#CAPÍTULO 22

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Apesar de está liberado pelo médico para circular pela casa, Severiano permaneceu, essa tarde, no quarto. Ordens de dona Consuelo que regulava os passos do marido.

Então, encaminhou-se até à janela (afim de sentir um vento fresco), e viu a filha nas pernas do marido, estavam beijando-se... Não! Estavam devorando-se! Ou melhor, Frederico devorava Cristina. Sorriu, era lindo o amor dos dois, ficava muito feliz por Cristina viver um amor de verdade.

Finalmente a via com um homem, durante muito tempo fantasiou a filha casada, lhe dando netos... Mas o tempo passou e Cristina continuava solteira, até que fez o trato com Frederico. Agora tudo se encaminhava direitinho mas não podia permitir que aqueles atrevidos dessem um espetáculo no jardim para qualquer um, que por ali passasse. Por isso gritou, repreendendo-os. Observou como Cristina, rapidamente, ajeitava a blusa. Ela olhava, nervosa, para todos os lados e não via ninguém. Severiano balançou a cabeça, recuou uns passos.

Quando Cristina levantou o olhar, viu apenas a cortina balançando e soube que o pai esteve ali. Não o vira, mas sabia que era ele pela voz.

— Oh! Que vergonha — ela levantou, abruptamente. — Papai me viu assim...

— E o que tem? Somos marido e mulher.

— Mas isso não está certo!
— ela andava de um lado para o outro, nervosa. — Essas coisas tem que se fazer na intimidade de nosso quarto. 

— Cristina, pare com isso...

— Um dia é a mamãe... a Vitória... que nos pega e no outro, o papai. Que vão pensar de mim?

Frederico lamentou não poder enxergar e assim pegá-la ao corpo e fazê-la calar com um beijo apaixonado. Limitou-se a cruzar os braços atrás do pescoço, fechar os olhos e relaxar enquanto Cristina tagarelava sozinha.

>>> Longe dali, um casal discutia aos berros. Eram Ernesto e Estela. O capataz havia ido reclamar-lhe por ter revelado a verdade à Cristina e por tê-lo usado.

Estava tão furioso que quando ela ousou gritar-lhe à cara que não era homem na cama, deu-lhe um tapa tão forte que a boca feminina sangrou. Com medo, fugiu correndo. Sabia que não podia mais permanecer na fazenda;

Cristina e Frederico também iriam procurá-la para acertos de contas, por isso recolheu seus pertences, pegou um dinheiro que tinha guardado e foi embora, jurando voltar para a vingança final.

>>> À noite, antes da janta, Cristina deu falta da empregada.

— Onde está Estela? — ela perguntou à Vitória. — Essa situação não pode continuar. Teremos que mandá-la embora.

— Não será preciso, dona Cristina — Vitória respondeu. — Quando fui chamá-la para ajudar a servir o jantar, não a encontrei. Assim como também não encontrei seus pertences. O quarto estava vazio. Estela foi embora.

Cristina não espantou-se. Esperava mesmo essa reação da criada. Queria ela bem longe da fazenda e, principalmente, de Frederico. Desejou que encontrasse um bom caminho e não voltasse para implorar perdão. Assim não sujaria as mãos com algo que detestava.

— E porque Estela foi embora? — perguntou Severiano que vinha baixando pela escada com auxílio de Consuelo.

— Não sabemos, papai — Cristina achou melhor não comentar mais nada. Severiano já tinha seus próprios problemas.

— Talvez estivesse enjoando da fazenda.
Ela foi até Frederico que estava no sofá, apenas ouvindo a conversa sem se meter, ajudou-o a levantar e o guiou até à mesa do jantar.

Frederico quase não comeu. Era difícil manejar os talheres estando cego. Foi Cristina quem o ajudou.

Tão carinhosamente levava à boca do marido, pequenas porções de comida. Severiano e Consuelo trocavam olhares cúmplices. Ambos contentes por aquele matrimônio unido.

DOMANDO A FERAOnde histórias criam vida. Descubra agora