Capítulo 37

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No começo do ano, um nunca pensei que iria embora da cidade tão cedo, para mim a empresa estava bem, com qualquer outra pessoa na administração, eu não tinha tantas preocupações – Não que eu tenha muitas agora, mas parece que isso, a dor no caso, se tornou vinte vezes pior, e eu estou prestes a explodir.

Bomba Relógio. É claro.

Nunca diga nunca, não é mesmo? Eu só estou esperando para me despedir, talvez? Eu não sei. Ontem, me perguntei se era isso que eu iria fazer, se era isso que eu queria, por alguns instantes havia esquecido tudo, e a sensação foi tão boa, mas tudo voltou, batendo com muita força em minha cabeça, me dando uma forte dor. Jonathan havia me dito que eu não deveria aguentar tudo isso sozinho, mas com quem mais eu deveria compartilhar? Eu sempre fui sozinho, mas só percebi isso agora?

Estou esperando ainda tudo dar certo, o trinfo dos momentos ruins, mas quando você tem uma ansiedade, isso faz com que você fique esperando e o tempo passe bem lentamente. Talvez esse seja o nosso jeito de ver as coisas, ou o meu jeito pelo menos. Qual seria a graça de tudo dar certo logo no começo? As pessoas não dariam valor – Mesmo não dando muito, mesmo tudo dando certo. Qual seria a graça de ganhar tudo sem um pingo de esforço? Ou passar vida sem se apaixonar, e não ter um coração partido? Você não estaria vivendo, apenas existindo. Acho que estive fazendo isso por um tempo, por um bom tempo.

Prometi para mim mesmo que não iria chorar.

Não vou chorar

Não vou chorar

Não vou chorar

Mas não adiantou, chorei igual a uma criança, Jonathan perguntou o porquê, eu disse que estava descascando cebolas, ele não acreditou, claro, mas percebeu que era apenas uma desculpa para me deixar sozinho. Ele entende as coisas rápido.

Como você se sentiria se fosse embora e teria que se despedir de um amigo? Para ser mais exato, a lápide dele, ou da sua mãe?

Eu só queria gritar, sabe? Gritar para o mundo porque dele ser tão fodido? Eu só devo ter jogado pedra na cruz, para acontecer tanta coisa comigo. Às vezes, as pessoas perguntam como eu consigo aguentar tudo isso sozinho, e ainda continuar de pé, deve ser um dom, porque nem mesmo eu sei.

Queria entrar no cemitério e ir na direção do morro, mas não consegui, queria dizer para todos mais não consegui, queria fazer tanta coisa, mas tenho perdido tempo. E tempo é a única coisa que não conseguimos recuperar – Para mim, pelo menos. Porque eu queria poder voltar no tempo e refazer algumas coisas, mas não posso, e ficar pensando nisso, é perda de tempo.

Jonathan olhou para mim, e puxou levemente minha blusa.

- Você vai entrar? – Pergunta ele, apontando para dentro do cemitério.

Balancei a cabeça, negando.

Desistindo, é isso que estou fazendo.

Não que eu me importe muito, já que às vezes deixar ir, doe menos do que segurar.

Talvez eu só ignore, como todas as vezes que eu fiz, ou como sempre fiz, aprendi fazer isso, sozinho, quando, pela primeira vez, eu via meu mundo em preto e branco. Eu ignorei. Eu ouvia as pessoas, mas não via elas. Eu ignorei. Sam e minha mãe morreram, e doeu muito mais do que eu achei que doeria, e ignorei a dor.

Aquela leve pontada no coração, sabe? Ao ver Jonathan olhar para frente, balançar a cabeça e ir em direção ao taxi. Preciso disso. Preciso ir embora, antes que eu desista, e volte tudo de novo.

Eu sei que vou voltar, talvez, quem sabe?

Eu sei que ainda tenho alguns assuntos aqui, mas eu só vou deixar para lá por enquanto. Não sei se eu aguentaria dizer de novo adeus, e ainda ficar feliz, acho que estou cansando de fingir que está tudo bem, porque não está.

Por que não está?

Mas eu sei que isso é só uma fase, certo? Não venha me dar sermão, eu desistindo de novo. Quero deixar tudo para trás, porque não quero me tornar uma pessoa chata e entediante. 

Se um dia eu tiver filhos posso contar essa historia para eles, e eles iram perguntar como eu aguentei.

Eu não aguentei, apenas sobrevivi. Eu não sei, sabe?

Por Trás Da MáscaraOnde histórias criam vida. Descubra agora