O Encontro

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Narração – Steve Rogers

     Meus dedos tremiam em contato com a gravata, algo que eu não sabia exatamente como era, pois nunca realmente tive um encontro. Com Peggy, era apenas uma comemoração de trabalho; Natasha e eu éramos bons amigos e ela estava visivelmente interessada em Banner, que ainda se encontrava desaparecido. A ruiva me espia pela fresta da porta, com um sorriso orgulhoso.

- Nunca pensei que arrumaria uma garota sozinho – Ela deu uma risada baixa e adentrou, se jogando em minha cama – E olha que ela parece ser mais durona do que eu, como conseguiu isso, afinal?

 - Insistência – Sorri para ela, me virando e abrindo os braços – Como estou? – Ela fez uma careta engraçada.

 - Parece que está indo a um encontro a moda antiga, só falta levar um buquê para ela – Revirou os olhos e eu passei a mão pela nuca, dando um pigarro - Ah não, Steve Rogers além de um bom soldado e vingador, ainda possuí um lado romântico? Stark adoraria saber.

 - Nem pense em contar isso para ele, sabe que Florence é a irmã que ele nunca teve – Deu de ombros, fazendo uma expressão estranha, que tirou de seu rosto tão rápido quanto colocou. Tinha certeza que estava ciente de algo, mas não sei se diria.

 - É bem estranho esse vínculo, ele só se importava com o próprio nariz – Ela suspirou – Só tenha certeza se ele realmente a vê como uma irmã, Steve. Não deixe ninguém te impedir de seguir o que quer – Se levantou - Mas vai lá, não decepcione a garota – Caminhou em minha direção e ajeitou a gravata, se distanciando, até sumir pela porta.

     Passei um bom perfume e peguei o buquê de flores, saindo no imenso corredor; parei em frente a porta de seu quarto, onde uma música ressoava, a velha melodia clássica que ela tanto adorava. Abri uma pequena fresta, sei que era feio ficar espiando uma dama, mas eu não resisti; ela se olhava no espelho do guarda-roupas e estava com um belo vestido azul, tomara que caia e longo, que se abria nos joelhos. O cabelo estava preso em uma trança de escama de peixe e retocava a maquiagem.

 - Vai ficar na porta ou irá bater? – Sussurrou ela e eu sorri de lado, abrindo a porta e colocando o buquê seguro atrás das costas; às vezes eu me esquecia que ela e Natasha se pareciam, eram espiãs, sabiam quando estavam sendo observadas.

 - Desculpe, eu não resisti – Entrei no quarto e pude o observar melhor: paredes das cores do meu, um tom acinzentado, uma cama, estante e um guarda-roupas, como todos os outros que passei e avistei vazio, com uma pequena diferença que o dela havia alguns quadros pintados a mão, um pequeno rádio e um tapete felpudo, que quase me soltou um riso – Isso é para você – A entreguei as flores e um sorriso contagiante se abriu, revelando dentes brancos e perfeitos; ela as segurou em mãos e cheirou, eram rosas vermelhas – E está linda – Senti minhas bochechas corarem, assim como vi as dela.

 - Steve, isso é sem dúvidas, o melhor presente que ganhei – Ela me envolveu em seus braços, em um abraço forte – Irei coloca-las em uma jarra e já vamos. Você também não está nada mal.

     Eu tinha pensado em tudo, desde o restaurante, a roupa, as flores e a taça de vinho. Havia conseguido um carro e neste exato momento ela estava sentada no banco do passageiro, mexia no rádio a procura de uma música qualquer, para não deixar o clima pesado; parou em uma antiga, lenta e nostálgica.

 - Isso é mesmo dos anos 60? – Pareceu indignada – Há dois séculos atrás, a música antiga era uma batida contagiante e alegre, nossa tecnologia era avançada para isso – Eu soltei uma risada que tentei abafar e ela me olhou incrédula, colocando a mão sobre o rosto – Às vezes sinto falta de algumas coisas de casa.

 - Mas agora aqui é sua casa.

     Abri a porta do carro para ela, dando a visão de um restaurante italiano. Seus olhos brilharam e ela sorriu e toda a história que ela havia me contado algum tempo valera a pena, bem antes da destruição de Sokóvia acontecer; é claro que eu não sabia se a Itália daquela dimensão possuía algum costume semelhante com a nossa, mas os olhos dela brilharam com o lugar.

 - Não acredito que se lembra desse mero detalhe – Ofereci o braço, que aceitou, observava tudo com muita curiosidade.

 - Digamos que sua biografia é meio difícil de se esquecer – A respondi e um garçom se aproximou, nos direcionando exatamente para a mesa que eu havia reservado: ao lado da janela, dando a vista para a cidade, que brilhava.

 - Irei deixar os cardápios aqui, senhor Rogers e senhorita Bassan e quando resolverem é só me chamarem – Disse o rapaz, tentando forçar seu sotaque italiano horrível; concordei lentamente com a cabeça e ele seguiu para algum lugar.

     Nossa mesa havia sido caprichada: um candelabro com velas acessas deixava o ar mais romântico e um pequeno potinho com flores havia chamado a atenção de Florence; os talheres dispostos na mesa, assim como os pratos e copos.

 - Não acredito que além da mesa, você reservou o restaurante inteiro – Ela me olhou, um sorriso torto tomando os lábios.

 - Só não queria que fossemos interrompidos – Ela assentiu e olhou o cardápio em suas mãos, que pela primeira vez, a vi com unhas pintadas de branco – Então, tem algo de semelhante da sua terra natal? – Senti a esperança preencher o meu peito e um riso ecoou no local, ela estava radiante.

 - Nunca vi tanta coisa diferente antes, mas valorizo muito a sua tentativa, Steve – Ela segurou a minha mão e senti um calafrio percorrer minha espinha – Um detalhe ou outro, mas é muito pouco.

 - Estou começando a achar que você é uma alienígena e não de outra dimensão – Brinquei e a vi corar.

     O resto da noite se seguiu tranquilo. Começamos com uma das melhores taças de vinho que havia ali e depois de o degustar e conversarmos sobre nossas vidas e o trabalho, adentramos aos pratos principais; afirmou que a comida era bem melhor e eu até contei como era a minha vida antes de ser um super soldado. Partilhou histórias de quando era criança e de como brincava com primos na sua dimensão, o que era muito diferente das nossas crianças, até mesmo em minha época.

     Se deliciou com a sobremesa que ri, quando ela repetiu pela terceira vez, dando a desculpa que era uma das consequências do soro. Quando finalizamos a janta, a tirei para dançar e aceitou de bom grado; estava tudo perfeito, meu primeiro encontro estava às mil maravilhas, até eu avistar um rosto familiar do lado de fora do restaurante: Bucky. Não senti minhas pernas me guiando, mas agradeci as janelas da recepção serem grandes o suficientes para avistar qualquer coisa. A deixei ali, no meio do salão sem entender alguma coisa e o mais surpreendente é que ela não me seguiu ou se quer questionou algo, era uma coisa estranha, pois nunca conheci alguém que fosse capaz de esconder a curiosidade para si.

     O ar gelado da noite me acertou, não havia ninguém nas ruas aquela hora da noite e um aperto forte esmagou meu peito; segui até o beco mais próximo, que estava escuro e nada havia ali. Subi a rua, virei algumas esquinas e nada, apenas os meus passos ecoavam pelas paredes, era como se a minha mente estivesse criando aquilo tudo. O desespero tomou meu corpo e não tinha mais onde procurar, até finalmente voltar.

     Antes mesmo de chegar até ela, eu encarava o chão, até ouvir um silêncio absurdo no restaurante, a música havia parado e o garçom que havia nos atendido limpava a mesa; Florence não estava mais lá, o que me fazia se perguntar quanto tempo eu havia ficado fora.

 - O senhor viu a dama que me acompanhava á instantes? – O rapaz se endireitou, os cabelos curtos preso a um goro e os olhos castanhos me encaravam, era impossível dizer o que ele estava sentindo ou pensando.

 - Me desculpe senhor, mas a senhorita foi levada por com um rapaz alto e moreno, que pagou a conta e a acompanhou até a saída – Ele deu levemente de ombros – Veio exigir uma mesa e quando viu a moça, ficou mais alterado do que estava. Pareciam se conhecer.

 - E ele deixou o nome? – Perguntei e todos os nomes de supostas pessoas que ambos conheciam se passou em minha cabeça; o que eu mais duvidei foi de Barton.

 - Tony Stark – Respondeu – Inclusive, pagou a conta.

Continua...

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