Capítulo Treze - Não (Parte 01).

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Aaron.

Ela não estava lá quando eu acordei.

Ela simplesmente não estava lá quando eu acordei.

Em seu lugar, um bilhete fajuto pedindo desculpa. Desculpa.

Lillian Brown havia me quebrado e, talvez, pela primeira vez, eu estivesse tão destroçado que não sabia por onde começar a juntar os cacos.

Desculpe.

Desculpas não eram capazes de consertar o que havia sido destruído. Eu havia sido destruído.

Naquela manhã, quando acordei e vi a cama vazia e um bilhete pedindo perdão, eu não quis acreditar. Eu vasculhei em cada canto daquele apartamento à procura da piada de mau gosto que Lillian havia contado. Vasculhei cada cômodo na esperança de encontra-la vestindo nada mais que uma calcinha e minha camisa, mas, tudo o que encontrei foram seus armários vazios, um bilhete rasgado jogado no chão e sua ausência.

O bilhete rasgado dizia que ela me amava.

Que jogo doentio Lillian estava jogando? Em que universo ir embora sem explicação, me deixar sozinho no meio da madrugada e sequer avisar para onde está indo pode significar amor?

Eu não conseguia entender. Era difícil demais tentar encontrar uma explicação plausível para o inexplicável. Ela tinha ido embora. Sem dizer adeus. Sem dizer que havia acabado.

A sensação de ter amado sozinho todo o tempo em que ficamos juntos me atingiu com a força de um furacão. Eu havia me apaixonado sozinho. Amado cada toque. Cada detalhe. Cada sorriso. O jeito como uma covinha surgia em sua bochecha sempre que ela sorria. A careta engraçada que ela fazia quando não entendia as fórmulas que eu lançava no quadro. Seu perfume. Seu humor. Sozinho. Ela nunca tinha sentido nada disso, enquanto eu fiz dela o mais importante.

Eu me permiti chorar, naquele momento. Fiz minha mente projetar cada cenário possível, tentando encontrar uma razão para o que estava acontecendo. Era como um loop, e eu sempre acabava no mesmo local: ela não havia sentido nada. Eu fui algo, enquanto ela foi tudo.

Sentei no chão do quarto, que ainda estava preenchido pelo cheiro feminino familiar, sabendo que eu ainda a amava. Eu estava com raiva, com ódio, desolado, mas, no fundo do meu ser, eu sentia que a amava. Nada tinha mudado quanto a isso.

Percebi que nunca havia amado Freya, tampouco Olive. Eu podia ter gostado delas, até eventualmente me apaixonado, mas, amor... Isso era o que eu tinha com Lillian. Era completamente diferente.

E por isso eu chorei. Chorei como não chorava há muito tempo. Solucei, perdi o ar. Puxei o lençol para ficar perto do seu cheiro. Minha cabeça doía por causa da raiva e da força que eu fiz para colocar tudo para fora.

Mas, eventualmente, eu parei de chorar. As lágrimas acabaram. Os soluços cessaram. O ar voltou. Prometi para mim mesmo que não choraria por ela de novo. Se tudo significou tão pouco para ela, eu não podia fazer nada. A vida seguia, com ou sem Lillian. Eu sobreviveria.

Levantei do chão e encarei o bloco de post-its onde ela havia escrito o bilhete. Havia uma chave ao lado e uma caneta.

Desculpe. Lillian.

Segurei o pequeno bloco nas mãos e encarei aquelas duas palavras por um momento. Doía tanto que eu ri. Peguei a caneta e, embaixo de sua assinatura, escrevi:

Não.

Aaron.

Vesti as roupas da noite anterior e saí do apartamento de Lillian. Tranquei a porta e enfiei a chave por baixo da mesma, pelo pequeno vão entre ela e o chão.

Sem Você (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora