12.Caos se aproximando

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Eu, morango e Pepe ainda éramos melhores amigos. Mesmo que eu estivesse fazendo uma novela, cheia de fãs para responder e com pouquíssimo tempo para eles. Mesmo que Pepe estivesse quase namorando e mesmo que Morango estivesse cada vez mais magra e estranha no seu próprio mundo. Apesar de tudo, sempre saíamos juntos, conversávamos (fofocas, na verdade) e, claro, experimentávamos "coisas".

Eu já tinha experimentado cerveja. Eu odiei, não senti nada diferente em mim porque um copinho com 4,5% de álcool não fazia milagres. Mas não esqueço da primeira vez que eu realmente fiquei bêbada. Pepe e Morango chegaram na minha casa com uma garrafa de tequila dourada. Eu peguei sal e limão na cozinha e começamos a brincadeira.

A primeira dose foi difícil para todos nós, mas as caretas eram engraçadas. Cada um colocou sal entre o polegar e o indicador, seguramos um limão com a mesma mão e servimos as doses de tequila. Contamos até três e cada um fez o processo: lamber o sal, tomar a tequila e por fim chupar o limão. Era divertido, mas apenas na terceira vez que eu fui conseguir tomar toda a dose, pois era muito forte o sabor do álcool.

Estávamos empolgados, rindo com o efeito que parecia maravilhoso, uma animação que nos fazia inventar novas formas de tomar a tequila, quase acostumando com o gosto. Nunca chupe o limão, tome a tequila e lamba o sal, essa ordem não funciona, quase vomitei. Quando terminamos a garrafa, estávamos completamente bêbados no chão da sala.

Engraçado como mesmo tontos, ainda pensávamos que era possível continuar com aquilo. Ligamos para outros amigos, querendo comprar mais tequila e ir para a casa de alguém, já que faltava poucas horas para minha mãe chegar do trabalho. Nós, os antissociais, agora parecíamos amigos de todo mundo, ligando bêbados para qualquer pessoa na nossa lista de contatos do celular. Queríamos continuar bebendo e rindo para que aquilo nunca passasse. Mas passou.

Os efeitos da bebida não são apenas comportamentos sociais e euforia. Aos poucos começamos a entrar numa espiral de assuntos negativos. Pepe falava da namorada que tinha ciumes de mim e de Morango, enquanto a própria Morango começou a chorar dizendo que a vida dela era horrível. Depois ela começou a abraçar Pepe e pediu para ele terminar com a namorada, dizendo que ninguém poderia ficar entre eles. Não sei como as coisas chegaram naquele ponto, mas Morango tentou beijar Pepe, que acabou empurrando ela.

Eu vi tudo sem fazer nada, estava muito tonta. Fui para o banheiro vomitar quando ouvi a porta da frente batendo, Morango tinha ido embora sem se despedir. Depois de anos de amizade, ela tentou beijar Pepe e ele recusou, eu entendia a vergonha dela e a pressa para ir embora por causa disso. No entanto, eu não podia consolá-la porque eu estava passando mal, tudo rodava e não sei como eles conseguiam discutir enquanto eu mal conseguia evitar que meu cabelo caísse no vaso sanitário.

Depois Pepe também foi embora me deixando quase adormecendo no sofá. Eu comecei a entender o que queriam dizer sobre a ressaca, pensei que estava tendo uma, mas o outro dia foi ainda pior: dor de cabeça, náuseas, minha mãe com a garrafa vazia na mão que achou no fundo do lixo (sejam mais espertos se fizerem farra na sua casa) e o pior: Morango estava no hospital.

Eu não sabia porque minha amiga estava internada e não compreendia porque a única pessoa que atendia o telefone dela era a mãe, que não me dava maiores explicações. Havia mais uma regra do mundo que eu ainda não conhecia: Nunca fale sobre tentativas de suicídio. Naquela época ainda não tinha essas campanhas como setembro amarelo e não sei mais o quê para os que tentam se matar, então digamos que aquilo ainda era um tabu e os pais de Morango não me falaram o que aconteceu. Apenas uma semana depois ela voltou para a escola e eu pude falar com minha amiga de novo.

Descobri que ela tomou vidros de antidepressivos da mãe tentado se matar e precisou fazer lavagem estomacal. Os pais (até Pepe) disseram que ela tentava chamar atenção, mas ela dizia para mim que não queria mais viver. Eu não sabia realmente o que fazer. Tudo havia mudado tão rápido, parecia que a ressaca emocional nunca mais iria passar de nossas vidas.

Nunca fale sobre UnicórniosOnde histórias criam vida. Descubra agora