Capítulo Quatorze - Anestésico (Parte 01).

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Aaron.

Olhei para Bonnie, notando que seus olhos eram castanhos. Ela continuou me encarando e, após alguns segundos de um silêncio definitivamente constrangedor, entendi que ela esperava que eu me apresentasse.

— Aaron Parnell. — Disse. Pensei em estender minha mão para ela, mas, o sangue e os nós dos dedos todos machucados não faziam essa opção parecer a melhor.

Ela jogou a bituca de cigarro no chão, pisando em cima dela na sequência, para apaga-la.

— Bom, Aaron Parnell, eu quero te dizer duas coisas. — Ela puxou outro cigarro de dentro da carteira, refazendo o processo anterior de acendê-lo e levá-lo aos lábios. — Primeira: eu sou residente no National Hospital. — Olhei para ela, levemente confuso, enquanto ela assoprava fumaça — Segunda: Eu tenho certeza que esse corte no seu rosto precisa de pontos; Terceira: talvez eu esteja bêbada demais para suturar seu corte, mas, posso tentar antes que você fique com uma cicatriz horrorosa.

— Foram três coisas. — Disse, recebendo de Bonnie um olhar que claramente dizia "sério?". — Talvez eu esteja bêbado demais para me importar se você está bêbada ou não.

Ela sorriu e tragou o cigarro mais uma vez. Notei que seu batom vermelho deixava marcas na pequena haste branca.

— Você vai me machucar? — Arqueei as sobrancelhas diante de sua pergunta. — Assassinar? Estuprar? Qualquer coisa que tenha uma correspondência no Código Penal? Você tem ficha criminal?

— O quê? — Perguntei, totalmente confuso.

— Pelo carimbo na sua mão, eu sei que você estava dentro da Kahlua e não praticando um assassinato ou sei lá. — Olhei para a pequena lua egípcia azul escura que havia sido marcada em minha mão antes de eu entrar na boate — Mas, você continua sendo um bêbado, cheio de sangue, sentado na calçada. Eu estou sozinha com você. São perguntas bem razoáveis.

Dei uma risada. Ela tinha um ponto.

— Se te ajuda, eu sou professor de química na Faculdade de Boston. — Disse enquanto a garota procurava traços de mentiras nas minhas reações. Peguei a carteira no bolso e estendi o cartão magnético de acesso do laboratório, onde constavam as informações "Laboratório II. Aaron Parnell. Química." junto com uma marca d'água com a logomarca da faculdade. Bonnie o analisou por um segundo. — Não tenho ficha criminal e você está segura comigo.

Ela me devolveu o cartão, jogando o segundo cigarro, ainda inacabado, sobre o anterior e pisando nele. Levantou-se da calçada com muita elegância para alguém que alegava estar bêbada e jogou os cabelos para trás, por cima dos ombros.

— Ótimo! — Ela disse e estendeu a mão. — Vamos até a minha casa para eu poder cuidar de você.

Segurei a mão pequena e fiquei de pé. Ela chamou um táxi enquanto eu deixava uma mensagem na caixa postal de Max, avisando da briga e que eu estava indo para a casa de alguém levar alguns pontos, mas, que estava bem.

Em alguns minutos, eu estava dentro do banheiro do apartamento de Bonnie. Todo o local era muito branco, do azulejo até os móveis, com alguns detalhes metalizados. Observei a garota distribuir alguns utensílios no espaço vago na bancada da pia, que não era muito grande, dada a quantidade de produtos de higiene e cosméticos. Ela tirava tudo de dentro de uma caixa lisa de metal e depositava em ordem sobre uma toalha branca. Assim que tirou cinco ou seis objetos de dentro da pequena caixa, abriu uma gaveta e pegou um kit de primeiros socorros, de onde tirou um pacote de gaze.

Sem Você (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora