10.Malditas Dietas

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*Nota da autora. 

Atenção: Muita gente começou a ler esse capítulo e parou no meio, achando se tratar de romantização de distúrbios alimentares. Leiam até o fim antes de julgar, é um relato com aprendizado no final. Nem todos passam por isso, mas nada impede de tentarmos compreender as experiências alheias. Espero que gostem.


A gente sempre quer se amar, se ver bonita, feliz e confiante. Mas acabamos em frente a um espelho, olhando as gordurinhas, os defeitos, as estrias, as celulites, as espinhas e o tamanho do nariz. Não fazemos isso por ódio a nós mesmos, se bem que acaba virando isso. A insatisfação se torna crônica e tudo que você passa a fazer é se odiar aos poucos, através de cada reflexo em superfícies refletoras pela rua.

Aos 15 anos eu estava em um momento teoricamente incrível da minha vida. Todos os garotos do colégio queriam ficar comigo, eu consegui o papel mais importante da minha carreira até então e muitas pessoas queriam ser meus amigos. Tive uma festa de aniversário luxuosa, tinha dinheiro e a admiração de muitos colegas. Mas eu queria mais, queria ser perfeita. Sim, exatamente isso, perfeita. Vestir 36, ter a pele mais homogênea, os cílios mais longos, as medidas perfeitas com uma barriga negativa.

Eu me cobrava muito, ainda mais que o papel na novela me trazia responsabilidades pois eu era a filha da mocinha. Ninguém me pediu para emagrecer, mas eu via minha imagem na TV e pensava que era urgente eliminar 5 Kg. Assim, fui atrás da única pessoa que eu conhecia que era capaz de emagrecer rapidamente: Morango.

Minha amiga era a louca da dieta, era magra, mas tinha uma certa obsessão por ossinhos aparecendo. Eu comecei a achar bonito também, talvez devido a lavagem cerebral que a mídia nos bombardeia por todos os lados, de revistas a filmes, novelas, comerciais... tudo mostrava que uma mulher com mais de 55 kg não era atraente e "saudável".

Morango ficou feliz quando mostrei interesse em emagrecer:

— Descobri a dieta perfeita. Você pode comer o que você quiser, desde que você vomite depois.

No início eu achei aquilo terrível. Todo mundo sabe o quanto é ruim adoecer e vomitar, mas eu estava com muita vergonha do meu corpo, ainda mais que eu faria, em breve, cenas na praia, então resolvi tentar.

Em pouco tempo dominei a técnica e aquilo começou a dar certo. Comia a vontade todas as coisas que eu gostava: pizza, sanduíche, chocolate.... mas logo depois colocava tudo para fora, aquilo trazia alívio da culpa que eu sentia depois de comer. Em duas semanas perdi os 5 Kg que eu queria.

Eu adorava tomar sorvete pois era fácil vomitá-lo depois, era macio e gelado. Morango ia além disso, ela tentava nunca comer nada, mas quando comia, vomitava. Ela perdeu 10 Kg. Chamava suas "novas amiga" de Ana e Mia (Anorexia e bulimia). Eu no fundo sabia que era errado, mas a magreza era uma conquista que valia qualquer preço.

O preço é alto, acredite. Em pouco mais de um mês, com 8 kg a menos, comecei a ter fortes dores de estômago. Gastrite, daquelas que faz a gente se curvar em volta da barriga e chorar de dor. Morango também sofria calada, mas para ela, estar com 43 kg era mais importante do que uma dor que resolvia momentaneamente com vários remédios.

Na novela, meu personagem chamou a atenção por ter emagrecido muito, logo os diretores me procuraram e interferiram naquilo. Meus ossos estavam aparecendo demais, eu não parecia mais saudável. O engraçado era que, para mim, eu ainda estava gorda. Sempre tinha algo para melhorar, eu nunca estava satisfeita, muito menos Morango.

Minha mãe estava preocupada, eu tinha tudo que sempre quis mas parecia uma garota doente e infeliz. No entanto, para mim, aquilo era correr atrás da minha felicidade. Eu só queria ser bonita, ser perfeita, ser tudo que me falaram para ser. Claro que nem sempre falam com palavras, as vezes te mostram o que é ser uma mulher perfeita e você começa instintivamente a correr atrás daquilo, sem perceber que está perseguindo uma ilusão.

Relutantemente aceitei fazer acompanhamento psicológico, o pessoal da novela estava preocupado comigo e eu estava com medo de perder tudo que eu tinha conquistado. Não queria ser conhecida como a garota que tinha um distúrbio alimentar, mas era justamente isso que eu era. Hoje olho para as fotos do passado e percebo as olheiras, o cabelo quebradiço e a pele seca devido a minha alimentação desastrosa, ou a falta dela.

Eu não entendia naquela época porque eu me olhava no espelho e me achava feia e gorda. Mas eu aprendi que é muito fácil nos enganarmos, a realidade não existe como pensamos, o reflexo no espelho não é a verdade, é apenas um interpretação da nossa mente. O que vemos no espelho depende do nosso estado emocional.

Quantas vezes você acordou de bom humor e se achou linda no espelho? Mas horas ou dias depois, viu uma coisa totalmente diferente? Eu aprendi uma coisa: Se eu estiver mal, melhor não me olhar no espelho, não há nada de proveitoso em ficar se criticando para si mesma.

Nunca fale sobre UnicórniosOnde histórias criam vida. Descubra agora