Narração – Tony Stark
Ao voltar a ter reconhecimento dos meus atos, desejei que tudo não passasse de um sonho ruim, um pesadelo. O tempo estava passando inexplicavelmente devagar, queria muito fechar os meus olhos e respirar pela boca, depois de acordar desorientado e a porta de meu quarto ser escancarada por uma Florence cheia de vida, com uma mapa turístico de Paris com os pontos que ela queria visitar, como aconteceu em nossa viagem; quis acreditar na possibilidade de Wanda estar mexendo com a minha cabeça, como a primeira vez que ela bagunçou meus pensamentos, me fazendo ver que meu maior medo era eu ser a causa da morte e da separação de todos os vingadores.
Sempre ouvi pessoas dizerem que quando você está prestes a morrer, sua vida passa toda diante de seus olhos. Estive prestes a morrer várias vezes: quando fui sequestrado por terroristas que me forçaram a construir uma arma devastadora e onde ganhei uma bateria de carro ajudando o equipamento no meu peito não deixar que os cacos chegassem ao meu coração ou quando Stane tenta replicar meu reator arc, construindo uma armadura espelhada na que Yinsen e eu construímos no Afeganistão.
Quando em uma das minhas exposições, Hammer revela os drones blindados de Vanko, liderados por Rhodes em uma versão fortemente armada da armadura Mark II ou quando sofri ameaças de morte do Mandarim; me lembro até quando carreguei a bomba em Nova Iorque para dentro de um grande buraco no céu. Mas o que as pessoas não costumam dizer por ai é que, quando uma pessoa que você ama morre, toda a sua vida com a pessoa passa em frente aos seus olhos, cujo único espectador é você. Foi assim com meus pais, todos os momentos que passei com eles desde que me lembro por gente.
O filme novamente estava se repetindo, eu vi, como um flash, todos os momentos que Florence e eu passamos juntos. Desde aquele dia que ela estava inconsciente até agora. Me lembro de quando junto a Pepper e eu, ela passeava pelo shopping que mandei esvaziar por precaução, vendo coisas com os olhos arregalados e brilhantes, como se fosse uma criança; naquele dia percebi o quão radiante ela era, ao experimentar seu primeiro lanche do Burguer King ou de quando a forcei entrar em um brinquedo, uma montanha russa bem menor, que adorou.
Jogamos até boliche e ela ganhou a diversos pontos a frente. Ela e Happy se deram muito bem, até o fato que ela pulou nos braços dele e ele a carregou, ambos rindo. Vivi com Pepper muitos anos para descobrir coisas minúsculas e com Florence durou cerca de dois anos e meio: ela odiava café, lutava artes marciais como uma maneira de a tranquilizar pelos ataques de pânico que sofria, ouvia música clássica para dormir bem. Sabia até seus livros favoritos que ela havia lido nesse meio tempo: Antes Que Eu Vá, Ainda Sou Eu e até mesmo livros de filósofos como Nietzsche, Marx e a psicologia de Freud, que teimava em estudar para entender a minha ansiedade.
Suas manias eram engraçadas: quando ela lia, seus óculos de leitura escorregavam pelo seu nariz e sem perceber, com o dedo do meio os erguia, ficava centrada olhando para um lugar quando estava pensando e tinha a mania irritante de se exercitar mostrando o quando sedentário eu era, em ginástica rítmica.
Eu não sabia o que eu seria daqui para frente. O rosto dela não transmitia aquela luz de antes, quando fizemos um piquenique na frente da torre Eiffel, ou quando ela me arrastou para o mar, contra a minha vontade, na praia de Plage du Petit Spérone. Ela era teimosa e orgulhosa, por isso nos dávamos bem de um jeito estranho; mas ela não estaria mais ali, não falaria com Friday para me despertar de um jeito que me assustasse, não faria piadinhas sobre a minha barba, não bagunçaria cada canto da minha casa.
Sabia que ela não era tão aberta com os outros como era comigo. Com Wanda e Visão era mais profissional, Sam e Rhodes ela discutia sobre o exército, Natasha e ela mal se falavam mas acabavam fazendo apostas de coisas absurdas, com Clint ela havia confiado de cara mas quando descobriu que ele era casado ambos se afastaram de modo que não perderam a amizade, ficando um clima estranho porque ela via Jared nele; Thor e ela me faziam sentir uma pontada de ciúmes, coisa que nunca iria jamais admitir e Bruce, era ver dois gênios de diferentes dimensões discutindo e criando coisas magníficas. Não sabia o que ela e Steve tinham, mas era evidente que ela gostava dele, pelo menos era perceptível; ainda acreditava que ela via Brian em Steve, o amor dela pelo Capitão América era algo que não importava a dimensão que ela fosse, ela sempre iria o amar e o proteger com sua vida, coisa que eu tinha um pouco de inveja.
Mas comigo, Florence era ela. Não era uma soldada fiel da S.H.I.E.L.D., uma assassina treinada, uma vingadora ou a garota de outra dimensão. Ela era a menina órfã que perdeu os pais e que fugiu do orfanato por sofrer maus tratos e passar fome, a que roubou para sobreviver, que tinha esperança de pessoas boas mesmo não se considerando uma; ela tinha pesadelos e sempre revivia as mortes que ela causou, a perca por aqueles que ela amava e a maneira como ela tremia ao perceber que tudo eram lembranças.
Ela tinha medo do mundo e das pessoas. Mas sem autorização da S.H.I.EL.D. de sua dimensão, ela vingou a morte dos pais, como uma justiceira, matando todos que estavam envolvidos ou sabiam do plano; ela era tão boa em esconder seus rastros, que ainda a organização buscava por um culpado. Ela amou intensamente o Capitão América, o que foi sua perdição. O soro devia a curar, mas sabia que isso seria impossível, pois ela havia morrido.
As lágrimas em meus olhos escorriam freneticamente, queimando meu rosto. A risada dela era engraçada, eu podia ainda a ouvir, ou quando ela suspirava em reprovação por algo que a incomodava; ela daria um empurrão em meu ombro e me chamaria de fraco, por chorar feito um garotinho assustado. Me lembrava de quando ela havia se escondido dentro de minha armadura e me assustado enquanto eu trabalhava em alguns equipamentos.
Quando tentei a convencer de um uniforme novo, mas recusou. Eu secretamente trabalhava em um novo, que a daria em breve. Agora eu estava sozinho, sem Pepper e sem a pessoa mais próxima de que tive como um porto seguro, que sempre estaria lá quando mais precisava. Seu cheiro invadiu minhas narinas, insistia em a fazer parar de usar o perfume com o odor de lírio, que a presenteei de Natal, mas ela havia gostado tanto, que comprou outros quando acabavam; sorri ao ter essa lembrança, mas doía a ver daquele jeito.
Inclinei minha cabeça no seu peito, queria ouvir seu coração batendo, mas não ouvi nada.
Observei seu coração, que estava corroído pela onda de energia que a matou e me lembrei de quando ela me contou que Chopin, ao morrer, mandou seu coração de volta a uma igreja em Varsóvia, enquanto seu corpo ficou em Paris. Sabia que ela iria querer algo igualmente macabro, mas não teríamos um coração inteiro.
A apertei forte em meus braços, não sabendo o que fazer agora. Desejava que isso tivesse acontecido comigo, antes mesmo que com ela, mesmo sabendo que ela podia ser até mesmo mais velha que eu, devidamente ao soro. Ela sempre se recusou a dizer sua idade, mas me contava das histórias que ela passou na Hydra, as que recordava vagamente, infiltrada como uma espiã pela S.H.I.E.L.D. e de como ela sofreu tortura ao descobrirem sua real identidade. De como ela viu o projeto Viúva Negra em desenvolvimento e de como se viu uma pequena soldada em formação; só foi na S.H.I.E.L.D., a única vez que duvidou se estava no local certo, pois a Hydra era uma consequência.
E ela estava. Pelo menos em nossa dimensão.
Continua...
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Capitão América: O Multiverso
FanficNosso querido e amado planeta Terra não estaria preparado para mais um evento marcante que mudaria a sua história. Além de alienígenas, deuses enlouquecidos, um super soldado de outra época, assassinos altamente treinados, uma fera verde que poderia...