19.Te pego lá fora

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"Se pudéssemos ler a história secreta de nossos inimigos, encontraríamos em cada vida, tristeza e sofrimento suficientes para aplacar qualquer hostilidade."

Henry Longfellow

Eu não havia conseguido o papel de bailarina na novela das 8, isso me frustrava. Uma atriz desconhecida fazia esse personagem com tanta elegância, que logo comecei a me comparar com ela e senti a insegurança de uma iniciante. Por fora, me mostrava inabalável, todos estavam me observando e eu precisava mostrar para meus fãs que eu merecia a admiração deles.

Os fãs: as pessoas que te colocam em um pedestal e te exibem para os amigos como um modelo a ser seguido. O seu sucesso é um indicativo que eles estão certos em te apoiar e admirar, ninguém segue perdedores. Mas nem todo mundo se sentia atraído pela minha postura social perfeita. Eu me vestia bem, dava entrevistas divertidas, tinha muitos seguidores e fãs, mas eu era odiada pelos haters pelo mesmo motivo que era amada pelos meus fãs. O maldito sucesso.

Desde criança eu queria ser amada e admirada, vocês sabem. Eu pensava que ser uma pessoa conhecida e cheia de talentos faria com que todos se aproximassem, mas eu não sabia que muitos se sentem intimidados e diminuídos pela vitória do outro. Acontece com todo mundo, até comigo que estava morrendo de inveja da garota que conseguiu o papel que eu queria.

Nessa época eu percebi uma coisa curiosa. Quer que sua família te ame? Quer que as pessoas se aproximem com as defesas abaixadas? Você não quer sofrer perseguição e nem ter haters? Então seja um fracasso que você vai conseguir. A verdade é que ninguém gosta de uma pessoa que se destaca demais: a família fala mal, os primos se afastam por inveja, as pessoas começam a te odiar cada vez que você aparenta ter algo que eles não tem, ou ser além do que eles são.

Então, aparentemente eu era um sucesso, porque não havia um dia que eu não recebia nas redes sociais um comentário maldoso, ou que não recebia xingamentos por mensagens, do nada.

No colégio, eu estava sofrendo uma certa perseguição de uma garota da minha sala. Ela falava mal de mim, às vezes na minha frente, parecia que ela queria que eu ouvisse sua opinião , como se eu já não soubesse. Eu ignorava ela como ignorava os outros que me odiavam sem nem me conhecer. No fundo eu compreendia a inveja dos outros porque eu também era capaz de sentir isso. Eu mostrava compaixão pelas pessoas que não sabem controlar essas emoções destrutivas, porque eu também estava aprendendo.

Com o tempo os ataques da garota pioraram, talvez com raiva por eu ignorar as adversidades como uma profissional. Mas meu limite estava sendo testado naquela época, eu me controlava para não agir como uma louca, daquelas que aparecem na capa da revista careca segurando um guarda-chuva para bater nos paparazzi. It's Britney, Bitch! A verdade é que eu estava por um fio de explodir com ela.

A garota percebeu que falar mal de mim não adiantava, nem me chamar de "puta que dorme com os diretores para conseguir papel" me abalava. Mas um dia ela conseguiu me atingir, e nem precisou fazer muita coisa para isso. Passou por mim no intervalo da aula e jogou meu caderno no chão. Eu já estava irritada quando ela riu quando eu peguei o caderno, mas fiz isso sem dizer nenhuma palavra. Na volta dela para a carteira, derrubou meu caderno de novo, dessa vez aproveitou para deixar um "trouxa" enquanto passava. Eu disse que se ela derrubasse meu caderno de novo, eu iria fazer ela se arrepender.

Eu que me arrependi de ter feito o que ela queria. Tudo que ela buscava era isso mesmo, a minha reação. Ela queria me atingir, queria que eu sentisse a mesma raiva que ela sentia por mim. Ela passou de novo é claro, e dessa vez derrubou meu caderno e meu estojo. Como o professor estava na sala, ela gritou um "Ops, desculpa", mas seu riso era indisfarçável.

Nunca fale sobre UnicórniosOnde histórias criam vida. Descubra agora