Capítulo 32

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Eu fui para a escola hoje. Eu sei que  não deveria. Pois eu atraí muitos olhares. Tristeza. Raiva. Pena. E até mesmo um pouco de Medo.
Mas se eu não tivesse ido, do jeito que essa cidade é, eles iriam falar que eu havia ido parar no mesmo buraco que meu pai.
Mas não foi isso que aconteceu. Eu não posso mais criar laços aqui, já que minha reputação de 'garoto que tem amigos mortos' é bem conhecida.

É por isso que ninguém consegue viver aqui nesse lugar. Todos julgam todos. Todos machucam todos. E ninguém não faz nada para parar.
Porque todos tem medo. Medo de serem julgados também.

Se perguntassem para meu eu de antes, qual era a coisa mais importante para mim, Eu iria dizer que era o Time de futebol. Mas se  me perguntassem isso agora, eu diria que é manter Jonathan vivo. Já que ele é a minha única família.

Eu sei. Pode soar um pouco egoísta e precipitado demais. Mas é verdade.

Ninguém está seguro o suficiente com tudo isso acontecendo. Principalmente, quando o principal suspeito é alguém que tem a escola toda nas mãos. E eu estou nessa escola.

Gabriel me disse que eu preciso me formar primeiro, antes de querer fazer qualquer coisa. Sair da cidade, me tornar presidente da empresa, ou qualquer outra coisa do tipo.

Eu sei que ele tem razão.

Eu não posso fazer nada com 17 anos. Principalmente, com Jonathan.
Já que ele é menor de idade.

- Você está bem, Anne? - Pergunto olhando para a ruiva, á minha frente, roendo as unhas.

Ela balança a cabeça e me olha de volta.

-  Não - Anne passa a mão pelo cabelo, afastando os fios rebeldes - Sinto como se faltasse alguma coisa.

Levanto as sobrancelhas rapidamente. Parece que quando um aluno morre, ou vai embora, a escola toda fica de luto. Por mais que quase ninguém conversasse com ele. Parece que todos sentem a dor juntos.

Porque o refeitório todo está silencioso. Algumas pessoas conversam, mas só que bem baixo. Outras colocam seus fones e ouvem suas músicas no último e abaixam a cabeça. Não está aquele barulho irritante de pessoas fofocando igual à antes.

Scott passa ao meu lado, Me encarando. Como se quisesse me ler, mas não consegue. O olho de volta, com o meu pior olhar. Gabriel o olhar também, cerrando os dentes, fazendo Scott desviar o olhar e ir se sentar junto com seus 'amigos'.

Vi Cristha se sentar junto à eles. Scott tenta falar com ela, mas ela ignora. Talvez ela tenha percebido.

Já estava na hora.

- Luccas?

Ouvi meu nome ser chamado. Olhei para trás e era o Tayson.

- O treinador quer falar com você. - Diz ele, apontando para a porta.

Olho para Gabriel, que balança a cabeça. Me levanto da mesa e vou em direção do corredor.

Sinto os olhares em mim. Como se eu fosse algum monstro. Mas eu seja que isso é apenas pena deles.

Estou cansado das pessoas sentirem pena de mim. A sensação é bem mais horrível do que parece.

Bato na porta, e entro. Logo vejo o Treinador Bernado, segurando os papéis e inclinando sua cadeira.

Torci, por um instante que ele caísse.

Ao me ver, o treinador sorri e pede para eu sentar, mas não faço questão. Não quero demorar muito aqui.

- Fiquei sabendo de sua mãe - Ele cruza as mãos, em frente ao corpo - E de seu amigo, o Sam. Eu sinto muito.

- Obrigado - Aponto para a porta - Posso ir agora?

- Espere um instante - Diz ele, que abre uma gaveta de sua mesa, e tira de lá minha antiga jaqueta do time. - Conversei com o Diretor, e ele autorizou que você poderá voltar para o Time.

Ele diz sorrindo. Eu desvio o olhar para a parede. E solto um sorriso debochado.

Eu não acredito nisso!

O treinador coloca a jaqueta sobre a mesa, e bate algumas vezes com as mãos.
Me aproximo dela, e a pego. Sentindo minha mão formigar.

Segurei a jaqueta nas minhas mãos e de repente a felicidade e saudade bateu em meu peito. John e todo o time. Quando a gente ganhava e ia comprar pizza e muito refrigerante.
E a Cristha. Ela me apoiava em tudo e dizia que se eu continuasse com isso, eu iria longe.

Mas não foi bem assim, não é?

E por mais que eu tenha muita saudade, naquela época eu não precisava me preocupar com nada disso. E isso me deixa um pouco mais aliviado.

Mas isso é por alguns segundos. Toda a felicidade vai embora quando eu me lembro de Sam e da minha mãe. De todo o sangue que eu vi em menos de seis meses. E de como eu ainda estou aqui, e não no passado.

Balanço a cabeça, aperto a jaqueta com as mãos e coloco sobre a mesa.

- Não, obrigado - Cruzo os braços - Não preciso que sinta pena de mim.

- Não é pena - Diz o treinador me olhando indignado - Você realmente é bom.

- Então porque precisou esperar minha mãe e Sam morrer para me dizer isso? - Passo a língua por cima do lábio inferior e levanto as sobrancelhas.

- Qual é? Se fosse o Luccas de antigamente ele iria aceitar. - Ele solta um sorriso debochado e cruza os braços e volta a inclinar a cadeira.

Deus, faça esse cara cair. Por favor.

- O Luccas de antigamente está enterrado junto com minha mãe e o Sam - Cerro os dentes, dando um passo para trás - Com todo o respeito, Treinador, você é um puta idiota.

Saio de sua sala, o deixando boquiaberto. Talvez eu tenha pegado pesado, mas não quero mais ninguém sentindo pena de mim.

Volto a andar pelo corredor, fazendo as pessoas se questionarem, que tipo de  conversa eu tive com o treinador que durou tão pouco?

- Ah! - Passo mão por cima da toca da minha blusa e coloca por cima da minha cabeça - Eu não deveria ter vindo para a escola.

Por Trás Da MáscaraOnde histórias criam vida. Descubra agora