Capítulo 30

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Sai do hospital, ainda ouvindo as pessoas dizendo que sentem muito, que a dor vai passar, mas eu sei que não vai.

Os pais de Sam me disseram que iam cuidar de tudo, e que eu não deveria me preocupar. Ainda que seja difícil.
Entrar em casa e a ver silenciosa me fez questionar onde Jonathan poderia estar.

Ele aparece no fim do corredor, com as mãos balançando, e me olhando de cima a baixo. Fecho a porta atrás de mim, e solto um suspiro demorado.

- Cadê meus doces? - Perguntou Jonathan, dando um passo à frente.

- Eu esqueci. - Passo a mão pela testa - Foi mal, garoto.

Jonathan não demonstra nenhum sentimento de ódio, ou de desapontamento. Apenas me olha tentando entender o que aconteceu.

- O seu amigo está Bem? - Pergunta ele, cruzando os braços e cerrando o cenho.

- Não. Ele morreu. - Solto uma leve risada, de nervosismo e olho para baixo. - É, Ele morreu - Balanço a cabeça, enquanto as lágrimas se formarem em meus olhos. - Merda.

As lágrimas, sem aviso prévio, descem pelas minha face, deixando minha bochecha molhada e áspera. A dor de estar chorando deixa minha garganta seca, fazendo cada lágrima que desde, rasgar meu pescoço, me causando uma agonia estranha.

Mesmo sem perceber, minhas pernas de repente, ficam bambas, e eu caio no chão de joelhos. Sem nem me importar, coloco a mão por cima do rosto para tentar amenizar a vontade de querer chorar. Mas não adianta.

Sou surpreendido, por braçinhos frágeis ao redor do meu corpo. Jonathan, com suas mãozinhas pequeninas, acariciam meu cabelo, e me aperta contra seu corpo.

É bom. Mesmo sendo de Jonathan, que eu soube da existência pouco tempo atrás.

É bom ser abraçado por alguém que sabe, realmente, como é essa dor. Mesmo que Jonathan seja uma criança de 11 anos, Ele perdeu a mãe e não tem ideia de onde está o pai. Ele foi enganado. Como eu.

Subo as escadas, devagar. Eu não sei exatamente, o que estou fazendo. Ou qual cômodo da casa, eu estou indo. Apenas estou indo onde minhas pernas querem que eu vá, embora elas já tenham vacilado á algum tempo.

Paro em frente ao quarto de minha mãe, que não abro há dias desde sua morte. Não sei se tenho coragem para abrir a porta, e encarar as fotográfias que temos juntos.

Coloquei a mão na maçaneta, e a girei. Queria não ter feito isso, Mas todas as lembranças boas invadiram minha cabeça, e me fez me sentir culpado.

Talvez, se eu não tivesse mexido com o diretor Samuel naquele dia. Minha mãe ainda estaria aqui dizendo para eu arrumar meu quarto e não esquecer de colocar ração para o cachorro, mesmo que a gente não tenha um. Ela apenas repetia o que as mães das novelas diziam para seus filhos, porque minha mãe mesmo não sabia o que dizer.

Entrei no quarto e olhei ao redor. A cama arrumada, e todas as roupas dentro do seu armário. O cheio dela me invadiu, me fazendo querer sair correndo. A mesma sensação de sempre.

Passei andando devagar pelo quarto. E olhei para uma mesa, que eu nem sabia da existência. Me aproximei e vi papéis que me chamaram atenção.
Um papel escrito"HoderGames" O nome da empresa do meu pai.

Mary administrava a empresa de longe, mandando dinheiro, recebendo contas. Fazendo reuniões, e ainda assim, ela continuou. Deve ser por isso que ela estava sempre cansada, mesmo não tendo um trabalho.
E é por isso, que mesmo sem ter um presidente dentro da empresa, a empresa nunca me obrigou á ir ou ficou colocando pressão em mim.
Já que tudo estava sob controle, com a Mary fazendo tudo.

E ao olhar, numa foto em cima da cômoda do quarto de minha mãe eu descobri, o porque dela ter sido morta. Na foto está, minha mãe e a ex esposa do Direitor Samuel.

Ele apenas estava eliminando concorrentes. Meu pai, minha mãe e o próximo seria eu. Depois Jonathan. E a empresa apenas iria a falência ou iria passar o comando para uma outra família próxima á Família Muller. Ou um outra família rica.

Mas essas famílias não existem. Não que consiga a confiança dos caras da empresa.

E era por isso que minha mãe nunca deixou que eu soubesse alguma coisa de dentro da empresa, ela não queria que eu fosse um alvo.

O próximo sou eu. Mas não vou deixar que o Diretor Samuel, deixar conseguir isso.

Ouvi a chuva cair lá fora. Fazendo o vento entrar pela janela do quarto. Fui em direção das cortinas virando e olhei para o lado de fora.

E vi Cristha. Com os braços cruzados, e com o cabelo molhado por causa da chuva que cai sobre sua cabeça.

Desci as escadas correndo e abri a porta. Cristha logo levanta seu olhar, e franzi o cenho.

- Vai pegar um resfriado.

- Porque não me contou? - Pergunta ela, tentando parecer brava.

Me encosto no batente da porta. E solto um sorriso.

- Pneumonia se tiver sorte. - Olho para os lados, tentando fugir dessa conversa, mas uma hora ou outra, eu teria que explicar isso para ela. - Vai para a casa, Cristha. Depois a gente conversa.

- Porque não me contou que era você naquela festa? - Ela dá um passo para frente, tentando me colocar medo, mas não adianta.

- Faria alguma diferença?

- É claro que faria. - Diz ela descruzando os braços.

- E iria fazer o que? - Levanto as sobrancelhas e passo a língua por cima da boca - Iria dizer que estava bêbada? Ou drogada? Ou que foi abduzida e por isso não consegue mais distinguir rostos? Fala sério, Cristha.

- Iria pedir desculpa - Ela me olha no fundo dos olhos, e aquela mesma sensação de quando eu a vi pela primeira vez, voltou.

- Deveria ter feito isso antes. - Coloquei a mão em cima da porta, para fecha-la, mas Cristha me interrompeu.

- Você está sendo egoista!

- Estou sendo egoista? Depois de perder toda a família, as pessoas ainda deveriam ser dóceis?

- Você está esquecendo que não está sozinho - Fala Cristha devagar - Você tem a Hazel, o Gabriel e eu.

- Mas não tenho mais o Sam, nem minha mãe. Não tenho mais motivos para fazer isso.

- Ache outros motivos, ou arrume outra coisa para fazer. Porque você está fazendo merda, e isso está atingindo todo mundo.

Cristha saí do portão, com os braços cruzados, e com a roupa toda molhada.
Entrei em casa, e encarei as escadas. Por mais que essa conversa tenha sido muito curta, as palavras de Cristha ficaram um pouco em mim. Na minha cabeça, me fazendo pensar um pouco.

Não vai atrás dela.
Não vai atrás dela.
Não vai atrás dela.

Fui para o quarto e peguei uma jaqueta de couro quente. Desci as escadas e peguei meu guarda-chuva.
Sai de casa e fui na direção em que Cristha foi.

Fiquei ao seu lado, e coloquei a jaqueta por cima de seus ombros. Ela não protestou, mas senti sua raiva. Abri meu guarda-chuva e coloquei por cima de sua cabeça.

E fomos assim até chegarmos em sua casa.

Por mais que minha mente tenha me dito várias vezes para deixá-la ir, pois assim seria mais fácil dizer adeus...

Não me arrependo.

Por Trás Da MáscaraOnde histórias criam vida. Descubra agora