Narração – Steve Rogers
Tony Stark havia aparecido para a imprensa semanas depois de tudo o que havia acontecido, sem citar possíveis acontecimentos com os Vingadores ou até mesmo com Florence. Eu estava com T'Challa em seu reino, ele havia assumido o trono herdado de seu pai e estava me ajudando com Bucky, onde depois libertaríamos os nossos aliados, o que eu fazia questão de avisar ao nosso amigo Homem de Ferro. Era inevitável negar que os olhos dele estavam inchados pelo choro, o que não estava muito diferente de qualquer um que conhecia Bassan ali; eu não poderia voltar, mesmo sentindo uma grande necessidade de reencontrar o corpo dela, apertar em meus braços e ter certeza que ela havia morrido, algo me dizia que a deixar com Tony foi a melhor opção que eu tomara, só ele poderia preparar as coisas do velório e anunciar a nossa perda, mas ele não citou isso em nenhuma vez.
Mas também havia o fato que como a criogenia estava em acesso ao rei de Wakanda, poderíamos congelar Bucky até encontrar uma solução. Meus olhos estavam inchados e vermelhos e eu encarava a tela do celular, não estava fazendo questão de sair do quarto oferecido; o mesmo sentimento de quando pensei que perdi Bucky estava sobre meu peito, mas eu havia provas de que ela não voltaria, não havia Hydra para a transformar em Soldada Invernal. Em meu caderno de desenho, haviam rabiscos de seu rosto, na qual eu tentava manter fresco em minha memória; os olhos verdes, as sardinhas e o cabelo caindo pelos ombros, sendo iluminado por uma pequena brecha do sol que passava pelas janelas do refeitório.
Quando de longe eu a observava, treinando Wanda em luta corporal ou quando se oferecia para ser um alvo de seus poderes, na qual eu podia contar nos dedos quantas vezes a Feiticeira Escarlate conseguiu a certar, Florence esquivava com tanta sincronia que parecia estar dançando ou de quando ela explicava a Visão como concentrar a joia do infinito do cetro de Loki em sua testa para os braceletes que Tony havia projetado; de quando eu abria as janelas do meu quarto e a encontrava se aquecendo para uma corrida, ou das vezes que ela usava equipamentos de ginástica.
Eu sempre fui um bom observador, mas nunca aprendi a lidar com a dor. Então era desse jeito que o meu eu da dimensão dela havia sido morto, onde ela fez de tudo para evitar que isso acontecesse novamente; sabia que esse gesto dela era muito além de querer fazer a coisa certa e de como fui um tolo em não ter me aproximado do jeito certo antes. De nunca mais saber como seria um beijo dela correspondido, o que Bucky soube muito bem. Cerrei os punhos e joguei um dos papeis que escrevia, escrever cartas para alguém que nunca iria ler tirava um peso, que sempre voltava toda a vez que eu fechava os olhos.
Ouço batidas em minha porta e o rosto de Bucky aparece, a preocupação evidente. Se senta ao meu lado e permanece em silêncio, encarando a mão humana sem saber o que dizer. Consigo, havia trago uma bandeja de comida, na qual eu sabia que não tocaria, como fiz com as outras.- Por que você a beijou? – Foi a primeira coisa que veio em minha cabeça. Ele franziu o cenho, surpreso e relaxou os ombros.
- Todos viram aquela sua demonstração de afeto pela Sharon, Steve. Eu sei que de onde Florence está, ela ficará furiosa por contar isso, mas ela gostava de você.
- E isso deu a você a oportunidade de beijá-la? – A confusão transpareceu em seu rosto.
- Só queria mostrar para ela que poderia se entregar a um novo sentimento por qualquer outra pessoa, Steve.
- Ela não era igual essas garotas com quem você saia antes da Segunda Guerra Mundial, Barnes.
- Eu sei disso. É evidente que era diferente, ela se entrega em uma intensidade que é difícil de encontrar nas pessoas ultimamente.
- Ela foi a primeira que se envolveu depois de todo esse tempo?
- Sabe que quando você está na Hydra, sendo torturado, sofrendo lavagem cerebral e principalmente criogenia humana, é difícil se ter um relacionamento amoroso – Ele me fez dar um pequeno sorriso de lado – Mas digamos que na Sala Vermelha, Natasha e eu tivemos um caso.
- Natasha Romanoff? Impossível.
- É, hoje em dia acho a mesma coisa. Mas fomos pegos e sofremos as punições – Disse, com um ar distante – Sabe que eu não conhecia muito bem sua nova parceira que me substituiu, mas digamos que não teria ninguém melhor que ela para esse papel.
As horas para o congelamento de Bucky estavam cada vez mais próximas e eu não sabia se realmente queria fazer isso, mas era uma opção dele. Foi difícil o ver ali, dentro de uma câmara fria, entrando em um sono tão profundo mesmo não sabendo quando poderia voltar; ele tinha medo de machucar as pessoas ao seu redor, T-Challa garantiu que encontraria uma maneira de nos ajudar a desativar o modo Soldado Invernal.
O Pantera Negra colocou a mão sobre o meu ombro ao me ver distante e sabia que depois que voltássemos da penitenciaria de segurança máxima, eu me trancaria novamente no quarto. O que mais me doeu, foi ver Wanda procurar pela colega de equipe, a única com quem ela conseguia contar sobre suas dores e inseguranças. Com seu sotaque russo arrastado, ela perguntou por Florence, onde nenhum dos guardas ali sequer haviam os deixado em dia com as novidades do mundo atual.
Ao narrar os acontecimentos voltando para Wakanda, o caminho estava sendo de um silêncio perturbador, com lágrimas e soluços. Sam mesmo não havia feito uma piada se quer, coisa que ele não parava de fazer; Clint demonstrava um comportamento alterado, impaciente, mas não demonstraria o quão afetado estava. O Homem Formiga foi o único que até tentou nos consolar, mas não havia muito o que ele dizer, só havia visto Florence em um dia. O silêncio de Wanda era gritante e de como ela conseguia controlar seu seus poderes havia mostrado quão madura ela estava.
Desde que perdera seu irmão gêmeo, ela havia expandido seus poderes destruindo uma grande parte dos robôs que Ultron criou, a perda causava descontrole dos poderes que tinha, mas até agora ela estava os controlando. Nem sequer velar o corpo e o enterrar ela poderia, não se despediria, como fez com o irmão. Todos ali se culpavam por não ter conseguido fazer nada.
Mas as únicas pessoas que realmente tinham culpa por essa morte que nos corroeria até os fins dos tempos era Stark e eu. Se tivéssemos a ouvido mais vezes e todas as vezes que ela tentou impedir que nos confrontássemos tivessem valido a pena, ela poderia estar aqui; ela poderia estar aqui se eu não tivesse a suplicado que me ajudasse a pilotar o quinjet, então a maior parte da culpa e da responsabilidade ainda era minha. Todas as pessoas que tentavam se aproximar acabavam morrendo e eu era o principal culpado.
Eu não sabia como o mundo me via agora, mas sabia que toda aquela pose de herói que viam havia acabado, pois eu não me sentia mais um, não depois do que eu fiz com Florence. Sempre coloquei os outros a frente, salvar vidas, na qual elas poderiam voltar em seguranças para seus filhos, mãe, pai, irmãos, compensava. Ver o alívio no rosto de alguém que acabou de salvar ou no do familiar que te agradecia por tal ato.
A palavra herói originou-se na Grécia Antiga e era muito utilizada para nomear as divindades idolatradas pelos gregos que representavam os valores e as crendices do povo. Aquelas figuras que se destacavam por atos de coragem, com valores e ações extraordinárias, principalmente feitos brilhantes durante guerras e batalhas, eram consideradas heróis. Estava ciente que não conseguiria salvar todos, sempre iria perder alguém e esse alguém ficaria marcado para sempre.
Mas a partir do momento que quis ter Florence ao meu lado, pensando que seria mais fácil de a proteger, foi o meu pior erro. Eu poderia até tentar salvar ela do mundo, mas não conseguiria salvar ela de minha própria pessoa.
Continua...
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Capitão América: O Multiverso
Fiksi PenggemarNosso querido e amado planeta Terra não estaria preparado para mais um evento marcante que mudaria a sua história. Além de alienígenas, deuses enlouquecidos, um super soldado de outra época, assassinos altamente treinados, uma fera verde que poderia...