Capítulo 24

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*Não liguem para o clipe estranho, é apenas a música mesmo.

Eu estava pronto para ir. Mas nunca pensei que colocar uma gravata, ou um terno, seria tão difícil. E aliás, é o enterro da minha mãe, e eu nunca pensei que iria dizer isso.

E dizer isso em voz alta é bem menos torturante. Porque todo mundo escuta, não só eu. Dividir a dor é bem mais fácil do que apenas lidar com ela. Algumas pessoas podem até achar que não, mas para mim sim. Talvez.

Sam me olha e sorri, como se fosse fácil e simples. Mas não é. Como você se sentiria se você fosse no enterro da sua mãe?

Desculpa, mas eu não vou chorar mais. Acho que chorei o suficiente. Sou do tipo de pessoa que não gosta de chorar na frente dos outros, apenas para apoia-los.
É um pouco egoísta, eu sei.

Mas por sorte, Sam e Anne vão comigo, então está tudo bem. Tenho certeza de que milhares de pessoas vão, ou maioria delas.
Minha mãe ajudou muitas pessoas, o que fez essa cidade ama-la muito.
Fico feliz em saber que minha família fez alguma diferença no mundo. Me pergunto se eu vou fazer a mesma coisa, ou vou apenas ser uma das merdas do mundo.

Não faz diferença para mim. Tenho o Jonathan.

Sam me ajuda a arrumar a gravata. E depois saímos de casa. Resolvemos ir a pé mesmo. Não sei o motivo, já que nenhum de nós não falou nada. Ele parece estar mais de luto do que eu.

Pisei pela primeira vez, na terra umida do cemitério, já tem algumas pessoas lá. Um casal de idosos, que choram, fazendo barulhos estranhos.
A mulher de uma loja que minha mãe sempre ia, também está lá. O meu ex treinador de futebol também, que sorri ao me ver. Algumas amigas da minha mãe também. Mas todos estão com rosas vermelhas nas mãos, já que era a favorita da minha mãe.

Passei por algumas pessoas, ficando um pouco atrás delas. O padre começou a falar. Mas eu não consegui prestar atenção, por sono e por não querer. Sam ficou do meu lado, com a cabeça abaixada, em sinal de respeito.
Eu apenas fiquei encarando as pessoas e seus choros um tanto forçados.

Uma pessoas nova apareceu. Mas diferente de todos os outros, ela usava um vestido branco, e com uma pulseira preta.

Cristha.

Ela me olhou, mas não sorriu, apenas ficou me olhando. E disse silenciosamente:

Entende agora?

Entendo.

Desvio o olhar para outra coisa. Scott. Ao lado de Cristha, o que me fez sentir um pouco de ódio. Ele não deveria estar aqui. Eu não deveria estar aqui.

Ouço meu nome ser chamado, é  o padre.

- Quer falar alguma coisa? - Pergunta ele. Balanço a cabeça, negando. Acho que não sou capaz de falar nada, apenas para dizer para o Scott sair daqui.

Fico parado no mesmo lugar, enquanto, algumas pessoas dizem coisas bonitas sobre minha mãe, sobre como ela os ajudou e como todos nós vamos nós lembrar dela.

Com certeza, vão.

Olhei para algo que me chamou muita atenção.  Uma pessoas atrás da grade do cemitério. Em específico, o diretor Samuel.
Ele me olhou, com a expressão seria. Mas nada vai mudar isso.
Então, ele sorri. Mas não um sorriso de conforto. Um de felicidade. Porque alguém estaria feliz em um enterro?

Minha raiva subiu ainda mais. Ele estaria alí para me espantar ou apenas está esperando o filho?

O que eu quero nesse exato momento, é pegar a bíblia gigante do padre e jogar em cima da cabeça do Diretor Samuel. E ver se ele desmaia, ou morre.

Aos pouco, ele sumiu por trás das árvores que tinha atrás do cemitério.
Voltei a olhar para as pessoas que jogavam flores por cima do caixão da minha mãe.
Desvio o olhar para Anne, que está abraçada com Gabriel. Não sabia que ele havia vindo.

Depois de algumas pessoas falarem coisas bonitas, mas sempre a mesma coisa, o caixão de minha mãe foi finalmente enterrado. Em sua lápide, estava escrito: Ajudou muito aqui na Terra, agora está ajudando no céu.

Eu achei meio brega, mas foi a empresa que escolheu. Então não pude fazer muita coisa.

Algumas pessoas foram embora, mas eu ainda continuei no mesmo lugar que estáva desde o começo, com Sam ao meu lado. Anne e Gabriel foram embora, mas Cristha e Scott ainda estão alí.

Puxei Sam pelo braço, indo em direção à saída, mas ouço meu nome ser chamado.

- Luccas! - É Cristha, e Scott ainda a segue como um cachorrinho.

- O que foi? - Solto o braço de Sam. Ele  olha para Cristha e depois para Scott.

- Você está bem? - Pergunta ela, e Scott fica ao seu lado.

- Como você acha que eu deveria me sentir?

- Está bravo comigo? - Diz Cristha, cruzando os braços.

- Não - Aponto para Scott - Estou bravo com ele.

- E o que foi que eu fiz? - Scott olha para Cristha, e depois me olha.

Estou me segurando, pela minha mãe, e por Sam. Mas se fosse por mim, Eu bateria no Scott aqui e agora.

- Acho muita cara de pau sua vir no enterro da minha mãe. - Digo, puxando o braço de Sam, o fazendo se aproximar de mim. Sam coloca sua mão por cima do meu braço o apertando um pouco.

- Está insuando que a culpa é minha? - Diz Scott, dando passos á minha frente. Cristha o segura pelo braço.

- Scott - Puxo meu braço, fazendo Sam parar de segura-lo - Você saí daqui ou eu quebro essa lápide na sua cabeça.

Seguro o pulso de Sam e o puxo até a saída. Sam se espanta por um segundo e puxa seu braço de volta.
Me encara com um certo desespero, mas eu não sei o motivo.

- Vamos embora. - Começo a andar em direção à casa de Sam, e o mesmo me segue atrás de mim.

Me sinto um inútil por ter assustado Sam. Eu sempre estrago tudo. Talvez, esse seja meu dom.

Por Trás Da MáscaraOnde histórias criam vida. Descubra agora