Capítulo 36

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'Problema seu, é problema nosso'

Entramos para dentro da delegacia, e ficamos parados na entrada, só estamos aqui porque Josh não queria ter que responder as várias perguntas dos moradores daquela rua, e nem dos jornalistas que haviam se aglomerado ali, e ele estando dentro da delegacia pareceria que está ocupado demais. Cruzei os braços, e Josh fez um gesto para eu me sentar, mas continuei parado no mesmo lugar, se eu me sentasse isso iria demorar, e eu não quero, pois Jonathan ainda está dentro do carro da policia, já me sinto aflito em deixa-lo sozinho.

- Tudo bem – Começou Josh – Sabe aquela empregada da escola? Ela disse que estava sentindo um odor horrível daquele lugar, no começo achou que não era nada, porque lá é onde eles guardam documentos antigos, mas ao passar dos dias, o odor foi piorando e por isso, ela resolveu abrir, e lá ela encontrou um corpo humano, chamou a policia, e fizemos a autopsia, seu pai. Era o DNA dele. Tentamos falar com o Diretor Samuel, mas ele não estava na escola e nem atendia o celular, foi dado como suspeito, e depois que recebemos a ligação de que você e Jonathan haviam sido sequestrados por ele, ele foi dado como culpado.

Pensei por alguns instantes, talvez se eu tivesse sido um pouco mais inteligente, talvez se eu ainda tivesse o Sam, eu teria salvado meu pai. Como contar isso para o Jonathan? Eu nunca precisei dizer para ele que alguém não vai voltar mais – Na verdade, eu nunca precisei dizer isso para ninguém.

- Pensa um pouco – Descruzo os braços, fazendo Josh me olhar com curiosidade – Se eu tivesse prestado atenção, um pouquinho que seja meu pai ainda estaria vivo. E eu não teria que explicar para Jonathan que mais alguém morreu.

- A gente nunca sabe dessas coisas, garoto. 

- Espero que o próximo não seja eu. – Digo, ignorando totalmente a última frase de Josh, que olhou para mim com certa pena.

Eu realmente odeio isso.

Saio pela entrada da Delegacia, e vou em direção ao carro que Jonathan está. Abro a porta traseira e ele me olha assustado, receoso se sai ou não.

- Calma, sou eu.

Ouvi sua respiração pesada se tranquilizar, e seus bracinhos aparecem para fora do carro, ele se apoiou na porta e saiu, fechei logo em seguida. Ajoelhei-me e fiquei na sua altura, ele me olhou com o cenho franzido. Passei a mão por cima dos seus cabelos negros, e sorri, olhando cada parte do seu rosto.

- Vamos para casa, está bem? – Ele não diz nada, apenas fica me encarando.

- Papai morreu, não foi? – Me surpreendi, que quase caí no chão, como ele consegue sentir essas coisas?

- Como sabe?

- Samuel me falou, quando eu estava preso. – Aquele desgraçado, mesmo preso não deixa de atrapalhar tudo – Acho que eu já sabia bem antes, talvez fosse para ser. – Jonathan olha para o lado, como se tivesse sentindo o que papai sentiu, ou como se quisesse sentir.

Jonathan dá de ombros. Havia me esquecido de como ele é bem mais 'maduro' do que eu, e bem mais frio.

Passei meus braços em volta do seu corpo e o apertei, senti suas mãozinhas, segurarem firme em minha blusa, como se tivesse medo de soltar.

Me levantei e segurei sua mão, sorrindo para ele. Caminhamos um pouco a caminho de casa, em um silencio constrangedor, mas eu entendo. Não tem muito o que dizer quando seu pai morre, não é mesmo. Não é como se eu ficasse me lamentando o tempo todo.

Avistei Hazel, uma ruiva, Cristha e Gabriel. Mudei minha direção indo até eles, o que fez Jonathan olhar para os lados.

- Fiquei sabendo, sinto muito. – Disse Hazel, que sorriu.

- Você sumiu, para onde foi? – Perguntei, soltando a mão de Jonathan, mas ele ainda segurou em minha blusa.

- A mãe de Bob morreu, e ela morava em outra cidade, aproveitei para dar uma pensanda, sabe?

- Como ele está? – Cruzo os braços, me afundando no assunto.

- Era a mãe dele, né? Ele está mal.

- Eu entendo – Digo, olhando para os outros três atrás de Hazel, que apenas me olham e soltam um sorriso de conforto. – Se você estava em outra cidade, como ficou sabendo de tudo?

- Gabriel me contou – Ela aponta para o garoto grande atrás dela.

- Vocês andam conversando? – Olho para Gabriel, que fica um pouco constrangido, e depois para Hazel.

- Sim, ele me contou tudo. E por isso, voltei.

Cristha se aproxima e fica ao lado de Hazel.

- Você disse que quando fizesse dezoito iria embora, seu aniversario é semana que vem.

- E eu vou para empresa semana que vem.

- Mas você vai voltar? – Pergunta Anne, que fica ao lado de Cristha, sorrio para ela.

- Provavelmente – Descruzo os braços, sentindo o cansaço em meus ombros – Eu sei que uma hora ou outra eu tenho que enfrentar a verdade, mas prefiro fugir por enquanto.

- Acha que fugir é a melhor opção? – Pergunta Cristha, cerrando o cenho.

- Na minha situação é, talvez – Olho para Jonathan ao meu lado, e seguro sua mão. – Preciso ir gente, amanhã vai ser um pouco difícil, preciso dormir e processar tudo.

Sorrio para todos eles, prometi para mim mesmo, mentalmente, que nunca iria esquecer os rostos deles, isso que é o importante quando eu for. Olhei para eles, eles sorriram e mesmo em silencio, soube na hora, que quando eu voltar, eles estarão aqui para mim, e eu estarei aqui para eles.

Se no começo do ano, eu me sentia sozinho e infeliz, não me sinto mais, isso que é amizade? Espero que sim, sinto pela primeira vez na vida que mesmo indo embora, eu tenho algum lugar para voltar.

Segurei firme a mão de Jonathan, sorrindo abertamente para ele, dei um beijo na bochecha em cada garota, e um toque de mãos demorado em Gabriel. Sai em direção á minha casa, espero ir para a empresa o mais rápido o possível, talvez assim doa menos, e eu me sinta um pouco menos culpado.

Talvez se eu tivesse escutado minha mãe, ou começado a investigar isso antes de tudo começar a dar muita merda, Sam poderia ter morrido sabendo quem e porque fizeram isso. Talvez eu estive sendo egoísta esse tempo todo, para prevenir a dor, e talvez eu só tenha medo de sentir ela.

Mas agora é tarde demais para viver baseado apenas no 'talvez'.

Talvez, quem sabe?

Por Trás Da MáscaraOnde histórias criam vida. Descubra agora