Capítulo 31

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Hoje é o enterro de Sam. Não pensei que iria ter que usar o terno preto de novo, tão rapidamente.
E eu nem queria.
Jonathan se vestiu. Ele fica bonitinho de preto.

Anne me disse que ela iria vir me buscar, pois não queria ir sozinha. Ela é a única que demonstrou medo de ir lá e dizer alguma coisa errada. Eu nunca fui de me despedir em enterros, ou velórios. Isso doí demais, e eu não quero mais sentir dor.

Hazel, desde o dia daquele festa na minha casa, não deu um sinal de vida. Algumas vezes ela me manda uma mensagem pelo Facebook, mas faz algumas semanas que ela não me diz onde está. Às vezes ela faz isso, some do mapa.

Os pais de Sam, me disseram que eles iriam cuidar de tudo, mas eu fiz questão de ajudar com tudo o resto.
Os pais de Sam, vão se mudar daqui á uma semana. Eu entendo. Deve ser ruim morar e estar numa cidade onde seu filho morreu.

Eu ainda não posso sair dessa cidade, porque não tenho 18 anos ainda. Mas quando eu o fizer, Eu irei sair daqui e ir para a empresa.

Não é o melhor futuro que eu esperei para mim.

Ouvi o carro de Anne, buzinando para mim. Vi Jonathan aparecer no fim do corredor, e me olhar com seus olhos sem emoção nenhuma.
Às vezes, ele me assusta.

Saí de casa, e fui até o carro de Anne, segurando a mãozinha de Jonathan.

O caminho até o cemitério foi silencioso. Ninguém tinha o que falar. Jonathan apenas estava me acompanhando porque ele me disse que não queria me deixar sozinho, embora ele saiba que eu nunca vou estar sozinho.

Anne não me cumprimentou, apenas soltou um leve sorriso, demonstrando que estava bem. Ela olhava para frente, para impedir de olhar para trás e começar a chorar. Anne me disse por mensagem, que se arrepende de não ter ido em festas que Sam estava, e não ter ido visita-lo mais.
Eu disse para ela, que ela não deveria ter esses tipos de arrependimentos, pois isso nos impedi de seguir em frente.

Ao chegarmos no cemitério, Anne saiu do carro e levou Jonathan com ela, até o topo do morro, onde Sam será enterrado.

Ao dar um primeiro passo para dentro daquele lugar, um arrepio subiu pela minha espinha. Eu não acho que viu aguentar muito tempo aqui.

Olhei ao redor, e encontrei Gabriel sentado num banco um pouco atrás do lugar onde pessoas estavam. Fui em sua direção, mandando uma apresentação de leve com a cabeça para as pessoas que estão ao redor do caixão de Sam.

- O que você faz aqui atrás? - Perguntei para Gabriel, quando me aproximei dele.

- Eu que te pergunto - Gabriel faz um gesto com a cabeça indicando o grupo de pessoas de preto - Você deveria estar lá, fazendo um discurso.

- Não sou bom com discursos - Me sento ao seu lado no banco - Principalmente quando é para os mortos.

Gabriel me olhou, e soltou um sorriso de canto, para tentar me confortar. Ele colocou a mão no bolso, e de lá tirou um maço de cigarro.

- É sério que você vai fumar? Aqui? Agora?

- Cara - Diz Gabriel colocando o cigarro na boca - Enterros me deixam nervoso. Preciso disso.

Então, ele queima o cigarro com o isqueiro, e dá uma tragada, deixando um monte de fumaça sair pelo seu nariz.

- Então - Dou de ombros - Sendo assim, também preciso.

Mesmo não querendo, e sabendo que isso é errado, pego o cigarro da boca de Gabriel e dou uma tragada.
Sinto a fumaça negra entrar pelos meus pulmões e sair rasgando pela minha garganta.
Imediatamente, devolvo o cigarro para Gabriel para evitar uma queimadura e ele morre de rir da minha crise de tosse.

- Deixa para lá - Me endireito no banco, ainda sentindo um pouco a fumaça em meus pulmões.

- Cara - Gabriel bate várias vezes em minhas costas para melhorar, mas apenas piora - Eu tenho que te ensinar tanta coisa ainda.

Não tenho muito tempo para aprender essas tantas coisas.

Ele dá uma risada baixa e calma, e dá mais uma tragada.

Eu sei que eu não ia conseguir. Mas eu não estava me importando se eu ia morrer ali, ou apenas me engasgar.
Viver o que eu nunca vivi, agora para mim, é a melhor opção.

Talvez, Sam tenha se sentido assim.

- Você fez isso, para tentar sentir o que Sam sentiu? - Perguntou Gabriel.
Olhei para ele, ele olhava diretamente para o enterro de Sam.

- Talvez - Dou de ombros, e olho diretamente para o lugar onde ele encarava.

- Não faz isso, cara. É tortura. E pesado - Gabriel me olha e tira o cigarro da boca e coloca entre os dedos - Até mesmo para você.

- É que eu não entendo. Talvez se eu sentir alguma coisa, eu consiga entender.

- Eu sei. - Gabriel me olha de lado - Eu também perdi alguém, lembra? Sei como doi. Mas sabe? Quem quer que seja que tenha feito aquilo com sua mãe e ter te deixado triste - Gabriel inclinou o corpo para frente e fechou a mão em forma de punho - A gente vai achar. Porque problema seu, é problema nosso.

Sorri e fiz o toque de mãos com ele. Ele sorriu e deu mais uma tragada no seu cigarro voltando a olhar o enterro.

Vi as pessoas chorando. Os pais de Sam estavam se abraçando, e algumas pessoas estavam falando alguma coisa sobre despedidas e vida pós morte.

- Está na hora de se despedir, cara. - Diz Gabriel se levantando e jogando o cigarro no chão e passando o pé por cima.

Hesitei por um instante em levantar e ir até aquelas pessoas. Eu não queria chorar perto deles, até porque eu já me despedi. Na minha opinião, a segunda despedida doi sempre mais.

Levantei do banco e fui em direção da Anne, que estava na frente do caixão de Sam. Ela estava com os olhos vermelhos e com as bochechas vermelhas.
Olhei para Jonathan, um pouco atrás de tudo isso, ele continua com a mesma expressão de quando a gente saiu de casa.

Olhei para o rosto tranquilo e sereno de Sam. E ainda assim, eu consigo enxergar o seu sorriso sarcástico, me dizendo "É sério, Andrei?"

Coloquei a mão de leve em cima da mão de Sam. Fria e gelada.

- A gente se vê, Sam. - Dou um leve sorriso e vou em direção aos pais de Sam, que me abraçam e agradeceram.

Peguei a mão do Jonathan, e o levei até a saída.
Eu sei que deveria esperar os outros, mas eu não sei se aguento chegar em casa, antes de começar a chorar igual ao um bêbê.

Por Trás Da MáscaraOnde histórias criam vida. Descubra agora