permanecendo ali, inquieto, observando todos aqueles tubos e fios serem tirados dela. Primeiro foi o tubo que transportava alimento para seu estômago, na qual deu uma liberação melhor de seu rosto e por último os canos que levavam ar para seus pulmões, que pareciam estar melhores depois de lesões que eles sofreram no transplante de coração. A todo momento, uma enfermeira segurava a mão de Florence, dizendo que tudo ficaria bem e que agora ela estava segura.

     Depois de muita movimentação no recinto, médicos entrando para a analisar, apontando luzes para seus olhos, medindo sua pressão e até recomendando alguns exames, ficamos só nós no quarto, onde ela estava sentada na cama, com uma camisola larga tampando seu corpo e com a coberta cobrindo sua cintura; ela estava linda, sem maquiagem e todos os hematomas haviam sumidos. Encarava um canto na parede e eu sorri, caminhando em sua direção, beijando o topo de sua cabeça.

     Ela voltaria a si depois de todos os exames, sem ter noção de que a guerra civil acabaria ali, com máquinas que a ajudavam a viver. Tínhamos cerca de duas horas até a velha Florence retornar a nós.

Continua...