Lillian.
A neve praticamente cobria a cidade de New York quando empurrei as cobertas e desisti de tentar dormir. Ainda de pijamas e meias, graças ao aquecedor que tornava isso possível, levantei da cama. Encarei minha aparência no espelho do banheiro, encontrando uma versão horrível de mim mesma. Olheiras profundas, palidez e desânimo eram visíveis.
Fui até a cozinha, acendendo apenas a luz daquele cômodo para não incomodar o sono de Hayden e Ava, a Brown do meio, que resolvera passar uns dias comigo. Como residente do terceiro ano de medicina, com forte predileção pela cardiologia, ela era uma versão loira e praticamente zumbi de Cristina Yang, especialmente na quantidade de horas de sono.
Procurei pelas prateleiras da cozinha até encontrar uma caixinha de chá e um recipiente para ferver água. Coloquei o pequeno bule no fogo e peguei um dos sachês de chá de hortelã. Sentei na bancada alta esperando que a água chegasse à temperatura de fervura e torcendo para que a bebida me ajudasse a dormir.
Desde que deixei Aaron no meu apartamento, eu não conseguia dormir direito. Em parte porque estava muito triste e, em parte, porque me sentia culpada. Por tê-lo deixado para trás, por ter a certeza que estava fazendo a melhor pessoa que eu conhecia sofrer por achar que tinha sido abandonado.
Honestamente, eu não sabia dizer se doía mais a ciência de ter destruído o que demoramos tanto para construir ou o fato de que ele não havia me procurado. Nenhuma mensagem, ligação ou tentativa de contato. É claro, eu não podia exigir isso dele. Para Aaron, eu apenas tinha ido embora sem me preocupar com ele. Talvez ele achasse que eu nem o amava. Talvez... Eu não podia exigir que ele viesse atrás de mim, ainda que, lá no fundo, eu quisesse estar lotadas de e-mails, mensagens de texto e ligações perdidas. O silêncio era o pior de tudo.
Seguindo pelo caminho oposto, Max tinha me mandado algumas mensagens. As primeiras, eram desesperadas perguntando onde eu estava, se estava tudo bem, porque eu tinha ido embora. As últimas falavam sobre como Aaron estava destruído e como Max não sabia o que fazer para recuperá-lo.
Aaron tinha que seguir com a própria vida. Eu sabia disso. O que não me impedia de, às vezes, pensar o que ele estava fazendo. Estaria triste e desolado? Estaria seguindo com a vida como se nada tivesse acontecido? Estaria se afogando em bebida, como fez no casamento de Olive?
Encarei o plano de fundo do meu celular por um segundo. A foto só me lembrava de algo que eu tinha perdido. Eu o estava abraçando pela cintura, dando um beijo em sua bochecha, enquanto ele, com um braço protetor sobre meus ombros, sorria abertamente para a câmera. Eu sorri olhando para a foto, constatando o quanto sentia falta dele. Eu não podia abrir mão de Aaron Parnell e deixar Freya Mason conseguir o que queria. Eu só não sabia o que fazer.
Afastei meus pensamentos de Aaron para colocar a água fervente em uma caneca e afundar o sachê de chá no líquido. Observei com paciência a água tomar uma coloração esverdeada e o cheiro de hortelã invadir a cozinha. Fechei os olhos, me deixando ser guiada pelo olfato enquanto o chá atingia a concentração desejada.
Foi então que meu celular vibrou, me tirando do transe. Tirei o sachê de dentro da água e o joguei na lixeira antes de pegar o celular e visualizar uma notificação de mensagem, cujo remetente era Asher Baker. Ao constatar tal fato, senti o coração acelerar levemente. Eu não falava com ele há semanas e agora ele estava me mandando mensagens no meio da madrugada?
Toquei no ícone.
Asher:
Lillian, o que está acontecendo? Que história é essa de que você foi embora?
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Sem Você (Concluído).
RomanceSe a regra é que o casamento é o final feliz de qualquer história, Aaron Parnell com certeza é uma exceção - até porque estamos falando do casamento do amor de sua vida e ele não é o noivo. Decidido a não ter que conviver todos os dias com o casamen...