Explosão

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Narração – Steve Rogers

     Havia recebido um belo sermão de Stark semanas depois que ele e Florence voltaram de viajem; nunca pensei que um dia isso ia acontecer, mas o tempo sempre nos surpreende. Uma semana depois de tudo ter voltado ao normal, deixamos Wanda, Visão, Rhodes e Sam aos cuidados da Viúva Negra para uma folga, juntos, como nosso segundo encontro.

     Esse havia sido planejado por Bassan, que dirigia pelas ruas com calma, diferente de Stark, que não hesitava em pisar no acelerador. Seus olhos eram atentos ao trânsito, enquanto no rádio tocava Chopin, os cabelos caiam pelos ombros e usava óculos de sol com grau, coisa que raramente usava; parou o carro e antes mesmo que ela tirasse o sinto, dei a volta e abri a porta do motorista.

 - Vai me acostumar mal, Rogers – As bochechas coraram.

 - Sabe, eu não me importaria de fazer essas gentilezas diariamente com você – Pisquei para ela e senti minhas meu rosto esquentar, provavelmente adquirindo uma tonalidade rubra.

     Nossas mãos se chocavam ao andarmos pela calçada. Ela parou na esquina, em frente a um restaurante e o adentrou, um sininho indicando nossa presença; eu estava com um boné e uma jaqueta para não ser reconhecido, ela apenas continuou com o óculos e o cabelo que vinha prendendo em um coque. Uma garçonete se aproximou, o cabelo loiro preso com uma touca e o uniforme, um vestido amarelo com um avental branco na cintura; a senti me paquerar e ligeiramente me senti constrangido, não podendo imaginar a reação de Florence por trás dos óculos. Sem mostrar muito interesse na moça, pegou o cardápio e cobriu seu rosto por completo.

 - Vou querer uma xícara de chá, com cookies, por favor – Se limitou a dizer, enquanto eu dava uma boa olhada nas opções.

 - Quero café, preto de preferência. E croissant, por favor.

     A loira saiu e nos deixou a sós, a morena se encostou na janela, observando o movimento no parque a frente.

 - Não sabia que gostava de chá. Na verdade, não imaginava que você era tão tranquila assim. Digo, ouve música clássica, toma chá, lê.

 - Sempre fui diferente da época em que nos encontramos. Em casa era assim também, porém as músicas clássicas eram ainda mais expressivas – Ela mexeu no potinho de sal em cima da mesa – Pareço uma bomba relógio? – Dei risada e ela entortou um pouco os lábios, dando de ombros.

 - Tem temperamento forte, me lembra muito o Stark – Ao ouvir seu nome, os dentes apareceram no sorriso.

 - Em algumas coisas nos parecemos. Mas eu medito, sou bem reflexiva e gosto de lugares calmos. Além do mais, sei que cuidou das minhas flores, obrigada, Steve. Seu perfume é reconhecível em quarteirões. – Segurei a barra de minha blusa e afaguei, enquanto sua gargalhada emergia e chamava a atenção de algumas pessoas que passavam ao nosso redor.

 - É tão ruim assim?

 - Na verdade, é gostoso – Ela se inclinou e sentiu o cheiro, fazendo uma careta satisfeita.

     As horas com ela passavam rápido. Jogamos conversa fora e fiz questão de pagar a conta, antes mesmo de se atrever a pegar sua carteira. Nos direcionamos para o parque, onde parou em cima de uma ponte de bambu e se sentou, tirando as sapatilhas e colocando o pé na água; no pequeno lago, haviam peixes dourados, alguns girinos e até mesmo tartarugas, ela parecia uma criança em seu habitat. O vento bagunçava seus cabelos e ela ergueu os óculos, encostando a cabeça no bambu.

 - Sabe, você observa demais – Comentou – Às vezes posso ver as engrenagens na sua cabeça funcionando – Senti seu hálito atingir meu rosto, com um cheiro de cereja – Pensar demais sempre é o maior erro do ser humano.

 - Um homem que muito observa, sempre tem a mente barulhenta – Conclui.

 - E o que tanto pensa? – Se inclinou em minha direção, cruzando as pernas feito índio e me fitando.

 - Penso que momentos como esse podem acabar a qualquer momento. Sabe, estar em paz sempre me parece estranho ou até mesmo novo.

 - Está tão acostumado com a guerra, que não se acha digno de sentir o equilíbrio constante que a natureza nos oferece – Entortou os lábios e estendeu a mão, afagando meu rosto – Se de o prazer pelo menos uma vez, Steve.

     Coloquei minha mão sobre a dela e percebi a diferença evidente de tamanho. Ela sorriu com o ato e a maneira que ela fazia isso era uma forma tão doce e pura, que ficaria o dia todo a observando; seus olhos se fechavam e suas covinhas apareciam, os lábios encolhiam. Não hesitei dessa vez, me inclinei para frente e toquei sua bochecha, nossas respirações estavam tão próximas que se tornavam uma; antes mesmo que nossos lábios se chocassem, uma explosão aconteceu, nos fazendo se levantar abruptamente.

     O mínimo que pude fazer foi pegar em sua mão, enquanto ela tirava uma pequena faca da coxa, que estava presa em um elástico por baixo da saia. A olhei de maneira interrogativa, mas ela apenas balançou a cabeça, como se indicasse que explicaria depois. O barulho vinha da rua em que estacionamos e não me surpreendi em ver nosso carro pegando fogo, com uma pichação de uma pequena estrela estampada em tinta vermelha. Não havia nenhum civil ferido, o que nos deixou um tanto quanto aliviados.

 - Fury irá ficar furioso ao ver a situação desse carro – Ela colocou as mãos na cabeça e chutou uma pedrinha. Eu dei um meio sorriso – Acha que isso foi coisa do Bucky? – Ouvimos gritos femininos e logo algo chamou nossa atenção, um corpo estava saindo entre as chamas, junto com uma mulher.

     Cerrei os olhos para entender o que estava acontecendo, então avistei Bucky carregando uma desconhecida, que implorava por sua vida. Sem meu escudo e arma alguma, Florence foi mais rápida e correu em sua direção, que entrou em um beco; seus passos eram firmes e ela lançou a pequena faca contra o braço metálico de Bucky, que jogou a mulher no chão e começou a subir em algumas caixas, tentando se livrar de nós.

 - Cuide dela, eu vou atrás dele – A informei e assim ela fez, se aproximou da mulher caída no chão, enquanto eu pegava altitude subindo em cima do latão de lixo, que dava acesso a um telhado.

     Quando eu consegui chegar no alto, Bucky havia desaparecido. Havia fumaça nas chaminés, deixando a visão nublada, assim como escondia alguns varais de roupas e pneus velhos jogados em cantos, como garrafas vazias e papelões; respirei fundo antes de voltar e assim que vi Florence com seu celular, supus que estava ligando para ambulância, mas não, estava com o número de um agente da S.H.I.E.L.D. e a mulher havia ido embora. Ela me encarou com o semblante franzido e suspirou.

 - Ele não estava tentando matar ela Steve, ele tinha a salvado – Senti uma ponta de esperança dominar o meu peito, por um momento eu reconhecia o soldado invernal como meu melhor amigo – Ele estava concertando o que ele fez. Não quer ser procurado, mesmo as coisas tendo saído um pouco de seu controle.

 - Sabe que eu não posso parar de fazer isso, não é mesmo? – Ela me olhou com compaixão e concordou com a cabeça.

 - Eu estava com Brian quando ele procurava por Harold e imagino o que deve estar sentindo – Ela olhou para as próprias mãos – Algum plano? Acabei de notificar a S.H.I.E.L.D. que irá rebocar o resto do carro. Chamei também os bombeiros, que irão apagar as chamas.

 - O plano é o mesmo de antes. Encontrar Bucky.

 - Como queira, capitão – Concordou.

     Esperando um novo veículo chegar, um vendedor de rosas passou por ali e queria terminar o resto do nosso encontro bem, então paguei por uma rosa e a entreguei, vendo seus olhos brilharem. Ela a levou até o nariz e sentiu o perfume, não se importando em ser apenas uma simples rosa, mas algo que iria continuar cuidando todo dia, como se fosse a coisa mais sagrada que havia ganhado; essa era uma das coisas que eu mais admirava nela: sua simplicidade e seu cuidado com as coisas, não importando o que coisa era.

     Estava ciente de que ajudaria a encontrar Bucky, que aparentou estar mudando em suas ações. Sentia esperança em poder o reencontrar e ver que quem eu conhecia ainda estava ali, vivo nela; não imaginava o quanto sofrerá com a Hydra, mas só pelo fato de salvar a desconhecida sem alguma outra intenção, mostrava que estava tentando ver o mundo de maneira diferente.

Continua...

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