Então, Respire fundo

42 4 3
                                    

Capítulo 29

E ouvir todo esse som horrível que o hospital faz quando alguém morre me faz querer fugir. Como sempre. Não é algo com que eu consiga lidar apenas com a cabeça abaixada. Ouvindo os pais de Sam gritando, e chorando, e fazendo perguntas.

"Meu filho está bem?"

E mesmo sabendo a resposta, eles parecem bem mais calmos do que eu. Eu não estou chorando, não por enquanto. Mas o desespero de ficar na mesma posição fetal me dá uma certeza angústia.

Quando Sam me disse que ele sabia que não ia sobreviver, ele sorriu. Como se fosse a coisa mais legal, ou indolor do mundo, mas não era. Ele mentia para todos, e até para mim. Era por isso que ele preferia ficar sozinho, e somente lendo livros. Porque nos livros ninguém morre, na maioria das vezes. Mas eu ferrei tudo, quando me aproximei dele, e me tornei tudo que ele nunca teve, por segurança.

Eu ferrei tudo quando disse que ele era o único amigo com eu realmente me sentia vivo. Eu ferrei tudo quando disse que ele era a melhor coisa que havia acontecido comigo. Eu ferrei tudo quando simplesmente, o convidei para ir na minha casa, ou quando ele me perguntou se eu estava bem, e eu pensei que ele fosse diferente, embora realmente fosse.

Eu fiz Sam sofrer muito. Ele não conseguiu dizer adeus tarde demais. Ele não me disse que iria ir para a escola amanhã e dizer para Anne, que estava tudo bem. Ele não me disse Adeus porque não conseguia. Sam é uma das poucas pessoas que eu já vi fazerem isso. De mil e uma pessoas, apenas uma será assim. Que se sacrificará pelos amigos, mesmo que isso custe muita coisa, e custe toda a sua dignidade.

O mundo não estava preparado para Sam. E por ele ser diferente, o mundo achou que ele fosse apenas um dano colateral, mas não era. Sam era tudo. Um bom filho, um ótimo amigo, e um bom cara para achar que tudo vai dar merda, com um pessimismo maior do que sua inteligência, mas não por não acreditar em mim, mas sim por não querer ir para a cadeia, e deixar de ser o filho perfeito.

Por que Sam sabia, que seus pais tiveram muita sorte por tê-lo e por Isso, sacrificou sua vida para ser o filho que eles tanto queriam. Um filho que não saia muito de casa, não reclamava da escola, não arruma briga com quem esbarrava "sem querer", e quem não chegava em casa tarde, e bêbado, Como a maioria dos adolescentes fazem. Ou faziam.

Sam não era como eles, ele nunca iria ser como eles, tudo pelos pais. Ele deixou de viver a vida como queria para não fazer os pais se arrependeram de ter tido um filho.

Foi o que Sam me disse.

"Sabe como foi quando o médico me disse que eu tinha câncer? Meus pais me olharam e sorriram, e disseram que tudo ia ficar bem. Mas sabe, toda a vez que alguém disser isso para você, você sabe que é mentira. E naquele momento eu soube que ia morrer. Que tudo que eu não havia feito, havia sido jogado num poço sem fundo pela merda da Humanidade. Tudo que eu deixei em casa, e fui ver aquele médico, tudo isso havia sido jogado fora, descartado. E depois voltamos para casa, meus pais poderam chorar, enquanto eu fingia que dormia no quarto, e ouvi eles se lamentando. Eu torci para que o médico tivesse aberto o exame de outra pessoa, mas era realmente o meu. Eu não tinha direito de nada, apenas de ficar calado e ouvindo como as pessoas são falsas. Elas me diziam que tudo ia ficar bem de novo, me diziam que haviam passado por isso, quando na verdade ele não passaram porra nenhuma.
Você entende isso, Andrei? As pessoas mesmo sabendo que eu vou morrer foram falsas, mas você não. Você não me disse que eu vou viver, porque também sabe que não. Você apenas ficou todo o dia olhando para essa minha cara de bunda, enquanto eu morria aos poucos. Ninguém me disse que ia doer tanto assim dizer adeus. Não se sinta culpado. Você é a melhor coisa que me aconteceu, e eu fico feliz em saber que meu primeiro e último beijo tenha sido com você."

"Não me diga que você está bem, Sammy. Porque eu sei que você não está"

Então ele me disse para sair da sala. E eu com um puta peso na consciência, e com lágrimas nos olhos, saí. Sam me disse para não olhar para trás. Ele me disse iria doer menos, se eu apenas seguisse em frente, e arrumasse a merda da minha vida.

Mas até agora, desse jeito, eu não entendo. Mas que porra Sammy, eu não entendo. Não. Não doeu pouco, e não doeu demais.

Porque eu não consegui dizer uma única palavra?

Eu apenas vi você morrendo, e não fiz nada. Apenas observei você sentir dor, enquanto eu ria e brincava de detetive com o diretor Samuel. Eu não parei para perguntar, se você está bem. Por que ser egoísta, nesse tipo de situação é bem mais indolor do que parece.

E por isso, mas só por isso, eu não olhei para trás. Por que eu fui obediente o suficiente para ver você olhar para mim, com um maldito sorriso no rosto. Me dizendo silenciosamente:

"Dessa vez, o problema é somente meu"

Por Trás Da MáscaraOnde histórias criam vida. Descubra agora