Capítulo 14

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Eu passei o restante da tarde em casa, no meu quarto com o celular na mão. Conversando com Sam.
Falando e perguntando como foi o "encontro" dele com a Anne.
Ele me xingou e disse que Anne é  bem legal, mas não foi um encontro. Ela só estava pedindo ajuda com uma matéria escolar.
Me bateu uma leve decepção, confesso.
Eu pensei que eles teriam, sei lá, um romance adolescente super brega, mas eu apoiaria. Anne não parece ser daquelas garotas que só sabem iludir.
Eu, pelo ao contrário, passei quase o passeio inteiro ouvindo as reclamações de Hazel, de como o mundo e a vida é injusta com ela. E como tudo dá merda para ela.
Pois é, eu me segurei, para não falar que talvez se ela parasse de pensar assim, isso tudo não iria acontecer.
Mas me aguentei, Hazel pode parecer um anjinho, mas não queira mexer com a famosa Pikachu.

Eu não vi mais Cristha, e quer saber, isso é bem aliviante.  Ela sempre está com o idiota do Scott e minha única vontade e de socar a cara dele. Nada me impede disso, mas tem a Cris também. E em como eu a beijei naquela festa. E em como eu ainda sou apaixonado por ela, eu sei, não adianta quantas vezes eu tente não saber de nada, eu sempre vou saber a verdade no fundo.

Fui na delegacia esses dias, e tudo que fiquei sabendo é que ainda meu pai está desaparecido. O que não me surpreende. Desde quando meu pai não retornou mais para casa, eu tenho ido na delegacia a quase duas vezes ao mês para saber sobre ele. Quase sempre é a mesma resposta:
" Ainda não achamos nada".

Quando eu descobri sobre seu desaparecimento, eu fiquei muito puto. Não sei o que deu em mim. Eu comecei a gritar e dizer que todos ali eram inúteis, embora fosse um pouco verdade, de como eles poderiam deixar uma pessoas sumir assim, sem deixar rastros.
Eu realmente não sei, mas desse ser por isso que as polícias da delegacia ainda me chamam de psicopata, ou louco.
Mas vai por mim, depois desse dia, fui chamado de coisas bem piores.

Bem, eles deveriam entender. Minha mãe e meu pai são minha única família. Ou era.
Minha mãe, depois do desaparecimento do meu pai, ela se tornou muito fria. Recebia, e ainda recebe dinheiro da empresa, já que meu pai era o dono. E desde então, Mary vem voltando para casa bêbada ou as vezes até drogada.
As vezes penso que eu e ela trocamos de lugar. Ela é o adolescente irresponsável e rebelde e eu sou a mãe coruja que sempre espera o filho acordada e se dá mal no trabalho por isso.

Tirando essa última parte, é mais ou menos isso. Só que no meu caso é a escola. Não trabalho.

Eu estava pensando em arrumar um trabalho, mas parece que ninguém quer um garoto de 17 anos que se revoltou com o mundo após ter tido o pai tirado. Pelo o que eu entendi, na cabeça das pessoas dessa cidade, eu sou um monstro. Um esnobe monstro riquinho, que só sabe fingir estar preocupado com o pai. Quando na verdade não é nada disso.

Entende quando eu disse que já fui chamado de coisas piores?

Mas com o tempo a gente se acostuma não é.
É  o que minha mãe diz. Bem, dizia.
No começo ela só chorava, mas depois ela passou a enfrentar a "perda" com álcool  e drogas. E se fingindo estar dormindo, mas eu sei que ela estava chorando.

- Luccas, vem aqui em baixo. - Gritou Mary do andar de baixo. O que é um milagre, já que nessas horas, ela está dormindo. Ou fazendo algo.

Desci as escadas correndo e a encontro na cozinha, com um avental e pegando uma panela para alguma coisa. Levanto as sobrancelhas. Surpreso.

- Vou fazer gelatina, eu lembro que você adora. - Diz ela sorrindo e passando a mão no avental.

- Adorava - Digo, ainda estranhando sua ação - Até Cristha me desafiar a comer mais de 100 gelatinas. Quando eu tinha 7 anos.

- Mas você gosta não é? Quer que eu faça? - Ela olha para mim feliz, apenas  balanço a cabeça afirmando. - Okay. E a delegacia ligou. Disseram para ir lá, é urgente.

Desvio o olhar para o relógio de parede que fica no canto da cozinha. Está tarde demais.

- Okay, eu vou.

- Pega um guarda-chuva, acho que vai chover.

Vou em direção ao corredor e pego o guarda-chuva que fica num vaso ao lado da porta de entrada.

Vou caminhando lentamente, rodando o guarda-chuva por enquanto que não chove.
As pessoas passam do meu lado. Algumas eu já vi, ou sabem da minha "história" e me olham com uma certa pena. E a sensação é horrível.
Me olham como se eu fosse o vilão, mas mal sabem eles. Eu não sou.
Um cara, que corria em minha direção esbarra em meu ombro, me fazendo virar o corpo bruscamente.
Olho para o lado, o homem estava encapuzado, mas ainda dá para ver os cabelos grisalhos e as marcas de expressão.
O que indica que ele é um pouco mais velho.

O mesmo nem se desculpa e volta a correr descontroladamente.
Eu estou indo para delegacia, posso denunciar esse cara, Não posso?

Ao chegar na delegacia, sou anunciado pelo delegado. Com uma expressão feliz e ao me encontrar sorri como nunca sorriu para mim antes. Eu não sei se isso é algo bom, ou ruim.

- Luccas Andrei! - Exclama o Delegado Willian.

- Só Luccas, está bom.

- Ah, claro - O Delegado parece ter esquecido por um instante o que era urgente. - Bem, temos alguém para lhe apresentar.

- Pensei que fosse sobre meu pai.

- E é, vem, entre, vou te explica melhor - Diz e indica um porta. Eu o sigo e entro em seu escritório.

Me sento em uma cadeira e o encaro. O Delegado Willian, se senta em sua cadeira giratória e mexe em alguns papéis, fazendo um barulho extremamente chato, me fazendo ficar ansioso.

- Sobre o seu pai, infelizmente ainda não achamos seu paradeiro, mas em meio as investigações, encontramos uma criança.

- Uma criança? - Pergunto, sentindo meu coração apertar.

- Sim. Filho do seu pai. Pelo que parece, essa criança morava com seu pai e outra mulher. E depois de um tempo, seus pais desapareceram e a criança passou a morar num orfanto e desde então não diz uma única palavra.

- Meu pai tinha um filho com outra mulher? Mas onde ele está?

- Infelizmente, ainda não sabemos. Quer conhecer seu irmão?- Diz o Delegado todo sorridente, ele parece estar animado.

- Claro.

O Delegado pega o telefone na mão  e fala alguma coisa que eu nem fiz questão de prestar atenção.
A porta foi abrindo lentamente. E assim apareceu Julie, uma outra policial e um garoto ao seu lado.
Com o cabelo preto bagunçado, e seus olhos negros frios e sem vida, com as mãos agarradas as alças de sua  mochila do ben10. Usando uma camiseta branca e uma calça jeans preta. Não era tão baixo nem tão alto. Diria que ele aparenta ter uns 10 anos ou mais.

- Luccas, conheça seu irmão mais novo, Jonathan Muller.

Sai da delegacia e estava chovendo. Olhei para o lado, Jonathan estava agarrado a barra da minha calça, como se tivesse medo de se perder.
Mas como eu vou levá-lo  para casa assim. Com o céu caindo em cima de nós? Ou quase.

- Está tudo Bem, Jonathan.

O mesmo me olha e assenti com a cabeça e volta a olhar para frente.

Pedi para ele segurar o guarda-chuva e assim o peguei no colo e coloquei-o em minhas costas. E pedi para o mesmo abrir o guarda-chuva e assim não o molharia e nem á mim.
E fomos assim até chegar em casa.
Mas dessa vez, ninguém esbarrou em mim, por sorte. Pois se isso tivesse acontecido, Jonathan e eu iríamos cair e nós molhar.
E isso resultaria em um resfriado horrível.

- Mãe!

A chamei quando entrei em casa e puxei Jonathan pelo braço.
Guardei o guarda-chuva e olhei para o final do corredor, vendo atentamente a expressão de minha mãe.
Ela parecia espantada, mas logo sua Expressão muda. Um enorme sorriso aparece em seu rosto o que me faz lembrar de que minha mãe  adora crianças, principalmente em casa.

- Quem é ele? - Diz ela com um sorriso assustador no rosto.

- É o Jonathan. Filho do papai. Com outra mulher.

Olho para Jonathan, ele olha para Mary com um certo receio. Talvez com medo de seu sorriso. Mas quer saber? Fazia anos que eu não via esse sorriso não forçado de minha mãe.

- Pois é - Digo, fazendo Mary me olhar - O Papai tem o pipi solto.




Por Trás Da MáscaraOnde histórias criam vida. Descubra agora