21.Surpresas da Causa e efeito

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A vida é imprevisível, mas as pessoas não. Durante alguns meses me afligi com o processo de agressão da menina que eu dei um soco no olho. Gente, não lembro de ter mirado, não lembro de nada daquele momento, só de como me senti nos meses seguintes: preocupada. Aquilo poderia custar todo o dinheiro que eu tinha guardado dos meus trabalhos na televisão. Não adiantava tentar meditação, aquilo me angustiava.

Mas as reviravoltas da vida não podem ser previstas, já falaram que o bater de asas de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo, mas prefiro dizer que qualquer ação pode causar consequências imprevisíveis e não lineares. Até mesmo uma ação ruim pode ter um ramo distante de efeito benéfico. Há vários casos que merecem ser vistos para nos motivar a recomeçar a vida não importa o que aconteça, como o caso da Oprah, por exemplo.

No meu humilde caso, meus fãs me apoiaram nesse momento em que minha carreira era destrinchada nos programas de fofoca e na internet. No momento cultural em que humilhar os outros na internet é divertido, muitas pessoas fizeram memes de mim com uma imagem de garota fútil e rebelde, a versão brasileira e feminina de Justin Bieber na sua pior fase. Porém muitos fãs me procuraram para saber minha versão, procuraram me entender sem julgar e isso fez uma diferença muito grande para mim. Pela primeira vez me conectei com as pessoas através da compaixão e da empatia.

Depois de uns 30 dias chorando todo dia, eu comecei a superar a imagem ruim que faziam de mim. Me concentrava nas dezenas de pessoas que me apoiavam com mensagens de carinho, que conversavam comigo e me mandavam cartas e presentes, como se eu fizesse uma real diferença na vida delas. Com isso nasceu em mim uma vontade de contribuir com algo bom para a humanidade, ser alguém melhor.

Eu não esperava um final feliz, mas as coisas começaram a mudar quando minha hater me procurou depois de alguns meses, propondo desistir da ação judicial contra mim. Ela disse que a ideia foi dos pais dela, e que agora ela não queria mais que meus fãs e jornalistas a procurassem. Desistiria do processo em troca do meu pedido de desculpas público, em carta aberta com direito a eu assumir meus erros. Aceitei, faria de tudo pelo fim daquilo.

Ela exigiu que eu falasse que tive um acesso de raiva e dei um soco nela, mas que eu estava arrependida e fazendo tratamento psicológico para controlar meus problemas. Bem, eu já estava fazendo tratamento há anos mesmo, o problema era mentir que eu tinha toda a culpa do incidente, mas resolvi que o fim daquela situação e a economia de dinheiro valia a mentira e a má reputação, lidaria com isso.

Pensei que minha carreira estava arruinada depois disso. Anos tentando me adequar à sociedade e construindo uma boa imagem com as pessoas, anos desperdiçados. Comecei a pensar em uma nova profissão, algo que eu pudesse ajudar os outros, pois eu estava com essa ideia de recomeçar. A palavra que me definia nesse período é resignação, eu comecei a me esforçar para não sofrer quando via meus problemas de bulimia, briga de escola, descobertas de fotos minhas bêbadas e algumas mentiras, circulando na mídia.

Não posso dizer que minha serenidade nessa época veio de meditação, porque eu não conseguia fazer isso. Mas confesso que eu estava começando Yoga e enquanto concentrava nas assanas, que são as posições, eu podia sentir uma leveza mental que talvez era o que Vinicius queria me ensinar com a meditação.

Acredito que nos momentos difíceis da nossa vida, precisamos fazer algum exercício físico que nos exija concentração, porque isso nos libera do estresse de ficar pensando o tempo todo nos nossos problemas. A paz vem de dentro de nós, não das situações, então é possível sentir paz em qualquer momento da nossa vida.

Em um fim de tarde fazendo yoga, meu telefone tocou e pensei em não atender, mas a insistência me convenceu e gerou curiosidade. Era um famoso diretor de televisão da maior emissora do país, me convidando para fazer parte da novela das 9h como uma personagem de destaque. Minha má reputação inspirou o autor da novela e fazer uma personagem rebelde, rica e famosa. Eu praticamente faria um papel sobre mim mesma (mas eu não era assim de verdade, vocês sabem).

Então, eu estava prestes a completar 16 anos, alcançando um novo pico na minha carreira com o convite para um personagem importante. Teria algum problema atuar em uma personagem que  foi baseada em uma falsa versão de mim? Fingir ser mesquinha, esnobe e rica fazendo piada da maneira como as pessoas já me veem, seria uma boa ideia? A pergunta mais importante era: eu queria continuar sendo uma atriz?

Nunca fale sobre UnicórniosOnde histórias criam vida. Descubra agora