26.Nunca fale sobre a coisa

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Há muitos aprendizados que tiramos do mundo ao nosso redor, inconscientemente. Uma delas está relacionada aos assuntos que nunca devem ser falados. Alguns pensamentos ficam só para nós mesmos e todo mundo guarda alguns segredos. Para mim, um desses segredos é o fato de amar Vinícius e ter sentido atração por Milena.

 Como pode o amor e o desejo não estarem relacionados? Assim como uma peça do dominó derrubando todas as outras peças, minha cabeça começou a pensar sobre assuntos vergonhosos e embaraçosos até para mim mesma. Corpo e mente se revezavam para me enlouquecer. Eu queria experimentar essa maravilha que falavam nas músicas, filmes, séries, novelas e que todo mundo fala e ri e diz que é bom. Você sabe. Mas a vergonha de algo tão sujo me perseguia. "É pervertido? É mal? É bom? Eu quero saber". Até a palavra parece um xingamento, junto com transa, ahh como odeio essa última. Para não repetir essas palavras, vou me referir a elas como: coisa.

Gosto de pensar que Milena realmente me quis, quando me conheceu, e que falava sério quando me paquerou no seu carro na primeira vez que saímos juntas. Nunca mais ela sequer mencionou em ficarmos juntas, apesar de que uma vez me recomendou fortemente fazer a coisa com uma mulher para "saber o que é orgasmo". Palavras dela, que por mim eu também trocaria para "saber o que é a outra coisa". Confesso que a vergonha sobre esse assunto ainda me persegue, por isso não julgue a minha dificuldade em falar e escrever sobre o quanto eu queria fazer a coisa e experimentar a outra coisa.

Eu estava com 16 anos e eu queria uma coisa com amor. Não poderia pensar em coisar com Vinícius pois eu respeitava o relacionamento dele. Milena se tornou uma amiga e por mais que eu achasse ela a menina mais linda e sexy do mundo, eu não queria... e queria sabe? É difícil definir algo que é duas coisas opostas ao mesmo tempo. Milena é uma amiga para mim, mas naquela época meu corpo não obedeceu a essa catalogação. Vou tentar ser mais clara ainda: Milena ligou algo em mim, mas eu não usei com ela, aí aparece Téo na história.

Falar sobre o Téo é incômodo.  Eu era muito jovem, a gente nunca acha que é,  mas a verdade é que na segunda década de vida ainda somos inocentes, sim. Ano a ano me surpreendo com o quanto amadurecemos e percebemos algo diferente de um ano atrás. Mas olhando para trás, eu não me julgo, eu estava um conjunto muito misturado e caótico de: dor pela rejeição de Vinícius, frustração  pessoal, medo de tudo o que estava acontecendo... e tesão. Disso tudo, resultou o meu namoro com Téo. Ele era grudento e eu estava carente. Ele tinha acabado de terminar com uma garota e eu tinha levado "um fora". Nos encontramos. Duas pessoas erradas na hora errada.

Foi com ele a primeira vez que eu fiz a coisa. Gostaria de lembrar vocês que eu sempre fui uma garota romântica e que gostava de filmes, novelas, histórias de amor e principalmente final feliz. Confesso que depois do primeiro beijo desastroso, eu ainda tinha a ilusão de que ter um namorado seria incrível, mas não foi. Depois disso criei novas ilusões com minha mente de simulações, pensei que a coisa fosse uma daquelas experiências fenomenais, melhor que drogas e chocolate, e pensei que minha primeira vez seria romântica e cheio de amor, com múltiplas outras coisas como em Cinquentas tons de mentira.

Téo foi um cara legal na nossa primeira noite juntos, mas eu não gostei da experiência. Depois me arrependi de ter feito aquilo e acabei me afastando dele... o oposto do medo feminino geral, que é do cara sumir depois da coisa. Acontece que Téo era um cara que também não lidava bem com a rejeição, mas ao contrário de se fechar e sofrer, como eu, ele ficava obcecado. Descobri nessa época que ele ficou indo atrás da ex por meses depois que terminaram, só parou de incomodar a garota porque começou a namorar comigo. Pense na cilada.

Após namorarmos um mês, terminei com ele com a coragem dos que fazem isso por mensagem. Depois tive que fazer a cena do término mais duas vezes nas ligações dele que atendi, e por último, aceitei conversar com ele quando ficou na porta da minha casa por duas horas. Eu estava cansada daquela situação, então eu estava bruta como alguém levado ao limite, sem cair em suas chantagens. Hoje vejo algo interessante: Não existem atalhos para os nossos problemas. Fugindo do sofrimento por Vinícius, acabei sofrendo doses adicionais com os 2 meses que Téo esteve na minha vida.

Nunca fale sobre UnicórniosOnde histórias criam vida. Descubra agora