Revelação

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Narração - Florence Bassan

     O dia do baile havia chegado e desde a minha visita ao quarto de Steve, tentei não transparecer a Tony o que estava me incomodando, mesmo sempre tarde da noite adentrando àquele quarto; eu ficava o contemplando, sentindo o tecido suave de suas camisetas e até um de seus uniformes. Visão já havia me pego ali, na noite seguinte em que tive uma crise de falta de ar, o que fez Friday acionar Tony, que pediu desesperadamente para Visão trazer o equipamento respiratório. Sabia que ele estava me escondendo algo, mas estava sendo tão atencioso comigo, seu olhar preocupado enquanto eu respirava os remédios na espera de um médico que havia sido acionado. Ele me segurou nos braços e me carregou até a cama, afagando meus cabelos e ficando ali, até o diagnóstico que comprovava sobre crise de pânico; se recusou a sair do meu lado, então ao acordar, seu semblante calmo se assemelhava a um anjo, sem nenhuma preocupação, anterior a madrugada, que estava tão agitado. Seus braços corriam minha cintura e seu pescoço estava cravado em meu ombro, o aparelho havia sido retirado e uma pequena bombinha estava no criado mudo, devido aos sintomas da asma, que muitas vezes não conseguia ser remediada.

     Me admirava no espelho, ao ouvir o assoalho na casa do Queens gemer e Tony aparecer na soleira. A peruca loira caia com perfeitos cachos pelos ombros, a maquiagem não muito forte para realçar os traços do rosto, que eram semelhantes com os de Chad, a aparência que a filha dele teria se estivesse sobrevivido ao acidente de carro que tirou a vida de sua esposa e única filha; descobrir todas informações foram fácil, não me lembrava de ter tanta coisa esquecida, talvez seis décadas explicassem.

- Está linda. - Vi seu reflexo pelo espelho e entortei os lábios. Era arriscado estar ali, no mesmo prédio de Peter e capaz de comprometer a nossa missão; sentia que talvez estivesse entendendo demais Tony e me compreender de menos. Ele não estava trajado com um de seus ternos caros de marca, estava com uma calça jeans surrada e uma de suas blusas típicas de manga curta apenas com uma coloração aleatória - E esse vestido cai bem em você, todos que eu escolho caem.

- Por mais que seja verdade, não seja convencido - Retruquei. O vestido ia até os pés, todo preto com renda por toda extensão do abdômen e abaixo dos joelhos; não era o vestido exatamente para uma garota de colegial, mas mesmo tendo parado de envelhecer por volta dos vinte, eu sempre pareci mais nova do que era e sempre fui mais madura.

     O cabelo caia liso pelo rosto e a maquiagem estava leve, como sempre gostei. Sentia uma ou outra arma escondida entre o vestido e cruzei as pernas, tentando manter a fita acima do joelho preso, mas Tony era angelicalmente irritante, inteligente e observador e compreendeu meu movimento.

 - Passa já para cá, mocinha – Estendeu a mão e utilizou movimentos de abrir e fechar os dedos, com o sorriso puxado para o lado; revirei os olhos e ergui a saia ao nível da arma, o entregando com um bufar – É uma festa colegial, qual é? O mínimo que terá lá são jovens.

 - Não foi isso que pareceu quando contei a novidade – Retruquei e ele segurou meu queixo com os polegares – Deveria estar calmo assim?

 - Deveria. Infiltrei agentes por todo aquele ginásio e como sei que você é melhor que todos eles juntos, sei que vai sair em vantagem com seus punhos e com essa faca que você tem, substituindo um batom.

 - Mas como raios você sabe disso?– Encarei Chad, que apenas deu de ombros.

- Conheço você – Me envolveu em seus braços e beijou o topo de minha cabeça – Agora vá e se divirta.

***

     Tony havia voltado para a torre e tinha que confessar que preferia ficar na casa do Queens do que lá, devido ao sentimento angustiante de solidão. Flashes começaram vagarosamente se formar e eu via os fugitivos que ficaram ao lado do Capitão América naquele local e me lembrava de nos darmos bem, mas eu nunca me lembrava dele; não me lembrava do seu sorriso ou muito menos da sensação que ele me causava e isso me deixava angustiada.

     Divagando em pensamentos, mal percebi que Chad havia aparecido no meu quarto, provavelmente havia batido e não escutei. Estava trajando agora uma roupa mais informal e os cabelos estavam despenteados, o rosto cansado.

 - Querida, seu acompanhante chegou – Sorri ligeiramente e me levantei, caminhando até a sala.

     Encontro um Peter vermelho, uma das mãos no bolso de sua calça azul marinha, combinando com o terno. Segurei o riso quando vi o all stars branco que usava, mas isso iria o constranger mais; seu nervosismo era perceptível de longe e sua mão tremula que estava atrás de seu corpo agora esticada em minha direção, com um bracelete de flores, com lírios. Lembranças preencheram as minhas pálpebras, me vendo com um buque de flores, onde meu rosto estava tão iluminado e eu via Tony escorado na porta. Minhas narinas foram invadidas com um cheiro conhecido, que coincidia com as roupas de Steve em seu quarto e uma confusão se espalhou por meu corpo.

 - Isso... – Gaguejou Peter – Isso é para você – Fui cortada de meus devaneios e tento não transparecer a decepção. Forço um sorriso e estendo o pulso esquerdo para ele; com todo cuidado ele passa o bracelete por meus dedos e depois de feito, fica encarando o resultado com orgulho – Está muito bonita, Sierra.

 - E você nada mal, Peter – Ele cora na hora; o menino que não parava de falar agora estava em completo silêncio, o gato havia comido sua língua?

 - Mas olhem só vocês! – Chad apareceu na soleira do recinto, com uma câmera antiga em mãos.

 - Ah, pai! Sério? Que antiquado. Já disse que o celular possui câmera melhor.

 - Sempre vou preferir estas belezinhas. Estará na sua herança futuramente. Há alguns anos atrás, esta mesma câmera capturou sua mãe e eu em nosso primeiro baile – Sua voz estava nostálgica e sentia o aperto de confirmação de Peter, que eu involuntariamente havia pego em sua mão, ainda estava tremula.

     Chad tirou a foto e descemos as escadas, em um silencio profundo. De repente eu senti a necessidade de o contar a verdade, como se eu realmente me importasse com os sentimentos do garoto. Suspirei em apreensão, sentindo alguns flashes aparecerem, o que me deu um surto momentâneo. Steve sempre aparecia neles.

 - Você está bem? – Peter parou na porta de entrada do apartamento e se virou, segurando as minhas mãos.

 - Estou – Menti – Você é uma pessoa tão boa, Peter. Seu coração é de ouro, ás vezes fico refletindo se ainda existem esses tipos de pessoa – Segurei suas mãos, que suavam – Não sei bem porque eu estou falando isso, mas você merece todas as coisas boas do mundo – Eu sorri para ele, mas estava sendo devastada de dentro para fora; as imagens que eu tive com o Steve, se alternavam com as de tortura, o que me causou uma tremenda dor de cabeça.

     Eu não poderia desistir agora e estragar a noite dele, não faria isso, não com ele. Seu rosto havia assumido uma tonalidade avermelhada e tudo o que consegui fazer foi sorrir para a inocência que ele tinha; seus dedos se soltaram dos meus e dirigi minha mão livre para a maçaneta, enquanto a outra se desenroscava vagarosamente da dele.

     Seus dedos apertaram os meus com mais força, o que me fez o encarar por cima do ombro; sua outra mão deslizou por meu queixo e ele escorou a mão na porta, a fazendo se fechar com um baque surdo novamente. Mal tenho tempo de expressar a minha surpresa, quando sinto seus lábios de encontro com os meus. Sentia seu nervosismo e ao invés de o afastar, eu permaneci ali, estática e sem saber o que fazer, o deixando me guiar pela situação.

     Sinto uma mordiscada em meus lábios, enquanto o deixava poder dar uma sugada no meu lábio exterior, me causando um leve arrepio; Sua respiração se fundia em uma com a minha, suas mãos estavam firmes em minha cintura, mal parecia o garoto inseguro e tímido que Tony havia feito questão de colocar em sua ficha. Pensamentos impuros começavam a se formular em minha cabeça, mas tudo o que consegui realizar para não parecer inapropriada foi bagunçar sua blusa que estava enfiada sobre a calça e arranhar suas costas, fazendo-o arfar.

      Dei um sorrisinho de lado, na qual abri meus olhos para ver sua reação e tudo o que vi foi o Soldado Invernal a minha frente e um forte limpar de garganta que tinha vindo de algum lugar. Tentei me concentrar em Peter, que encostou sua testa na minha e tentou recuperar o fôlego.

 - Me desculpe, eu... –Gaguejou – Eu não consegui me controlar e... E se quiser ir embora eu vou entender, assim como se quiser nunca mais me ver.

 - Eu não quero ir embora, Peter – Suspirei – Quero que você permaneça depois de tudo – Ele me olhou confuso e eu não poderia mais manter a vida que eu tanto desejava, pois ela não era a minha e eu não podia me iludir com quem eu não era; retirei a peruca loura e desativei a máscara. Tudo o que eu esperava era uma reação surpresa, mas ele apenas sorri e a confusão toda acaba se voltando em minha direção.

 - Eu estava tentando imaginar até quando esconderia a verdade, Florence – Ele coloca as mãos no bolso e responde minha expressão confusa – Eu já sabia. Digamos que também tenho um amigo meu que te viu saltando do seu apartamento e daí em diante passei a te seguir. Sem contar que era muito estranho encontrar alguém com um gosto muito idêntico do que o meu e não possuir mais nenhum registro desde cinco anos atrás.

 - Stark mandou ficar de olho em você...

 - Imaginava – Ele concordou – Mas dessa vez ele mandou alguém muito mais agradável do que a última vez – Deu de ombros.

 - Ah Peter, me desculpa por tudo isso, mas não podia mais permanecer em uma vida que não era minha, mesmo querendo-a tanto – O encarei – Sei que deve me odiar uma hora dessas, mas... – Me interrompeu.

 - Odiar você? – Ele sorriu – Seria impossível. Digamos que eu tenha estudado alguns documentos seus, mas eu realmente quero poder ajudar na vida que você tanto desejou. Que tal terminar de aproveitar a noite que temos pela frente? Só que dessa vez, pode ser você mesma. Quero poder saber melhor sobre você.

 - Obrigada por fazer isso – Sorrio e voltei a ativar a máscara e colocar a peruca, abrindo a porta em seguida e encontrando um dos carros que Stark havia nos mandado.

Continua...

Capitão América: O MultiversoOnde histórias criam vida. Descubra agora