Escuta

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Narração – Florence Bassan

     Avistei Peter, que tentava ser simpático com as pessoas que ele conhecia no corredor, onde fiz questão de fingir que não estava o vendo e me voltei para o meu armário. Nunca imaginei o quanto ter uma vida dupla era sem graça, mesmo uma delas contendo o que você sempre quis; meu armário não havia nada demais, alguns livros, uma jaqueta pendurada e alguns adesivos que pertencia à antiga dona, que eu resolvi deixar ali. Vários panfletos estavam colados nos murais da escola e um enorme cartaz que dividia a entrada do segundo andar com o primeiro deixava bem evidente um acontecimento futuro: o baile de boas vindas.

     Por mais que eu nunca tivesse participado de uma, não tinha a menor vontade de ir nesse. Com fones de ouvidos, eu tentava ignorar a maioria dos adolescentes em fase de puberdade, como tentei sobreviver à última uma hora, na aula de biologia; me inclinei lentamente e Peter e eu trocamos olhares, na qual ele me mandou um aceno; em seu rosto passava dúvida e quando pensei que ele viria conversar comigo, uma garota bufa e abre o seu armário ao lado do meu, jogando sua mochila no chão.

     A olho sorrateiramente, tinha por volta dos dezessete anos, cabelo castanho e olhos da mesma cor, a ponta do seu nariz estava vermelha e um lápis prendia algumas mechas do cabelo; algo estava a incomodando e era visível a quilômetros. Ela tacou os livros contra o metal, causando a atenção dos mais próximos que passavam por ali.

 - O que os livros fizeram de errado para você? – Tentei manter a voz calma e baixa, como se fosse mais para uma adolescente tímida.

 - Dá para acreditar? Mal começa o ano e você já tem uma grande responsabilidade com esse maldito baile. E sem contar que o fotógrafo que todo ano tínhamos, sofreu um acidente e não poderá comparecer, tenho quatro dias para ter tudo sobre o controle e nem isso consigo fazer, sem contar as flores ridículas que o Calvin trouxe de amostra, elas me deram alergia – Desabafou e tive que segurar o riso.

 - Eu posso ser a fotógrafa – Sugeri, arqueado uma das sobrancelhas; só então percebi a burrada que eu tinha feito, quando percebi que estava disposta a comparecer aquele baile – Esquece, sei que pode achar outro melhor e ... – Ela me interrompe, me envolvendo em um abraço.

 - Não! Tenho certeza que você fará seu melhor. Obrigada mesmo.

     Mais tarde, naquele mesmo dia, tive aula de literatura. As carteiras haviam sido deixadas de lado e as cadeiras colocadas em formação de um círculo, onde a professora Lark discutia o que era um poema, narrando um.

 - "O amor pode ser esquecido e a vida sempre pode recomeçar.
Depois de alguns desamores, ela começou a olhar de lado para a lua.
Em multidões, era só uma perdida congelada em um vazio estrelado.
Ela sofria, mas ninguém sabia e percebia.
Ela vivia em um galpão de areias movediças, onde em seu universo, achava impossível emergir.
No seu céu, as nuvens eram carregadas de tristezas e cegavam os sorrisos que tentavam circular.
Continuamente, ela entrava em jardins pálidos, cinzentos e tão frios (outros corações) que a faziam sentir calafrios violentos até a sola do pé e, isto a causava um terrível medo.
Mas em um belo dia, ela entrou em seu quarto e pediu sinais para retornar à vida.
Retornar para o jeito que era antes, muito antes de todos os ruídos.
Aos poucos foi se encontrando e criando conforto em si. Conforto nos mantém calmos.
Em calmaria, ela entendeu "que não precisava andar tão pesada. Necessitava viver sem o peso do passado".
Então... ela foi em seu closet e colocou o vestido mais belo que tinha, passou seu batom preferido e calçou o sapatinho que ela tanto adorava.
Parou na frente do espelho, criou uma constelação de cenário e foi dançar consigo.
Deu as mãos (chance) para a vida e dançou até o coração explodir de amor por si mesma.
Deixou as tristezas para trás, permitiu um sorriso dançar em seus lábios e foi viver.
E na frente de um espelho, com seu elegantíssimo vestido e todas aquelas estrelas, ela aprendeu que:
O amor pode ser esquecido e a vida sempre pode recomeçar."

    Senti uma profunda tristeza, mesmo não sabendo por quê. Me lembrava de Tony e como ele estava sendo legal comigo, mas algo não estava sendo justo, era como se o sentimento que estava crescendo entre nós fosse errado, uma possível nova decepção; os flashbacks nunca iriam me abandonar, suspirei ajeitando meu cabelo artificial, sendo traga de volta a realidade com a professora retomando o sinal, os alunos se levantavam e arrumavam seus materiais.

 - Quero que escrevam algo que trate do emocional de vocês para a próxima aula, não hesitem em expor os sentimentos, prometo não mostrar a ninguém – O sorriso mostrava pequenas covinhas e os óculos caiam por seu nariz esguio, em um aceno melancólico.

     Mal percebo quando meus pés me direcionam para fora daquela sala, sentindo a liberdade em poder voltar a torre, adolescentes me irritavam. Sinto um aperto não tão forte no meu braço e me viro encarando Peter, que sorri.

 - Aonde vai tão apressada? – Começamos a andar por aquele corredor – Parece que vai pegar um trem.

 - Na verdade, vou comprar uma câmera nova – Menti – Serei fotógrafa no baile – Apontei para um dos anúncios nas paredes.

 - Só vai pelo trabalho? – Concordei e ele fez uma careta – Alguém te convidou para o baile, pelo menos? – Fiz uma careta e ele deu um riso fraco – Bom, a última vez que chamei uma garota para ir ao baile, foi um desastre – Parecia perdido em pensamentos e eu tinha uma breve noção sobre o quê – Eu realmente quero ir e... – Começou a passar a mão pela nuca, puxando alguns cabelos, uma gotícula de suor escorreu por sua testa e a mão tremia levemente.

 - Está sem par? – Tomei iniciativa – Gostaria de ser o meu acompanhante, Peter Parker? – Estendi a mão para ele, sendo tomada de lembranças, entre elas, uma em que Steve estava na mesma posição que eu, estava bonito e com uma camiseta azul bebê, que destacavam os seus olhos, aquilo me fez perder o equilíbrio e ele segurou os meus ombros, buscando por meus olhos que desviei.

 - Isso é realmente constrangedor, deveria ser eu, sinto muito mesmo – Eu franzi o cenho e ele foi direto ao ponto, já que eu fui impaciente para o deixar terminar .

 - Prometo mão ser um desastre total – Estendi minha mão na frente do corpo, como se estivesse fazendo um real juramento, na qual os advogados pediam para as pessoas que iriam depor fizessem; ele riu.

 - Isso tem que vir por minha parte! – Fingiu esbravejar – Quer ir ao baile comigo? – Gargalhei, podendo ter atraído alguns olhares curiosos.

 - Quero, só ficarei enrolada com as fotos, se não se incomodar – Confirmei.

 - Poderei te ajudar com isso, tenho um amigo muito bom para te substituir – Sorri – Te pego daqui a três dias as oito horas da noite?

 - Claro!

     Nos despedimos e o agente da S.H.I.E.L.D. já me esperava no carro, o que me fez revirar os olhos. Ele estava sendo um pai bem protetor para o meu gosto. Joguei minha bolsa sobre o banco e liguei o rádio, encostando a minha cabeça lentamente no banco.

 - Um encontro é? – Disse, com ar de graça – Minha filha já está saindo com rapazes! – Fingiu orgulho.

 - Essa escuta é mesmo necessária? – Raiei e ele arqueou as sobrancelhas.

 - Reclame com o senhor Stark, ele quem teve essa brilhante ideia – Me deu um sorriso amarelo e eu pensei retrucar, mas o pobre coitado não tinha culpa das bizarrices de Anthony, então decidi que mais tarde, ele e eu teríamos uma longa e constrangedora conversa e disso não iria escapar.

Continua...

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